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sábado 16 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O adeus da Ford

E, alguns dias atrás, veio a confirmação que nos deixou tristes, preocupados e, como não dizer, revoltados. A Ford confirmou as demissões e está nos deixando, depois de um século de presença e lucros no mercado Brasileiro.

Além da tristeza e preocupação pelo tamanho da tragédia financeira de milhares de famílias, ainda vem a tristeza por ver um símbolo de Taubaté nos deixando. Meu saudoso tio e padrinho trabalhou ali, meu irmão mais velho trabalhou ali (e jogou no time da Ford) e muitos amigos e conhecidos trabalharam e aposentaram na unidade de Taubaté.

Me lembro que fiz estágio na antiga, e fechada, fábrica da Ciquine Plasbaté (outra tristeza), que ficava ao lado da Ford e quantas vezes olhei para o prédio da gigante Americana admirando sua imponência e agora, tudo está acabando.

A Ford, chegou à conclusão que o Brasil não é mais um mercado para ganhos financeiros. Não sabemos, e provavelmente nunca saberemos, todos os exatos motivos e implicações que levaram a Ford a nos deixar, mas é muito triste e revoltante isso. Ganharam muito dinheiro e agora vão embora, deixando na mão muitas famílias que dependiam do trabalho na empresa.

E boatos sobre os problemas da empresa já vinham de algum tempo, em fevereiro de 2019, anunciaram o fechamento da histórica fábrica de São Bernardo do Campo, herdada da Willys Overland, e decretando a saída do mercado de caminhões.

Houve uma época, em que o mercado fechado favoreceu as poucas multinacionais que aqui estavam, ao mesmo tempo em que prejudicavam o consumidor, controlando preços e lucros. Eram donos da situação e faziam o que queriam. Com a abertura do mercado, a concorrência aumentou e a coisa começou a mudar.

Multinacionais estavam acostumadas a grandes lucros e as coisas já não seriam bem assim.
Também, temos que considerar que a Ford, assim como muitas outras empresas, sofreu com o custo Brasil, a alta e complexa carga tributária, custos de logística, custos de funcionários, tudo isso se tornara muito pesado. Teve também, claro, a alta do dólar, uma vez que o percentual de componentes importados chega a absurdos 40% o que me deixa indignado, como pode um país desse tamanho, desse potencial, não produzir esses componentes, diminuindo essa dependência da importação?

Não dá para descartar a pandemia, é claro. Essa desgraça prejudicou os negócios de todos, empresas pequenas, médias, grandes, gigantes, prejudicou a economia Brasileira, mas também a economia mundial, então, se os negócios estão ruins em todo o mundo, porque encerrar produções aqui no Brasil? Em um país onde ganharam muito dinheiro?

Mas, iremos ouvir que são negócios, né? Então, abandonemos os funcionários, cujas famílias dependem do seu emprego, e daí, né? Ah, faça-me o favor.

Mas, também, o que precisamos entender é que precisamos das multinacionais, nos garantem empregos, evolução, produtos de ponta e tudo mais, mas era mais fácil brigar contra o “Imperialismo americano”. Era mais fácil exigir o tudo.

Vieram para o Brasil por caridade? Em hipótese alguma, vieram por lucros, claro, não são entidades filantrópicas, mas o problema era que queriam continuar com seus lucros estratosféricos e, agora, já não seria mais possível esses lucros, então, fecham as unidades e abandonam os trabalhadores à sua própria sorte.

E agora? Perdemos empresas e empregos? Quem ganhou? Ninguém, todos perderam.
Faltou colocar regras nas coisas e diminuir os custos (e lucros) dessas grandes empresas, para tentar evitar o pior.

Muitas dessas multinacionais não conseguiram se adequar e, infelizmente, acho que a Ford apenas está puxando a fila. Só espero que essa fila não seja muito grande.
E que perda para Taubaté. Adeus Ford.