O garoto caminhava pela areia, olhando sonhador para o mar. Olhou para os dois lados da praia, estava sozinho. Como companhia a areia, o mar, o céu e o sol. Olhou, intrigado, a linha onde se formavam as ondas, as acompanhou com o olhar, até arrebentarem na areia e admirou seu final, transformadas em pequenas ondinhas de espuma.
Curioso, observava o horizonte. Queria ver além dos olhos, talvez, com o coração, com a alma. Sonhos, devaneios, imaginações e desejos. Ficou de cócoras e brincou com a areia, deixando-a escorrer pelos dedos. Se perguntou como e quando tudo aquilo teria surgido. Olhou para o mar novamente e, extasiado, sorriu, enquanto dizia que um dia conheceria o alto mar. Um dia pegaria um barco e singraria por todos os mares. Conheceria a calmaria, as grandes ondas, a tempestade, a fúria do mar. Um dia veria o nascer do sol e da lua. Veria os grandes peixes, os temíveis tubarões e as gigantes e simpáticas baleias. Um dia, veria os grandes cardumes e, como todo grande pescador, teria histórias para contar, muitas histórias. Talvez visse sereias, ouvisse seu canto, seria perigoso? Levantou e recomeçou a caminhar. Surpreso viu, ao longe, um velho que também olhava o mar. Continuou caminhando…e sonhando…então, de relance, viu algo brilhar na areia, parecia ser a ponta de uma caixa enterrada na areia, um baú? Seria um tesouro? Olhou em volta, somente o velho, a algumas dezenas de metros, o observava.
O garoto começou a cavar a areia com as mãos e a cada punhado que tirava, um baú aparecia mais e mais. Ansioso e curioso, cavou mais rápido até conseguir retira-lo. Olhava para o mesmo com o cenho franzido, imaginando o que poderia conter e como viera parar ali. Estava tão absorto, que não percebeu a aproximação do velho e se assustou quando ele disse:
— Vamos, abra o baú…
Surpreso, olhou para o velho e meio sem jeito e amedrontado, abriu a caixa de metal.
— Não tem nada, está vazia.
O velho sorriu. — Que Bom, tem espaço pra você colocar coisas…
O garoto o olhou. Era muito simpático o velhote e seu sorriso cativava. — Que coisas?
— Hummmm…que tal os seus sonhos?
— Como assim? E por que?
— Ora, pense nos seus sonhos e imagine que estão aí dentro, feche o baú e abra de novo…quem sabe quando abrir seus sonhos não se realizam?
O garoto hesitou, achando que o velhote era maluco. — Vamos menino, feche os olhos e pense em seus sonhos…
O garoto assim o fez e se imaginou colocando seus sonhos dentro do baú. Abriu os olhos e a caixa estava fechada. Sentiu um arrepio e algo falou em sua cabeça que deveria abrir a caixa.
Assim que abriu, um redemoinho levantou tanta areia a sua volta que não conseguia ver mais nada, nem o velhote. Escutou gritos e ondas batendo. O redemoinho passou e lá estava ele, em alto mar, a noite estava acabando e o sol nascendo. Olhou fascinado o nascer do sol, mas teve que ir ajudar os companheiros a retirar os peixes e tudo ia bem até que pavorosos tubarões apareceram e os peixes, desesperados debandaram. O barco seguiu em frente e, de repente, o mar que era uma calmaria só, se enfureceu e enormes ondas passaram a fustiga-lo. O céu fechou, uma tempestade desabou e o mar, em fúria, assustou a todos. Lutaram com as enormes ondas até que a tempestade passou, as ondas diminuíram e o mar voltou a ficar calmo. O fim da tarde se aproximava e chegaram enormes baleias, o garoto as olhava extasiado e feliz, pareciam cantar e pensou nas sereias, onde estariam elas? As baleias sumiram, a lua surgiu majestosa deixando o mar com uma inacreditável cor prateada.
O garoto, embevecido, admirou a escuridão do mar, sentindo o cheiro salgado, escutando o silêncio, quebrado pelo barulho das ondas no casco do barco e pela cantoria das baleias ao longe e, aos poucos, o sol foi rompendo a madrugada e nasceu deixando o mar em um inacreditável amarelo ouro, que fez o garoto abrir um belo sorriso, sabia que estava vivendo seus sonhos e só faltava o canto da sereia, seria perigoso? O dia avançava quando, de repente, um suave canto e os marujos gritaram para tapar os ouvidos e fechar os olhos. Quando o garoto os reabriu, não estava mais em alto mar, não havia sereia, não havia velho e nem o baú. Estava sentado na areia e sozinho na praia. O que acontecera? Tinha dormido? Não sabia.
Sorriu, levantou e saiu caminhando sabendo que um sonho nunca parecera tão real.