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quinta-feira 19 dezembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O garoto e a pipa

Ele sai correndo para o campinho, olha para o céu azul, para o sol e para as árvores que balançam ao sabor do vento e sorri feliz.
— Que belo dia para empinar minha pipa azul e branca em seu voo de estreia.
Férias, diversão, alegria, pipa, sol, vento, liberdade.
Com um enorme sorriso estampado, chega ao campinho, mal cumprimenta os amigos e já desenrola a enorme rabiola e começa a dar linha para a querida pipa. Ela sobe rápido e fácil e o garoto observa a enorme rabiola com trechos de fitinhas azuis, depois fitinhas brancas, azuis, brancas e terminando com as azuis. Essa alternância produz um belo efeito no ar e tem um motivo para o azul e branco, são as cores da sua querida Taubaté.
A linda pipa, altaneira e soberana, sobe mais que todas e parece pedir para ser “dibicada” e basta o garoto mexer na linha com certo jeito e lá vai ela para um dos lados. Ele puxa a linha com força e ela se projeta como um bólido naquela direção. Perfeita. Solta um pouquinho de linha e mexe com “aquele jeitinho” e ela, obediente e dócil, volta ao local certo e o rosto do menino se ilumina em um amplo e cativante sorriso, pura felicidade. E ele murmura.
— Ah, não existe nada melhor do que empinar pipa.
Ela é linda, é boa, “dibica” fácil e causa frisson, desejo e inveja aos outros garotos.
O vento bagunça os cabelos rebeldes do garoto que, com olhar fixo na pipa, parece estar em êxtase, ou transe. Nada mais importa, a felicidade está ali, naquele momento.
O tempo passa e o garoto nem percebe, afinal, está em um de seus momentos mais felizes, fazendo o que mais gosta, empinando pipa.
O céu está repleto delas, pipas grandes, pequenas, multicoloridas, lindas, com rabiolas grandes ou pequenas, pipas que vão para um lado, para outro, se enroscam e desenroscam fazendo a felicidade inocente da criançada. E o campinho parece um formigueiro, lotado de crianças que brincam, sorriem, gritam, soltam gargalhadas, são felizes e se realizam.
De longe, a mãe chama o garoto para o almoço e ele a olha decepcionado.
Como pode o tempo ter passado tão rápido? Já é hora do almoço.
Obediente e entristecido, enrola a linha e retira do céu, a sua alegria, a sua razão de ser.
Enrola a rabiola carinhosamente em volta da pipa e corre para casa.
Come tudo o que a mãe manda, sem reclamar, melhor não se arriscar a contraria-la, vai que ela decida não deixa-lo sair mais.
Apressado, lava toda a louça do almoço, enxuga e guarda e olha ansioso e apreensivo para a mãe que sorri divertida com a expectativa do garoto. Ela o libera e lá vai ele, de volta para o campinho, para a alegria, de volta para o vento, para o sol, para os amigos e para sua pipa.
Tinha a tarde inteira pela frente, aliás, tinha as férias inteiras pela frente, dispunha de muito tempo para se divertir.
Mas, o tempo, ah o tempo, esse ingrato, como passa rápido quando fazemos o que gostamos.
A tarde acabou, manhãs e tardes seguintes também, dias passaram, a semana acabou e, sem que o garoto percebesse, as férias acabaram.
— Meu Deus! As férias acabaram? Como? Nem me diverti direito.
Na manhã seguinte, o garoto levanta para o primeiro dia de aula. Queria ir para o campinho empinar pipa mas, agora era hora de ir pra escola rever os amigos, ver os professores, aprender coisas novas, estudar e torcer para que o tempo, esse ingrato, novamente passasse rápido e as próximas férias chegassem logo.
E o escritor sentiu saudades de sua infância e se viu no garoto do artigo.
Boas e grandes lembranças de tempos que não voltam mais.
Mas, ainda assim, sorrio. Vivi esse tempo, me diverti, fui muito feliz e fiz minha história que hoje relembro e que me fazem sorrir e, às vezes, até chorar.
Gostaria muito de colocar minha pipa azul e branca novamente no céu. Pura essência da liberdade e da felicidade.
Mas, o tempo…, ah, esse ingrato, passou.