Que triste o que aconteceu no litoral norte e principalmente em São Sebastião onde as fortes chuvas (e vários erros por parte de governos municipais, estaduais e porque não dizer, federais) deixaram um saldo de 48 mortos e 57 desaparecidos (números até a tarde de quarta-feira, 22/02). Triste demais, quase cinquenta vidas perdidas nessa tragédia enorme, assustadora, assombrosa. Sem contar os danos materiais como casas, carros, móveis, eletrodomésticos, e objetos pessoais que, muitas vezes, são lembranças de uma vida. Pessoas que perderam tudo o que tinham, lembrando que, na maioria dos casos, tinham muito pouco, conseguido com muito esforço e trabalho. E agora?
Agora o que ficou foram perdas, prejuízos, dor, sofrimento, traumas, desespero. Perdas materiais, perda de amigos e de entes queridos. Famílias inteiras destroçadas por essa tragédia.
E o trauma que vai persistir por muitos anos e até por uma vida inteira?
Prejuízo econômico imenso, não só nas obras de reparo de casas, ruas, bairros, estradas e etc… como também o prejuízo de ter tudo parado, atrapalhando a vida das pessoas, impedindo o ir e vir e impactando em negócios, trabalhos e afazeres do dia a dia.
E, lógico, sem falar na dor, na tristeza e na saudade que vai ficar com a perda de inúmeras vidas.
E muitos vão comentar que não havia como evitar, foi a maior tempestade de chuva do Brasil. É verdade! Precipitações que chegaram aos 682 mm de chuva (em São Sebastião foi 627 mm, se não me engano). E, para simplificar, 682 mm significam 682 litros de água caindo em 1 metro quadrado. Dá para imaginar isso? Muita água caindo de uma vez, em um curto espaço de tempo. Inunda tudo mesmo. Mas, daí a dizer que não tinha como evitar a tragédia discordo completamente. Veja alguns pontos questionáveis:
Primeiro: O velho problema social, pessoas que não tem moradia e acabam indo se alojar em encostas e lugares com alto risco.
Segundo: Como foi permitido que se alojassem lá? Cadê a fiscalização? Cadê um programa adequado, por parte dos poderes municipais, estaduais e federais de moradia para pessoas carentes? Isso poderia evitar que fossem morar nos locais de alto risco.
Terceiro: Casas chiques permitidas em áreas onde não deveriam estar, gerando desmatamentos e também colocando em risco a vida dessas pessoas. Olha aí o dinheiro falando alto.
Quarto: Não existe um plano de contenção de encostas. O poder público desconhece que com grandes chuvas, morros deslizam levando e soterrando tudo o que encontram pela frente?
Quinto: Cadê o plano de alerta da população para casos de chuvas com grandes intensidades? A partir de 100 mm a chuva já é considerada de grande intensidade. Nem sequer havia um sistema de sirenes para avisar a população do risco, da tragédia, iminente.
Sexto: A População não foi treinada para evacuação emergencial, não havia um plano para isso.
Sétimo: Será que os órgãos competentes estavam preparados e equipados para salvar, resgatar, pessoas de um evento desses?
São muitas perguntas com pouquíssimas respostas, como sempre. E o que temos agora são as duras e tristes lições que esperamos (e duvidamos) tenham sido aprendidas. Mas, sabemos que no Brasil, como sempre, tudo é esquecido e essa tragédia muito provavelmente também será esquecida, menos por aqueles que a sofreram na pele. Infelizmente, a probabilidade de ser esquecida é grande, afinal, contenções em encostas geram votos? E sirenes para a população?
E esse é meu maior medo, que, mais uma vez, tudo seja esquecido no decorrer do ano e, novamente, tenhamos tragédias como essa quando as chuvas chegarem. A vida no litoral seguirá com casas em locais de alto risco, sem programas de habitação, sem sistemas de contenção de encostas, sem sistemas de sirenes para alerta da população e assim por diante.
Gostaria muito que no ano que vem, em janeiro, fevereiro de 2024, época das grandes chuvas, não precisasse escrever colunas como essa.
E assim vamos aceitando, convivendo com tragédias como essa. Até quando?
Não dá para mudar a realidade das chuvas, mas dá para mudar o efeito causado por elas.
Mas, é preciso querer.