E se, no meio da rua, em um momento qualquer, um homem de meia idade, sorridente, aparência bondosa e compreensiva, cabelos grisalhos, talvez um pequeno cavanhaque, me olhasse, sorrisse e me dissesse com o mais simpático e bondoso dos sorrisos.
— Olá. Prazer, eu sou Deus!
O que poderia eu lhe perguntar?
O que poderia eu lhe dizer?
Acho que deveria pedir perdão pelo que fiz com seu mundo.
Ele me perdoaria?
Talvez sim, ele é Deus, ser soberano, bondoso e onipotente.
Ou, talvez não. Talvez, apenas me dissesse que não me perdoa e nem me castiga, apenas me dá oportunidades de me redimir de minhas faltas e dívidas.
Talvez, com a calma mais branda e o olhar mais sereno do mundo me sorrisse e me fizesse compreender que cada pequena ou grande falta que cometi, com meu livre arbítrio, um dia, nessa ou em outra vida, terei que pagar, para minha evolução espiritual.
Lei divina e implacável. Só evolui, só cresce, só avança, após as dívidas pagas.
Acho que Deus me diria que as pessoas são apenas espíritos imperfeitos em suas jornadas em busca de sua evolução. Talvez, com aquele jeito tranquilo e benevolente, me dissesse que, na verdade, nós, os espíritos, somos todos iguais, apenas com erros diferentes, mais ou menos graves e, creio eu, que me diria que existem graus, ou níveis, diferentes de evolução entre nós. Porém, mais cedo para uns e mais tarde para outros, iremos todos atingir a evolução, atingiremos nosso objetivo que é a perfeição aos olhos de Deus.
Hummmm, como sempre falamos, leis dos homens são falhas, muito falhas, mas a de Deus é exata, justa e perfeita.
Talvez uma sombra de tristeza passasse rapidamente pelos olhos de Deus ao lembrar da enormidade de dívidas de cada um de nós. Creio que ele não queria isso, mas permitiu, nos deu o livre arbítrio para nossas decisões certas, erradas e muito erradas.
Talvez, ele me dissesse.
— Ah, que pena meus filhos. Como vocês são fracos, egoístas, estúpidos, maldosos, materialistas e violentos. Ah, que pena meus filhos, que demoram tanto para compreender a verdade. Mas, ainda assim, não tem problema meus filhos, estarei aqui sempre para ampara-los no pagamento de suas dívidas.
Se Deus aparecesse à minha frente, com certeza eu estaria olhando estupefato e com olhos arregalados para ele.
Talvez, ficasse envergonhado pela minha pequenez e por meus tão desprezíveis sentimentos, mas logo me sentiria a vontade, porque ele, com sua infinita compreensão, me mostraria que não sou um caso perdido, apenas temporariamente imperfeito.
Mas, será que acreditaria naquele estranho? Imagino que sim, as luzes a sua volta seriam tão intensas que seria impossível duvidar. Seus olhos seriam, certamente, a expressão pura da verdade, sinceridade e amor.
Certamente, meus olhos se encheriam, meu coração dispararia, talvez nem conseguisse falar, minhas pernas tremeriam e minha felicidade atingiria níveis inexplicáveis.
Próximo a ele, sentiria um bem estar infinito e uma enorme vontade de fazer as coisas certas, de ajudar pessoas, amar o próximo.
Deus, oh, meu Deus, imagine encontrar você, no meio da multidão ou no meio do nada. Imagine, sorrir pra você, te beijar, abraçar. Ver seu sorriso, sua calma, sua paciência, sua astúcia e amor, Oh meu Deus, encontrar você é mais que felicidade infinita e extrema.
Enfim, acho que o melhor seria olhar à minha volta e, quem sabe, eu te encontre.
Ou, quem sabe, esteja apenas escondido no fundo de meu coração.
Uma coisa eu sei, está perto de mim, só tenho que querer encontra-lo.