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quarta-feira 25 dezembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Morceguinhos, morcegos e morcegões

Como sabemos, no mundo das crianças vivem monstros assustadores. O escuro, ah, o escuro…qual criança nunca olhou aterrorizada para a escuridão da noite?
Qual criança não olhou com desconfiança para aquela porta do armário semiaberta. E quem nunca olhou debaixo da cama, para ver se o apavorante monstro de duas cabeças não estava lá? Ou, aquele estranho, misterioso e apavorante palhaço, né? E aí está o “IT”, filme baseado no assustador romance do incomparável escritor Stephen King.

E aquele bichinho de pelúcia que parece ganhar vida? Aquele barulho na janela, no quintal ou seria na cozinha? O vento lá fora, misterioso e a noite uiva para a criança assustada.
Que vontade de correr para o quarto da mamãe.

E, além dos terríveis e fantasiosos monstros do imaginário infantil, as crianças ainda tem que conviver com diversos outros medos reais como, medo de vento, medo de chuva com granizo, de rato, de aranha, cobra, morcego e esse último, que o diga “Bruce Wayne”, o famoso personagem de Batman, o homem morcego. Um medo pavoroso, transformado em trauma e que o acompanhou até a vida adulta e, Bruce Wayne, só conseguiu vencer o medo quando resolveu enfrenta-lo e o desmistificou para si mesmo, mostrando que poderia vencê-lo, mas teria que enfrenta-lo, não tinha outro jeito, teria que enfrenta-lo.

Ah, o mundo dos adultos, que beleza não ter medo, é o que eu imaginava quando criança. Sorria, ao pensar que um dia, uma vez adulto, não mais tremeria diante de uma serpente peçonhenta, diante de uma aranha Armadeira, pavorosa com suas patas levantadas, prontas para me atacar. Imaginava que não mais tremeria diante daqueles malditos morcegos que assombravam minha casa. Morava em um bairro, onde havia um enorme matagal nas proximidades e de onde saía aqueles bichos peçonhentos e os malditos morcegos.

Ainda me lembro o pavor que me causavam seu bater de asas, as lendas que a vovó contava. Morcego, oh meu Deus. Que terror…ah, mas vou ficar adulto e o medo vai acabar? Vai?
Mas, cresci e a vida adulta chegou e, ao contrário do que imaginava, alguns medos continuaram. É lógico que não mais me preocupo com a porta do armário semiaberta, ou não olho mais debaixo da cama e nem temo o coitado do palhaço.

Barulho no quintal, na janela ou cozinha? Me encho de sentimentos heroicos e poderosos, me sinto um verdadeiro Superman, e vou conferir a razão do barulho.
Mas, não dá para não sentir um arrepio ao ver uma serpente, sei lá se é venenosa ou não. Na dúvida, não me aproximo e deixo o bicho ir embora.

Ah, a danada da Armadeira, com as patas levantadas, como a me avisar que está prestes a pular em mim, também ainda me dá arrepios. Mas, é só se afastar e deixar o bicho seguir seu caminho. É só não mexer com ela, que não te ataca. É um medo real, porém, administrável.

Mas, existe um grande e muito real perigo, os morcegos, não adianta só não mexer com eles, vão te atacar de qualquer jeito. Ah, esses animais são assustadores, perigosos, falsos, traiçoeiros, defensores de animais bandidos que, imagino eu, devem considera-los seus heróis.

E descobri que o mundo adulto também tem seus monstros, só que reais, terrivelmente reais, perigosamente reais. E, nesse insano mundo adulto, tenho saudades dos medos que sentia dos morceguinhos. Agora, o perigo aumentou, duplicou, multiplicou e os pobres morceguinhos, são agora enormes morcegões. Assustadores morcegões. Apavorantes morcegões.

Mas, deixa eu ficar quieto, nesse mundo terrível e esquisito, o melhor é ficar calado ou posso ser preso, mordido, ver o meu sangue se esvair, sugado por suas presas insaciáveis.

Posso ser condenado, talvez à uma eternidade, oh meu Deus. E, assim seguimos, como animais a caminho do matadouro, sem coragem para enfrentar nossos medos. É? É? É?

Pois é, que triste. O mundo adulto tem seus perigos e medos reais. Poderia ser tão melhor…
Ah, malditos morcegões, tão reais, tão falsos, tão perigosos e traiçoeiros.