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sexta-feira 29 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O pardal criminoso

Hoje (na verdade terça), acordei com uma pequena estória na cabeça. É uma estória meio maluca, sabe? Mas, vou pedir licença para contar essa doidice sobre o reino animal.

Olha só o que aconteceu com o pobre pardal que, na verdade, de bobo não tem nada. Ouvi dizer que ele até gostaria de tomar o poder no reino da bicharada. Ah, mas aí é difícil, ouvi dizer que aqui no Brasil (à exemplo da África) tem muito lobo, hiena e leões à solta (quem diria, né?) e, também, o país verde e amarelo é rico daquele peixe…como é mesmo o nome? Ah, sim, lembrei…Traíra.

Bom, continuando a estória, em uma manhã de sol reluzente no céu azul, lá estava ele à sombra de uma árvore curtindo aquele calorzinho gostoso e a brisa suave quando, de repente, terríveis urubus o cercaram.
— Senhor pardal, o senhor está preso.
Você pode imaginar o susto do coitado do pardal? (Que, aliás, nem é tão coitado assim).
Ele quase se borrou e com um canto hesitante, assustado e gaguejante falou.
— Preso? Mas, porquê? O que eu fiz? Estou quietinho aqui, curtindo o calor e ouvindo o canto do meu amigo canário.
Então, o chefe dos urubus, que era o maior e mais feio deles, falou em tom autoritário.
— O senhor está preso por cometer um crime hediondo.
— Cri-crime hediondo? Hediondo? O que é isso? Não sei do que se trata.
(E olha que já deve ter ouvido isso antes…ha ha ha).
O abutre sorriu, ou melhor, fez uma careta.
— Crime hediondo é o pior, o mais grave e horrível tipo de crime.
— Mas, mas…eu não fiz nada parecido com isso, eu juro.
— Fez sim. O senhor falou mal dos poderosos morcegões e isso é proibido. Eles são soberanos, intocáveis, Deuses aqui no reino animal, então, não se pode falar mal deles.
O pardal chorou.
— Quero meu advogado.
Os nervosos urubus nem lhe responderam e o pardal foi levado com as asas algemadas.
Aí a coruja se apresentou como advogado e o pardal, chorando, comentou.
— Não fiz nada errado.
— Eu sei pardal. O seu erro foi falar aquilo que muitos gostariam de dizer, mas sabem que não seria inteligente.
— Mas, os morcegões tem moral pra me prender?
— Eles tem poder para isso. Fazem parte do conselho supremo do reino da bicharada.
O pardal tentou argumentar.
— Mas, como? Esse que me mandou prender, no passado defendia as gralhas, ladras desprezíveis.
A coruja deu um sorrisinho dissimulado.
— Pois é, pois é…mas, deixa isso pra lá, melhor não comentar sobre isso, também não é inteligente e, por favor, tenha calma pardal, ouvi dizer que o conselho nacional de corruptos está se mobilizando para defende-lo.
O pardal riu aliviado. Como é bom morar no Brasil.
E assim, a vida vai. E assim seguimos.
Estranho, né?
Nossos bichos estão com muitas manias humanas, acho que estão sendo meio…como posso dizer… humanizados.
E os morcegões seguem tentando tomar conta do reino da bicharada.
E, aliás, sempre pensei que roubar era crime. Viva o País da impunidade!