Search
sábado 30 novembro 2024
  • :
  • :

“Crônicas e Contos do Escritor” – Café, livros e celulares

Dias atrás, estava em uma padaria até um pouco estranha, com salgados, doces e lanches diferentões, mas tudo bem, apesar dos lanches esquisitos, até meio psicodélicos, meio que surreais, fiquei mesmo com o meu delicioso, excelente e tradicional misto quente com ovo frito, oh delícia. E, é claro, acompanhado de uma xícara de café (com adoçante, açúcar não gosto, mas ainda não consigo tomar café sem “adoçar”), e sem leite é claro, afinal, oh coisinha sem graça que é leite. E aquele aroma de café, oh meu Deus do céu, é um enorme prazer.

Enquanto degustava meu cofeebreak (Óia, que chique!), não perdia a oportunidade de ler um bom livro, Kandic & Levi – Os senhores da guerra.

Para mim, leitura é tudo de bom, nada mais nada menos que um dos grandes prazeres da vida. Enquanto degustava minha leitura, me transportei para dentro da história e esqueci o mundo à minha volta, quando parou em frente à minha mesa um jovem, também com um livro na mão, Estrada para Zybellium (deve ser daqueles que, como eu, não perdem a oportunidade de uma boa leitura) e me fez uma estranha e engraçada pergunta.

— Bom dia, o senhor é desse planeta?
Esbocei um leve sorriso diante de tão bizarra e inesperada pergunta e respondi.
— É, então…por acaso sou…
O jovem sorriu também e falou.
— Que bom ver um terráqueo lendo um livro, até achei que fosse de outro planeta, talvez de Orbiton, de XYZK, do planeta intelectum, ou de tantos outros dessa e de outras galáxias.
Aumentei o sorriso pensando — Esse cara deve ser folgado, deve estar me “tirando” (como diz alguém muuuuuito especial) ou é retardado. Acho que a última opção é a mais plausível–
E, pior, está atrapalhando meu doce momento de lazer.

Respondi, ainda com educação e sorrindo, mas já com uma leve pontinha de irritação.
— E porque achou que eu pudesse ser do planeta KPRY-PQP ou sei lá o que, ou de Órbi…qualquer coisa ou, ainda, do planeta intelectual?
— É Intelectum.
— Que seja, e porque fez essa pergunta…como dizer… um tantinho esquisita?
Sem autorização, o jovem puxou uma cadeira e sentou à minha frente, meu sorriso desapareceu e a irritação aumentou.
— Olha à sua volta. É bem óbvio…ninguém lendo um livro, todos nesse planeta são alienados, controlados, submissos aquele aparelhinho que vocês chamam de celular.
Olhei em volta e as 8 ou 10 pessoas que se encontravam no local estavam com os olhos grudados nas telinhas dos celulares, mesmo nas mesas onde havia mais de uma pessoa, não havia conversas e…não se via qualquer livro por ali.
Ainda achando o jovem retardado, tive que reconhecer que tinha razão. E ele continuou…
— Em meu planeta, conversamos, interagimos, trocamos conhecimentos e experiências e sempre temos um bom livro nas mãos e assim, aprendemos, evoluímos, não somos doutrinados, controlados, sabemos pensar por nós mesmos, sabemos o verdadeiro sentido da palavra justiça, não admitimos roubos, corrupções, safadezas, políticos desonestos e nem pseudo juízes que sabem tudo menos o verdadeiro significado da palavra justiça. Em meu planeta, os habitantes são educados, civilizados, não jogam lixos nas ruas e rios, se respeitam, se comportam decentemente no trânsito, não discutem, não buzinam à toa, sinalizam quando vão mudar de faixa ou virar uma curva (viu Taubateano???), não roubam, não admitem desonestidades e…exatamente por isso, tem moral para cobrar políticos, governantes e juízes.

Absolutamente atônito, perguntei desconfiado.
— De que planeta você é?
— De intelectum.
Então ele mostrou sua verdadeira aparência, era realmente um alienígena.
Com o susto, caí da cadeira e…acordei.

Ainda assustado com o sonho, olhei o livro no criado mudo e o abracei, agradecido e feliz.
Não sou alienado!