Search
quinta-feira 28 novembro 2024
  • :
  • :

“Crônicas e Contos do Escritor” Brrrr, que frio!

Oh, friozinho gostoso, ideal para um chocolate quente, um cappuccino ou ainda uma boa caneca com café fumegante. Adoro as manhãs frias, principalmente quando vem acompanhadas daquela sinistra, misteriosa e mágica neblina. E se a neblina já é bonita na cidade, pelo menos para mim, imagine no campo então? Aquela grama, mato, plantas, árvores, tudo branquinho com a geada da noite, dá até vontade de escrever contos de terror, Ha Ha Ha.
A neblina sempre me faz lembrar do livro “O nevoeiro” do grande autor Stephen King.

Loucura gostar desse frio? Que nada. Imagine você, em um sítio, de manhã, em frente a um fogão de lenha, bem enrolado em um cobertor, com um bom par de meias aquecendo os pés e uma excelente companhia aquecendo ainda mais…, oh, é muito bom.

Acompanhando o frio e o café quente, um bolo de fubá, de milho, um pão de queijo derretendo ou pão caseiro recheado com queijo branco…, ah, bom demais. Como não gostar?

E, aos poucos, o céu azul vai aparecendo, surgindo no meio da neblina e aquele sol maravilhoso que a dissipa de vez. Quem não corre para se aquecer a luz do sol? E, claro, chupando a tradicional laranja ponkan, ou seria tangerina? A danada da ponkan, milenar e originária da China, tem o “sabor” do inverno, o “cheiro” do inverno, a “cara” do inverno.

Para mim, mais que uma tradição, cresci vendo minha mãe degustar a ponkan no inverno, sempre sentada, do lado de fora de casa, se aquecendo ao sol e descascando lentamente a danada. Eu, ao lado dela, a fitava com admiração e esperava, esperava, esperava, e ela, sorrindo, paciente, limpava completamente o gomo, retirando todos aqueles fiozinhos chatos, e me entregava o gomo com o mais doce dos olhares. Oh, meu Deus, mais uma nostalgia que os dias frios e ensolarados me traz.

E, voltando ao sítio, ao meio dia, frio na sombra e calor ao sol, almoço com frango caipira e macarronada, tudo feito no fogão a lenha e o delicioso arroz doce, ah, mas como é ruim o frio. A tarde vai caindo, a caneca de café quente sempre à mão, um ventinho enregelante vai se anunciando, a temperatura despenca e o frio vem com gosto. Começo da noite, tem que ter coragem para um bom banho, só se for bem quente. Noite clara, estrelada, a fogueira esquenta, ilumina, e dá aquele gostoso ar de romantismo, momento para o abraço gostoso, carinhoso e apertado. É hora de tomar o quentão, o vinho, tomar aquele caldo de quirerinha, comer pinhão, bolinho caipira, jogar conversa fora e curtir o friozinho (ou seria friozaço?) no meio do mato. A noite avança no sítio, o vento gelado quebrado pelo calor da fogueira.

A madeira estala, reclama, grita, e a fogueira, sem sentimentos com a madeira, se mantém viva e segue nos aquecendo. Ao longe, o uivo de um lobo (ou seria um lobisomem no meio da mata?). As sombras das árvores começam a tomar formas assustadoras, outras sombras surgem do nada e, pelo mato rasteiro, bichos do outro mundo rastejam em nossa direção e está na hora de entrar e curtir o frio na segurança da casa. Um bom café, bem quente (e eu ainda prefiro o cappuccino) e hora de se enrolar nas cobertas e no amor e deitar abraçadinho escutando o vento frio zunir lá fora. E o mato traz seus sussurros incompreensíveis e assustadores.

Embalado pelo frio e pelos sons lá fora, durmo aquecido no cobertor e no amor. A noite fria caminha para a madrugada que caminha para o amanhecer e, mais uma vez, a geada vai embranquecendo tudo por ali e daqui a pouco é hora de ver a neblina da manhã e tomar café em frente ao fogão de lenha escutando a madeira crepitar.
Como não amar o frio? Como não amar a neblina?

Inverno chegando, as pessoas ficam mais bonitas, mais bem vestidas, mais charmosas.
Ah, o frio, o inverno, só tem duas coisas que não gosto, a primeira é a gripe que chega com vontade achando que é a dona do pedaço e nos arranha a garganta e nos faz o nariz escorrer feito uma cachoeira esquisita, salgada e enlouquecida. A segunda coisa são as pessoas que não tem uma casa, um abrigo, uma coberta decente. Isso me entristece, mas dias atrás, presenciei uma cena linda, voluntários distribuindo sopa para os mais necessitados. E o cheiro estava tão bom que quase entrei na fila. Parabéns aos voluntários heróis, guerreiros e humanos da melhor espécie. Espíritos evoluídos. E, para aqueles que gostam, viva o frio!