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quinta-feira 21 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Gotas de chuva na vidraça

Dias atrás, na semana passada para ser mais preciso, em uma tarde chuvosa e fria (graças a Deus), estava parado com meu carro no meio fio de uma rua no centro da cidade, conferia algumas mensagens no celular enquanto ouvia o suave barulho da chuva que caía no teto e no para-brisa no carro, sempre agradável, pelo menos para mim.

Depois de ler e enviar algumas mensagens, liguei o carro e já me preparava para sair quando meus olhos se depararam com as gotas que escorriam pelos vidros do carro como se fossem lágrimas tristes, respirei fundo, minha mente desligou e meus pensamentos, perdidos em uma infinidade de coisas, se dispersaram e lembranças, que nem mesmo sabia que existiam, saíram do mais fundo de minha mente e surgiram como em um passe de mágica. Meus pensamentos voaram para locais e tempos que não conseguia identificar.

O que passou pela minha cabeça durante aqueles poucos segundos em que observei as gotas escorrendo, com a mente completamente desorganizada em meio a explosões de lembranças? Não sei, simplesmente não sei, mas foram momentos interessantes, acho até que posso dizer gostosos. Ainda imerso nas lembranças, voltei a desligar o carro e decidi olhar um pouco mais a chuva. É fácil de ver a chuva cair, mas é difícil prestar atenção à chuva que cai.

Perder segundos, ou até minutos, observando uma das maravilhas da natureza, verdadeira benção de Deus, não é para qualquer um e até me lembrei da linda canção, “Have you ever seen the rain” (Você já viu a chuva), rock raiz da banda californiana Creedence Clearwater Revival, na voz inconfundível e inesquecível de John Fogerty. A música, como não podia deixar de ser, associa a chuva a momentos de tristeza (não sei se concordo, amo a chuva), mas nos passa a mensagem de que temos que seguir em frente.

Sei lá, acho que uma espécie de melancolia tomou conta e me lembrei de quando era criança e observava a chuva cair nos vidros das janelas de casa. Tempo bom em que tudo parecia estar certo, tudo parecia que sempre estaria certo e que as pessoas queridas pareciam ser imortais.

Lembro-me das vezes em que, com chuva, saía para viajar. Ainda garoto, inocente, cheio de sonhos e esperanças, sem saber como realmente era a vida. Adorava ficar olhando as gotas escorrerem pelos vidros. Muitas vezes as acompanhava desde lá de cima do vidro até se perderem no final da janela. Sonhos, muitos sonhos e, agora, apenas lembranças.

Olhava a paisagem, cinza por causa da chuva, sorria, talvez de uma forma romântica, talvez de uma forma que apenas o pobre coração de um pequeno podia fazer. Olhava para o céu cinzento e meu olhar se perdia lá em cima. Apenas olhando a chuva, observando, pensando, sonhando, perdido em pensamentos que hoje não me lembro quais eram.

Permaneci ali, parado, estacionado, extasiado, apenas observando a água que caía e o movimento das pessoas que corriam pelas caçadas, corriam atravessando ruas, com seus guarda-chuvas coloridos, multicoloridos, espalhafatosos, ou simplesmente pretos, sóbrios. Cada uma delas com seus problemas, com seus mundos particulares, com suas vidas particulares, olhando sem ver quem passava por perto. Apenas um bando de autômatos, como se fossem robôs, andando mecanicamente, lado a lado, ou cruzando os caminhos de um e de outro, sem observar, apenas imersos em seus pensamentos intransponíveis.

Meus olhos se desviaram para um pequeno fio de água que escorria junto a calçada, fácil de associar à um imenso rio de lágrimas que caía do céu. Porque o infinito estava chorando?

Um semáforo fecha e um ônibus para próximo, olho para ele e vejo um garoto olhando pela janela, parece observar as gotas que escorrem pelo vidro, é apenas um garoto, o que passa pela sua cabeça? Talvez sejam sonhos, que a vida, rapidamente, vai se incumbir em transformá-los em apenas doces lembranças.

O semáforo abre, o ônibus vai embora levando o garoto que observa gotas de chuva escorrendo pelo vidro. No meio de tanto movimento de carros e pessoas, fico sozinho em meu carro, olhando, as gotas que escorrem pelo vidro, observando e ainda sonhando.

Ligo o carro, aciono o limpador de para-brisas e saio lentamente sabendo que, nos vidros ao meu lado, as gotas de chuva continuam escorrendo.