Gosto de coisas simples, de sentir prazer em momentos comuns do dia a dia. Gosto de observar as árvores, principalmente quando está ventando, adoro ver o balançar das folhas. Gosto de olhar os pássaros, animais, gosto de sentir o vento, adoro degustar uma barra de chocolate, valorizo uma boa xícara de café, uma taça de vinho e…e…principalmente adoro sorvete, ah, esse é bom demais, eita coisa boa. Eu digo sem sombra de dúvida, um dos grandes prazeres da vida.
Dias atrás, quase três horas da tarde, sol rachando mamona, como diriam os antigos, um calor quase insuportável, principalmente pra mim que prefiro o inverno, parei pra tomar o meu sorvete (e olha que nem posso, por causa do meu inimigo açúcar). Escolhi um de milho verde, nossa, fazia tempo que não saboreava um sorvete tão lentamente e que delícia aquele picolé, momento de indizível prazer. Como é bom encontrar prazer nas coisas simples e desfrutar da oportunidade de um refrescante sorvete em meio à um calor infernal.
Desfrutando aquela delícia, me transportei para um mundo onírico e viajei lenta e docemente e quando percebi, meu sorvete tinha acabado e, é claro, sem culpa ou remorso algum, peguei mais um. Não resisti e fui, de novo, de milho verde. Bom demais.
Enquanto saboreava meu segundo sorvete e observava o meu redor, chegou um casal, aparentando por volta de 40 anos cada um. Ambos pareciam não estar em seus melhores dias, pegaram seus sorvetes e sentaram em uma mesa em frente à minha. Sem saber porque, eu os observava enquanto discutiam seus problemas. Que desperdício, um momento mágico como aquele, desperdiçado em diálogos rancorosos. O homem tinha a expressão fechada enquanto a mulher com sobrancelhas arqueadas e olhar raivoso falava de forma dura para o companheiro (apenas supondo, é claro, que fossem). Quando chegaram eu já estava tomando o meu sorvete, eles pegaram o deles, sentaram e terminaram antes de mim. Qual o prazer naquilo?
Levantaram, pagaram e saíram discutindo.
Balancei a cabeça entristecido por ver o casal desperdiçar aquele momento. É lógico, não sei o motivo da discussão mas, poxa, tome o sorvete primeiro, deguste, saboreie, valorize os momentos simples. Um dia vão fazer falta.
Terminei meu sorvete ainda sentindo na boca o sabor do milho verde, mas não me levantei para ir embora. Havia coisas para fazer sim, muitas, mas, de vez em quando, é bom parar e dar um tempo pra gente mesmo e estava tão gostoso ali que resolvi ficar mais um pouco.
O pensamento voou longe e em meus singelos devaneios olhei em volta e vi uma mãe com a filha, talvez uns três anos, em seu colo e a mãe acariciava lentamente os cabelos da menina, momento sublime. E ao ver a expressão da mãe pude perceber seu êxtase naquele momento.
Quantas vezes pais e mães pegam seus filhos no colo por obrigação e não desfrutam esse doce momento?
Sorri, fui até o caixa, paguei minha conta e sai para o sol forte. E daí? Está tudo bem.
Olhei para o céu azul, absolutamente sem nuvens, e caminhei para o meu carro. Lá de dentro vi dois cachorros andando preguiçosamente e deitando à sombra de árvores. Parecia haver satisfação expressa em suas caras. Não contive mais um sorriso.
— Esperto eles.
Respirei fundo e dei partida no carro com a certeza de que havia aproveitado muito bem aquela parada. Curti profundamente aquele momento único. Esqueci dos problemas, das dificuldades, das tristezas e vivi intensamente meu momento mágico de degustar um sorvete de milho e, mais uma vez, percebi que a felicidade está nas pequenas coisas.
Pense nisso, coisas simples valem muito a pena.
“Crônicas e Contos do Escritor” – Coisas simples
mar 19, 2020RedaçãoCrônicas e Contos do EscritorComentários desativados em “Crônicas e Contos do Escritor” – Coisas simplesLike
Previous PostColuna Espírita - Análise das comunicações mediúnicas
Next PostColuna Esplanada - Sem aliança