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sábado 28 dezembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Minha infância e as uvas japonesas

De vez em quando, bate a saudade dos bons tempos de infância. As vezes uma coisa qualquer ou um evento qualquer nos remete a épocas distintas e felizes de nossas vidas e uma dessas recordações aconteceu quando caminhava por uma das ruas da minha querida Taubaté e, surpreso, me deparei com casa onde havia uma árvore de uva japonesa (pelo menos, foi com esse nome que conheci) em seu quintal, um velho e raro sabor nos dias de hoje, que me levou imediatamente aos bons tempos de minha infância.

Tempos em que andava descalço, sem camisa, por ruas de terra próximas à casa dos meus pais. Em uma dessas ruas havia uma enorme valeta de esgoto (argh) a céu aberto, acompanhando a extensão toda a extensão da rua. Tirando o cheiro (ha ha ha), tudo é muito nostálgico, a saudade é enorme.

Tempos de inocência, de alegria. Faltava dinheiro sim, mas quem disse que as crianças de antigamente dependiam do dinheiro para ser feliz?

A felicidade vinha na liberdade, nas brincadeiras de rua, nas incursões pela mata perto de casa. Vinha ao saborear a brisa fresca à sombra do bambuzal enquanto admirava a disputa aérea entre pipas ou entre “quadradinhos” para alguns e “papaventos” para outros.

Lembro que, naquela época, era comum um “quadradinho” cotó, sem rabo, que era muito engraçado, ele subia muito e a linha formava uma enorme “barriga”. Era engraçado de ver, mas eu preferia mesmo as pipas, ótimas para as tradicionais “caçadinhas”.

E como era gostoso (como já mencionei nesse espaço) correr atrás de uma pipa, vendo a danada dançar ao sabor do vento. Verdadeira essência da liberdade.

A felicidade estava no jogo de futebol no campinho sem grama, de times com camisa contra times sem camisa. Aliás, esse jogo engraçado tinha umas regras peculiares como, por exemplo, os dois melhores jogadores tiravam o velho “par ou ímpar” para escolher os jogadores dos seus times e o goleiro era sempre o pior jogador de cada time (cheguei perto, mas nunca fui o goleiro ha ha ha). Outra regra, não havia juiz, então, faltas, laterais e escanteios se ganhava no grito ou se resolvia ali mesmo e nem sempre de forma amistosa, mas tudo bem, dia seguinte estava todo mundo brincando e jogando novamente, sem problemas, sem traumas e sem mimimi. Ah, e o jogo acabava quando a mãe do dono da bola chamava para tomar banho.

Oh, coisa boa aquela época sem maldade. E se encontrava felicidade também nos jogos de taco, queimadas, esconde e esconde, carrinho de rolemã e etc…

E, é claro, haja sorriso no rosto quando subia nas árvores pra comer manga, jabuticaba, goiaba, chupar laranjas e comer a deliciosa uva japonesa que eu gostava tanto. Oh tempo bom.

E sabe o pior? Queria ficar adulto logo para entrar no cinema pra ver filmes de censura 18 anos…oh, meu Deus do céu. E os bailes então, ah como queria entrar.

Até me lembro quando, em Taubaté, abriu um bar muito chique, onde tinha boliche, aliás, acho que boliche já era o nome do bar. Mas, só entrava maior de dezoito.

Lembro do desejo de ver o que tinha lá dentro, da frustração de não poder entrar por ser menor de idade e da raiva porque queria ser adulto logo e não ter mais censura…afff.

Quando, finalmente, fiz 18, o bar já não tinha o charme de antes, mas tudo bem, entrei.
Mas, enfim, naquela época, para mim, o mundo dos adultos parecia ser melhor que o das crianças, parecia ser a maior alegria, significava liberdade e o direito de fazer o que quisesse.
Muito cedo descobri a verdade, mas as falsas ilusões eram doces e moviam a imaginação infantil. Acho até são partes essenciais do imaginário das crianças.

Mas, deixando as lembranças de lado, acho que vou tocar a campainha daquela casa (prometo não sair correndo) e pedir um pouco da uva japonesa pra viver mais um pouquinho os meus belos dias de inocência e infância.