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segunda-feira 23 dezembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Ai, que saudades da cidade grande

Hoje vamos com um pequeno conto:
Um amigo, Zé Geraldo, foi visitar o sítio da tia da esposa, em uma pequena cidade mineira. Chegaram na hora do almoço e que almoço, digno de restaurante cinco estrelas. Logo após se alimentar, uma soneca para se recuperar da longa viagem. Por volta das quatro da tarde, acordou sozinho no quarto. Levantou, descansado. Era momento de aproveitar a tranquilidade do sítio. Saiu para o quintal e encontrou a esposa conversando com a tia e sentou junto a elas. Enquanto as duas “proseavam”, aproveitou para apreciar a paisagem, vista incrível, e era impossível não sentir a diferença do ar que se respirava ali. Então, viu algo se mexendo no gramado a dois metros de onde estava, fixou o olhar e quase deu um grito. Era uma aranha, enorme, gigante. Levantou com um pulo e antes que falasse algo, surgiram quatro galinhas e atacaram a aranha. Imagine só, salvo por quatro galinhas heroínas. Foi impressionante! Em segundos, comeram o bicho e Zé pensou em todas as galinhas que já comera, seu estomago se revirou, e decidiu que, tão cedo, não comeria um único pedaço de frango.

Depois do ótimo jantar, foi curtir o ar maravilhoso e a escuridão da noite, apesar do medo das aranhas. Mas, para sua surpresa, todos se preparavam para deitar e teve que ir também.

No dia seguinte, cinco horas da manhã, um maldito galo berrou embaixo da janela e o acordou. Todos já estavam em pé e a esposa, toda empolgada, resolveu que deveriam levantar também e, contra a vontade, o Zé levantou, tomou um banho, colocou a roupa, o tênis e foi em direção a um maravilhoso cheiro de bolo de fubá. Porém, antes de sentar à mesa, um dos primos o chamou para ordenhar a vaca e seu coração quase parou. Ordenhar uma vaca? Como assim? Morria de medo de vaca e o mais próximo que já havia chego do animal havia sido no açougue ou no churrasco. Não tinha como fugir e lá foi ele, apavorado e com medo daquela coisa alienígena. O cheiro de bosta era do outro mundo, estragou o ar puro da manhã.

E a coragem para chegar perto daquela coisa? E mais coragem ainda para sentar em um banquinho minúsculo, que mal cabia o traseiro, quase debaixo do monstro. O primo, o ensinou a tirar o leite e a sensação de segurar a teta de uma vaca foi algo que jamais esqueceria.

Indescritível! Seis meses depois e ainda se arrepiava ao lembrar da teta da vaca na mão. Jesus!
Depois daquela sessão de tortura, com o estômago embrulhado, foi para casa em direção ao cheiro de café, que já nem lhe despertava vontade de comer. Nem bem entrou na casa e correu ao banheiro lavar as mãos, umas cinquenta vezes. Voltou e a primeira coisa que viu na mesa foram os ovos com bacon e se lembrou da galinha comendo a aranha e quase vomitou.

Deus! Quero sair daqui! A esposa o olhava sorrindo e teve certeza que a desgraçada estava se divertindo as suas custas. Sentou para comer e, de imediato, recusou os ovos com bacon. A tia lhe deu uma enorme fatia de queijo e disse que faziam o queijo com o leite que retiravam das vacas. Ficou arrepiado e a esposa ampliou o sorriso. Depois do café, se animou um pouco, iriam conhecer a cachoeira que ficava na propriedade, mas era perigoso entrar na água porque tinha muita cobra. Apesar do café, sentiu um enorme vazio no estômago.

Outro primo foi calçar as botas e Zé o viu fazendo algo engraçado. Ele batia a boca do cano da bota no chão e olhava para dentro dela. Batia de novo e olhava. Fez isso três vezes e calçou as botas. O Zé não resistiu e perguntou por que fizera aquilo.

— É que tem muitas aranhas e escorpiões por aqui, e eles adoram entrar nos calçados.
Olhou para os tênis e quase os tirou. Só agora, alguém falava isso? Podia ter colocado o pé em uma aranha ou em um escorpião. Santo Deus! Como as pessoas conseguem conviver com isso? Quero ir pra casa, ai, que saudades da cidade grande.