Algumas lembranças do passado ficam em nossa memória e, muitas vezes, a gente nem sabe que lembra daqueles detalhes, às vezes tão simples, tão cotidianos e se escondem lá no fundo do baú de nossas memórias e, de repente, alguma coisa à toa, algum detalhe qualquer, acaba trazendo aquelas lembranças.
Entre inúmeras dessas lembranças da infância, uma que me faz sorrir é a de um homem que passava pelas ruas de terra do meu bairro balançando um sininho e acompanhado de umas cinco ou seis cabras e ele vendia leite de cabra tirado na hora. Pode imaginar isso? Leite de cabra tirado na hora? Eu não sei, mas acho que nunca mais tomei leite de cabra, sei lá.
Ah, tinha também, e esse acho que era ainda mais engraçado, um homem andando com um monte de galinhas e frangos, amarrados é claro. Você comprava o frango vivo e depois do frango morto (essa parte do estrangulamento do coitado nem gosto de lembrar), batia aquele cheiro característico da pobre ave sendo depenada com o auxílio da água quente.
Consegue imaginar alguém andando pelas ruas com um monte de frangos à venda e alguém comprar o bicho, para matar, depenar e cozinhar? Ah, para mim parece impensável.
Sei lá se ainda vendem frangos vivos. Credo.
Ah, uma lembrança inesquecível era do homem que passava tocando um triângulo de metal para anunciar a venda do bijú. Putz, como eu gostava daquele danado bijú. Sempre pedia para mãe comprar, oh, delícia. Será que ainda tem alguém vendendo?
Sem falar na famosa pamonha de Piracicaba, oh lembrança boa. Aquela época era muito engraçada, muito gostosa, tinha também o verdureiro vendendo suas folhas fresquinhas.
Tinha uma carroça que passava vendendo frutas, tinha até um cara que vendia quadros…é isso mesmo, lá na minha rua passava um cara vendendo quadros, aliás, não sei o que ele ia fazer naquele bairro pobre. Tenho minhas dúvidas se algum dia vendeu algum quadro ali.
E me lembro que alguns anos depois, o progresso começava a chegar (o asfalto ainda não) e um caminhão (olha só, que chique!) passou vendendo cobertores, lençóis e toalhas.
Época boa, passou e não volta mais. Não volta mesmo?
E eis que os anos passaram, chegou o asfalto no meu querido bairro, acabaram com o campinho de futebol, acabaram com o bambuzal, com o matagal e o enorme charco onde havia uma grande plantação de taboas se transformou em um grande supermercado.
Agora, por lá, só asfalto, casas, comércios pequenos e grandes.
O tempo passou, mudei de lá, a vida seguiu, chegou o computador, o celular, a internet, o whatsapp, mas será que as coisas do passado não voltam mesmo?
Veja, tenho minhas dúvidas, afinal temos uma pulsante economia informal de vendas na porta de casa que parece crescer mês a mês.
Quem nunca correu atrás de um carro de vendas de ovos? Aliás, tem um com um galo cantando, Santo Deus! Conheço alguém que adora aquele canto Há Há Há Há Há.
Ah, tem o carro dos produtos de limpeza, com um festival de rodos e vassouras de piaçava e pelo, pendurados no carro.
E, olha só, eis que em uma sexta-feira, com preguiça de preparar algo para o jantar, passa um carro vendendo pizza.
U-hu! Gostosa a pizza, mas podia dar uma caprichadinha a mais.
Ah, e tem gente vendendo salgados, doces e posso dizer que o brigadeiro é muito bom.
Mas, de todos os doces, o carro de churros é imbatível. Meu filho adorava e eu tinha que comprar pra ele toda vez que o carro passava na frente de casa.
E, relembrando mais que nunca o passado, tem o verdureiro e o caminhão de frutas.
Então, algumas coisas boas do passado voltam sim. E, que bom.
A venda na porta nos ajuda e fornece trabalho pra muita gente.
Santa economia informal que nos quebra um enorme galho com vendas na porta de casa.