Esse inexplicável e indescritível sentimento de paixão por um time de futebol, esse amor exacerbado, mais que exagerado e injustificável. Amor platônico que ultrapassa barreiras do “normal” e do compreensível, isso se chama de fanatismo.
Certo? Errado? Trata-se de uma paixão, então, o que é certo e o que é errado? Esse é o amor, absurdo, por um time. Paixão desvairada difícil de entender mas, o torcedor apaixonado, aquele que acompanha desde criança um time, assiste seus jogos, sofre, comemora suas vitórias, chora suas derrotas, veste a camisa do time, compra chaveiros e objetos do time de seu coração, recorta e guarda fotos do seu time, coleciona posters e faixas de campeão, aquele que faz loucuras inimagináveis pelo seu time, esse sabe o que significa esse amor.
E como qualquer outro “doente” por futebol, eu também já fiz loucuras pelo meu time e cada loucura, meu Deus do céu. Lembro, hoje com sorrisos sem graça, de uma vez em que chutei a parede, de raiva do meu Tricolor ter tomado um gol no final da partida. O resultado? O time perdeu de qualquer jeito e, no dia seguinte, fui ao médico com muita dor no pé.
E teve mais loucuras, muitas mais, mas de todas, a maior foi em uma quarta-feira à noite, 07/03/2001, quando o Tricolor venceu o Botafogo do Rio por 2×1, de virada, dois gols do moleque Kaká e se sagrou, pela primeira vez, campeão do extinto torneio Rio-São Paulo.
Nessa época, eu trabalhava em uma multinacional, na cidade de Sumaré (perto de Campinas), e morava em Americana. Casado e pai de um garoto de quatro anos.
Fui ao Morumbi em uma van de torcida do Tricolor. Desde a saída, muita festa, alegria, cantos da torcida e hino do time, rojões explodindo e gritos de guerra. E é incrível a energia da torcida. Você se empolga, entra no clima e se transforma em um guerreiro vestido com as cores do time. Bebida e “outras coisas” rolavam soltas, mas me limitei as cervejas, não me deixei levar pelas caipirinhas, cachaça e “outras coisas”.
Viajávamos sem os ingressos, já haviam acabado nos postos de venda. O combinado era, primeiro, passar em uma casa, lá em São Paulo, para pegar os danados que alguém teria comprado antecipadamente e, ciente disso, seguimos, em meio a empolgação, para a cidade de São Paulo. Apesar dos tropeços no decorrer do torneio, estávamos confiantes no título, afinal, tivemos uma grande vitória no primeiro jogo das finais, lá no Rio, um sonoro 4×1.
Chacoalhamos o Fogão em pleno Rio de Janeiro.
Chegamos em São Paulo, fomos até a “tal” casa pegar os ingressos e…estava vazia. Durante vinte minutos, batemos palmas, chamamos, tocamos campainha e ninguém apareceu.
Desesperados, seguimos até o Morumbi sem ingresso mesmo. A ideia era tentar comprar de cambista. Errado? Sim, mas fazer o quê? E torcedor querendo ver ao jogo consegue raciocinar?
Chegamos ao Morumbi e eu agoniado, com medo de perder o jogo. A van passava lentamente em frente ao estádio, quase na hora do jogo, e vi um homem vendendo ingresso. Não pensei duas vezes, pulei da van e corri até ele, ingresso da geral, onde se via o jogo em pé. Hoje não é mais permitido isso. O preço era absurdo, igual ao do espaço nobre do estádio. Não quis nem saber, queria é ver o jogo. Comprei o ingresso e fui assistir o meu Tricolor em pé mesmo.
Botafogo marcou primeiro e o Tricolor, com dois gols do jovem Kaká, virou o placar.
Jogo acabou, São Paulo campeão, delírio total, e empolgado com o título e com a torcida, fiz a maior loucura de minha história como torcedor e…pasmem…invadi o campo. Olha só! Dá para acreditar? Pulei o murinho, e lá vou eu comemorar o título nos gramados do sagrado Morumbi. Corri, pulei e até arranquei um pouquinho da grama para guardar de lembrança. Depois de vinte minutos de festa, hora de ir embora e a ficha caiu…onde estaria a van e o pessoal? Como voltar para Americana? Sozinho, não tinha mais ônibus, saí do estádio, peguei um táxi e gastei uma grana absurda para voltar para casa, mas estava feliz.
O Tricolor havia sido campeão! Viva o futebol!
“Crônicas e Contos do Escritor” – O fanatismo
abr 23, 2021RedaçãoCrônicas e Contos do EscritorComentários desativados em “Crônicas e Contos do Escritor” – O fanatismoLike
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