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segunda-feira 25 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O iate

Nessa última segunda-feira, por motivos de serviço, fui até Ubatuba, mas aquela cidade é mágica e, lógico, depois das atividades profissionais concluídas, lá fui eu tomar uma cerveja na areia, à beira mar, que delícia. Acho que é difícil encontrar algo melhor que olhar o mar infindo, sentir a brisa salgada, pés na areia e oh, meu Deus é muito bom.
Empolgado com aquele momento mágico, especial, maravilhoso, me lembrei de um texto meu, muito legal, que gosto muito e resolvi colocar aqui. Aí vai…

“Logo cedo, meu motorista segue para a bela Ubatuba. Vou no banco de trás, no melhor estilo senhor todo poderoso. Abro o vidro e me permito respirar fundo, sentindo o cheiro da manhã. A viagem transcorre bem, quase não tem trânsito e logo chega a íngreme, perigosa e assustadora serra de Ubatuba que nem é tão perigosa ou assustadora assim. Creio que seja mais fama espalhada por motoristas inexperientes que, aliás, não é o caso do meu motorista particular que, mesmo com visibilidade baixa, fez tranquilamente as curvas acentuadas.

O cheiro da Serra envolve meu nariz e sorrio, mas em um piscar de olhos, termina a serra e logo pegamos a Rio-Santos, tudo muito rápido, deve ser a força do motor. Sigo em direção ao Saco da Ribeira onde está meu maravilhoso iate. Nem percebi e já estou passando pela linda praia grande que, como sempre, muito movimentada. Prefiro mais a paz e o sossego e o melhor lugar para isso é em alto mar, embalado pelo doce balanço das ondas, olhando o céu azul, vendo o delicado voo e mergulho certeiro dos albatrozes ou, ainda, as brincadeiras dos golfinhos saltando para fora da água. Ah, isso sim é relaxar. Isso sim é tranquilidade. Quem sabe até, com um pouco de sorte, vejo uma baleia azul com seus, talvez, 25 – 30 metros de comprimento e as suas inacreditáveis 170 toneladas. Por duas vezes tive a oportunidade de ver a colossal baleia azul. Mas, não me lembro exatamente do momento e nem onde havia sido. É estranho, será a idade? Estarei perdendo a memória? Mas, enfim, o que importa?

Enfim, Saco da Ribeira e meus funcionários se aproximam para me ajudar a descer do carro.

Não preciso me preocupar, meu motorista vai estacionar o carro. Já estou subindo no meu iate gigantesco. Me vejo sentando em uma cadeira ao lado da piscina do iate e o garçom já aparece trazendo meu vinho Francês preferido, feito de uvas Cabernet Sauvignon, minha preferida.

O comandante pergunta se podemos sair e com um aceno de cabeça, autorizo a partida.
Olho meus convidados, pessoas lindas…muitas…alguma banda toca ao vivo e me lembro do Titanic. Um arrepio percorre meu corpo e trato de espantar. Quero sossego, paz, bebidas, mulheres, música, sol, céu azul e mar, mas ainda faltam os albatrozes, golfinhos e a baleia azul.

O garçom me traz outra taça de vinho com petiscos maravilhosos e sorrio, sou poderoso.
Chegaram os golfinhos e a galera faz festa. Ouço ao longe o canto dos albatrozes, eles estão chegando. Falta a baleia!
Sinto o delicioso balanço do iate, provocado pelas ondas, mas cadê a baleia?

Sou poderoso e meu pedido é uma ordem, ela tem que aparecer e me imaginei pedindo a baleia para o meu garçom. Ela viria em uma travessa de ouro de 30 metros de comprimento.
E eis que ela surge, imponente. Agora está completo. Peço mais uma taça de vinho.

Estamos em alto mar, quero paz. Levanto a mão, todos silenciam e a música para. Meu momento mágico, único. Tudo o que queria está ali e desfruto aquele momento com prazer.

O silêncio só é quebrado pelo barulho das ondas no casco do iate e pelo canto dos albatrozes.
Silêncio, céu azul, sol e mar…

Mas, Epa? Os enfermeiros chamam meu nome e desperto do meu transe. Cadê a banda? O vinho Francês e os petiscos? Cadê os albatrozes, golfinhos e a baleia azul? Cadê o iate e o mar?

Não estou à beira da piscina e nem em uma cadeira de praia. Caminho lentamente com os enfermeiros que me levam para tomar sol no pátio do hospício”.
Ai ai ai ai ai ai