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quinta-feira 9 janeiro 2025
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Geração anos 60

Nasci nos anos 60, já passei por seis décadas e vivendo a sétima. Passei por dois séculos e dois milênios. Santo Deus e nem vi tudo isso passar.

Curti meus passeios de bicicleta, em um tempo em que, para as crianças, ainda era possível usar a bicicleta como meio de diversão. Em uma época em que não teria minha bicicleta roubada na primeira esquina por uma “vítima da sociedade” que só roubava para tomar sua “cervejinha”.

Brinquei de pique-esconde, de queimadas, de corridas, joguei bola no campinho de terra (ou de barro quando chovia) e pisei em muita bosta de vaca. Fazia pipas para vender e empinei muitas delas, sorri, corri descalço, subi em árvores, deitei embaixo de plantações de bambus só para ouvir o vento assobiar entre suas folhagens. Pulei valetas e fiz terríveis guerras de mamona. Roubei caqui e, não me esqueço, como era bom comer a fruta em cima do caquizeiro.

Peguei carrapato, pulgas, piolho e sanguessugas. Cacei rã e me fartei de comer iça. As danadas das saúvas só faltavam arrancar os dedos dos pés. Não tinha frescura, era criança raiz, sem choradeira. Aliás, se chegasse chorando em casa depois de apanhar na rua, apanhava de novo.

Fui nas deliciosas brincadeiras dançantes em garagens nas casas de família. Usava a famosa calça boca de sino e a única camisa “de sair”. Nos pés, ostentava, orgulhoso, o tênis bamba ou conga. Tudo isso, só para tirar para dançar, ao som de Hyldon, a loirinha da rua de cima. Naquela época havia conversas com os amigos nos fins de tarde e começo da noite, até a mãe chamar. Havia amizade e interação.

Época em que todos, garotos ou garotas, tinham apelidos e não tinha mi mi mi. Um dos melhores amigos era o vesgo, tinha o ki-suco, a sardenta, o negão, o magrelo, o gordinho, o três “zóio”, a baleia, o queimado e por aí vai. Tudo sem frescura…

Vi, orgulhoso, chegar a TV preto e branco na minha casa. Chegou a geladeira, o famoso 3 em 1, e, para arrebentar de vez, veio o telefone, aquele de disco sabe?
Agora tinha telefone em casa, não dependia mais dos orelhões da Telesp, chega de fichas.
O despertador, não me esqueço, era um desgraçado que parecia anunciar o fim dos tempos. A gente quase caía da cama quando ele despertava.

O tempo passou, e como passou, veio a TV colorida, já tinha carros no bairro e as ruas agora eram asfaltadas. O progresso estava chegando.

Inventaram, uma tal de internet e um tal de celular e lá se foi meu despertador, lá se foi a minha agenda telefônica, lá se foi a TV comum, agora era tudo smart. Inventaram uma coisa chamada plataformas de streaming e os filmes estão à mão.

Agora temos carros para todos os lados, não sofremos mais para comprar fichas telefônicas (ou cartões). Falamos com o mundo ao simples toque de teclas e…vivemos sozinhos. Acabaram-se as amizades, as conversas alegres, a troca de olhares para iniciar um namoro ou, simplesmente, a música do Hyldon nas brincadeirinhas em casa de família. Acabaram as brincadeiras infantis, acabaram as pipas, ninguém mais pula valeta ou caça rã. Acabaram os apelidos, começaram os mimimis. E agora, sobram os bandidos que roubam para a cervejinha, para a droguinha, para a pedrinha e etc…

Sim, chegou 2025 e posso dizer que fiz parte da melhor geração que já existiu.
E segue a vida…