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quinta-feira 19 setembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – De repente, 60

Imitando o nome do filme “De repente, trinta” aqui vou eu, surpreso, atordoado, atônito, abobado, para os meus sessenta. Que isso? Como assim? Não é possível! Ainda me lembro do garotinho magrelo, cabeludo (acredite, é verdade!), nariz escorrendo (Eca!), pés descalços, bermuda (dois números maiores), correndo atrás de uma pipa ou de uma bola de futebol, se achando Zico, aliás, mera ilusão. Logo veio a realidade que, nem de longe, seria um novo Zico.
Logo aquele garotinho entrava no ginásio (hoje Fundamental II) e começava a se interessar pelas meninas, principalmente as loirinhas. Olha, o garotinho está crescendo e os comentários das tias eram inevitáveis. “Como você cresceu”; “Já está ficando um homenzinho”; “Ah, mas que cílios lindos, troca comigo?”; “Olha esse cabelo, queria que o meu fosse assim”. E tome apertões nas bochechas, beijos molhados e mãos bagunçando o cabelo. Vieram as primeiras ilusões (e decepções) amorosas, veio o primeiro beijo e duas noites sem dormir pensando no beijo inexperiente, delicado e apaixonado. Oh, como aquela menina era linda!!!
Ah, mas a primeira paixão foi a professorinha de Francês…, toda linda, delicada e feminina.
Orgulhoso, o garotinho terminou o ginásio e entrou no colégio. Olha só! Que orgulho da família, tão pequenininho, magrinho (pois é, um dia eu fui!), e já no colégio. E olha que era colégio técnico de Química, imagine só! Que orgulho!
Com o colégio, veio a primeira namorada, me esqueci da professorinha de Francês e entrei de cabeça na primeira paixão real. Jurava que ia casar com ela… kkkkkk
Vieram diversas namoradas, já estava no terceiro ano e o vestibular se aproximava (no início do próximo ano), assim como o alistamento no exército, dali a alguns meses. Oh, meu Deus, que medo! Ia me alistar no exército e a Argentina me fazia o favor de invadir as ilhas Malvinas desafiando a poderosa força militar da Inglaterra. Na, ainda inocente, cabeça daquele adolescente, passava a terrível ideia de que aquela guerra iria evoluir e o Brasil entraria no conflito. Em meus pesadelos já me via com arma na mão, no meio do campo de batalha. Só não conseguia imaginar do lado de quem o Brasil poderia entrar.
No início de maio de 1982, a Argentina afundava uma das joias da marinha britânica, o destroyer Sheffield. Isso irritou demais os Britânicos que, então, entraram com tudo na guerra e pouco mais de um mês, para alívio do adolescente aqui, resolveram a parada ao invadir as ilhas Malvinas (ou Falklands, para os Britânicos) e retomar o controle da ilha e, com isso, acabaram com a loucura Argentina. Respirei aliviado!
Veio os dezoito anos, alistamento e dispensa no exército, e carteiras de habilitação de moto e carro. Olha só! Quem diria? O garotinho magrelo já tinha habilitação.
Fim do colégio, aprovação no vestibular da FAENQUIL (hoje USP) e lá vou eu, faculdade de Engenharia Química. E… aproveitando o melhor caipirês de Taubaté: ÓIA!!!!
Mais namoradas, mais decepções, estágios, fábricas, responsabilidades e a formatura se aproxima. Engenheiro Químico formado. Olha só, quem diria? E o recém-formado engenheiro vai trabalhar em uma multinacional e, pela sequência natural da vida, veio o casamento e a maior felicidade, o filho. Meu maior orgulho, minha maior alegria, meu maior companheiro e amigo. A vida nos prega peças, o agora adulto, sai da multinacional, abre seus negócios e vem mais surpresas da vida. Variedade de novos negócios e o adulto se surpreende ao se descobrir Escritor, sua verdadeira vocação. O casamento termina, se torna um solteiro convicto e promessas de nunca mais se casar. Novas namoradas, livros escritos, publicados, e a vida segue seu curso. Novo emprego, nova namorada e se desfaz a promessa do solteiro convicto. Espero que esta seja a última namorada. E, no meio de tantas coisas para pensar, para administrar, no meio de tanto para fazer, no meio de toda a confusão da vida, descubro que daqui a poucos dias me tornarei idoso. Nem vi a vida passar.
De repente, 60. Snif, snif, snif, pelo menos, vou tirar a carteira do idoso.