E vamos com um conto…adoro!
O garoto saiu de casa assobiando e foi até a praia fazer o que mais gostava, ver os barcos de pesca trazendo o pescado, o resultado da noite no mar. Sonhava com aquilo, a briga com os peixes, o movimento das ondas, gritos, risadas dos pescadores, o cheiro do mar, o escuro da noite e o nascer do sol, presentes da mãe natureza.
Olhou fascinado os peixes e a multidão tentando conseguir algum por um bom preço. Seus olhos voltaram para a revoada das gaivotas e ficou admirando o voo e o barulho que os belos bichinhos faziam e se sentiu feliz. Adorava aquilo. Praia, peixes, gaivotas, mar, maresia. Gostava de tudo, até mesmo dos feios e desengonçados urubus que ficavam por ali esperando alguma sobra. Adorava ver as pessoas comprando os peixes e o sorriso largo no rosto cansado e sonolento dos pescadores. E cada um, que saía com seu peixe embrulhado, o garoto pensava se no almoço daquele dia teria peixe frito, cozido, ensopado ou assado? Sorrindo, saiu quase correndo em direção à escola e, por algumas dezenas de metros, caminhou à beira mar sentindo o inebriante cheiro da maresia. Olhava sorridente, curioso e intrigado o constante e misterioso vai e vem das ondas. Por que as águas não param? Sei lá. Balançou a cabeça e atravessou a avenida cantarolando feliz e, ao passar em frente à uma padaria, ouviu o tradicional grito de um dos garçons. — Sai um pingado.
Franziu as sobrancelhas. Sempre ouvia aquele grito e se imaginava entrando na padaria e pedindo orgulhoso o tal do misterioso pingado. O que seria? Sempre se perguntava sobre o danado. Seria uma bebida? Algo relacionado com a pinga que os marinheiros sempre falavam? Seria uma comida? Tanta coisa misteriosa nessa vida.
Fez uma careta lembrando que, certa vez, ouvira alguém falando que comeria um estranho “bife à cavalo”. O que diabos seria? Sorriu ao imaginar o bife andando a cavalo. Bom, pior seria um bife pilotando um barco e perdido em alto mar.
Entrou na escola feliz. Um dia descobriria os mistérios da vida e os do mar.
Na saída da escola, antes de voltar para casa, passou na praia e observou os turistas com seus guarda-sóis coloridos, mulheres com biquínis pequenos e jovens bronzeados com suas pranchas embaixo dos braços. Caminhou decidido para um canto da praia onde sabia se reunirem os amantes de barcos. Adorava ouvir suas histórias, o palavreado próprio dos guerreiros do mar e sonhava, um dia, ser um deles. Olhava fascinado para cada um e sorria, meio envergonhado, meio sem entender sobre o que falavam, mas não importava, bastava estar ali os ouvindo que já ficava feliz e, no meio das conversas, ouviu algo que o intrigou mais que tudo. Era mais um dos grandes mistérios da vida que esperava um dia entender. O grande mistério, maior que o “pingado” ou o “bife a cavalo”, era um estranho comentário sobre “barco à vela”. E o inocente garoto já pensava em um barco feito de vela…haja vela pra fazer um barco. Ou, quem sabe, o mastro seria uma grande vela, pensava o inocente garoto. Bom, pelo menos, se acendesse a vela teria luz para iluminar o escuro do mar nas madrugadas românticas. Só não podia deixar a vela queimar por inteira, senão, incendiava o barco. Sorriu ao pensar no absurdo da situação. Saiu dali em direção à casa sonhando em ser um pescador e ter um lindo barco para passear no mar, no infindável oceano. Queria ser adulto e seguiu sonhando e o tempo, ah esse danado, passou e o garoto se tornou homem e agora caminhava pela avenida da praia.
Entrou naquela padaria, pediu um pingado com pão na chapa e depois de se deliciar caminhou para o seu barco a vela, que balançava ao sabor do movimento das ondas.
Nada mais era mistério, pingado, bife à cavalo, marés, movimentos das ondas e nem os barcos a vela, porém, o mar e a vida continuavam sendo um grande mistério.
Subiu a bordo de seu barco e seguiu para um passeio pelo misterioso mar.