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sábado 23 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Maldito demônio!

Vamos de um conto de fantasia que retrata muitas realidades.
Era uma balada, gente jovem, bonita, amigas, paqueras. Muita alegria, música, conversas, risos, bebidas, muita diversão, felicidade geral. Garota linda e jovem, classe média alta, universitária, trabalhava e bom salário, dona de sua vida, era jovem, mas se considerava experiente e achava que sabia de tudo. Mas, só achava…

Naquela noite, tudo o que queria era se divertir. Não queria limites, não queria pensar, se preocupar. A vida é tão curta, né? Queria apenas se jogar com tudo, se entregar à diversão, à alegria, ao prazer. Trabalhara a semana inteira e agora era para relaxar, sorrir e ser feliz e as amigas estavam ali para ajudá-la, para se divertirem juntas. Haviam também os amigos, a turma, estava feliz, era aceita em uma turma maravilhosa. O que mais poderia querer?

Tudo ia bem, já estava um pouco alta, feliz, falando bastante, rindo muito, então veio a oferta tentadora, era possível resistir e sabia disso. Por um segundo, passou pela sua cabeça as possíveis consequências. Sabia o risco que corria, mas a curiosidade, e talvez o teor de álcool, falou mais alto e, afinal, estavam todos naquela, para que resistir? Além do mais, como ficaria com a turma se recusasse a oferta? Ah, deixe de ser careta, vamos nessa, vamos mergulhar fundo e nos divertir. E era isso o que desejava, apenas se divertir.

Faltou amor próprio ou coragem para dizer não, faltou experiência, personalidade, faltou pensar com clareza nas consequências, e cheirou o demônio branco que trouxe euforia, felicidade, sensação de poder e cheirou mais uma vez, afinal, qual era o problema? Era só uma festa, uma balada e tinha o controle da situação. Ou não?
Não! Não tinha e, talvez, até soubesse disso, mas era só um pequeno detalhe, afinal queria se divertir, fazer parte da turma…, e nos dias seguintes outras vezes, só para sentir novamente aquele prazer imensurável, mas tudo estava sob controle e mais uma vez nos próximos dias, afinal estava enturmada. E, mais uma vez e outra vez e perdeu o controle.

O caos estava instalado e precisava sempre de mais e mais. O demônio não a largava e ela não conseguia largar o demônio. Até queria, mas como conseguir? Como?

O dinheiro começou a faltar, vendeu coisas, fez empréstimos, mas o dinheiro continuava faltando. O demônio branco sugava tudo, o dinheiro, sua saúde, seu amor próprio, sua vontade de viver. Largou a faculdade, perdeu o emprego, virou as costas para a família, perdeu a casa e ganhou as ruas. Perdeu a vida! Estava arrependida pelas escolhas, mas agora era tarde. Não entendia como fora parar naquela situação.

Descobriu um novo demônio, mais barato e a ele se entregou e a pedra substituiu o pó.
Seu custo era bem menor, mas o efeito mais devastador e alguns dos amigos daquela triste balada a acompanharam, à deriva pelas ruas, feito zumbis iguais a ela, catando lixo, mendigando, implorando por comida e pedras. Sonhos perdidos, esquecidos em um passado que já nem lembravam mais.

E outros daqueles amigos logo se afastaram quando viram seu estado e viraram as costas, afinal o problema era dela.
Se prostituiu, se vendeu, perdeu a vergonha, a dignidade e a moral, afinal, precisava das pedras. Era só isso que queria. Pedras! E, nos raros momentos de lucidez, se perguntava o que tinha acontecido e como fora parar ali, na sarjeta. Como fora possível ter experimentado o demônio? E como fora possível ter sido dominada por ele?

Há dias sem banho, com roupas sujas e fedidas, o antes belo e sedoso cabelo, agora, desgrenhado e malcheiroso. O olhar perdido, olhos vermelhos de tanto demônio. Olhava para o nada tentando encontrar algo, talvez a luz e o fim da tragédia em que se metera. Caíra na triste armadilha do maldito demônio que tantos jovens, como ela, caem levados por uma noitada e por uma balada. Agora, caída na sarjeta, continuava olhando para o nada e foi dali que surgiu a chance de sair da tragédia. Talvez sua única chance. Sua família vinha, mais uma vez, busca-la e não tinha mais forças para dizer não, estava à deriva, sem forças, sem vontades, debilitada e entregue. Precisava deles.

Era a sua chance, sua grande e talvez única chance de sair da armadilha do maldito demônio.