Em meio às tristes chuvas e tragédias que assolam o litoral norte, fui passar, em excelente companhia, uns dias em Campos do Jordão, a Suíça Brasileira. Essa linda cidade, na serra da Mantiqueira, tão perto de Taubaté, que já fui incontáveis vezes, mas que nunca havia dormido uma noite sequer. Como na grande maioria das vezes, mesmo durante o dia, apesar de estarmos em pleno verão, nada de sentir calor, nada de camisa colando no corpo, suor escorrendo pelas costas e pelo rosto e empapando os poucos cabelos sobreviventes. Temperatura amena, agradável e que me faz sentir bem. As noites tendendo para o friozinho gostoso (isso no verão, porque no inverno o bicho pega), o ventinho frio aconchegante, o delicioso, e romântico, ar noturno de Campos do Jordão me levaram a sensações de puro êxtase. Amo o frio e amo Campos. Ou será que amo Campos por causa do frio. Ou amo o frio porque amo Campos? Sei lá, só sei que amo os dois. Acho que é difícil desvincular uma coisa da outra.
E olha, se já gostava de lá, agora é um sério caso de amor com essa simpática, chique e linda cidade. É claro que, como todas as outras, também tem seus problemas. O abismo, e a convivência próxima, entre classes sociais muito abastadas e pessoas em condições de rua (muitas). No belo e rico bairro do Capivari, por exemplo, local onde se encontram a “nata” de pessoas com muitas condições de vida e que desfrutam o que há de melhor em conforto e qualidade de vida, encontramos, muito próximos, pessoas que a vida não ofereceu as melhores oportunidades e que por motivos diversos, por culpa deles mesmos ou não, estão em terríveis condições. Falta de oportunidades para estudar? Falta de vontade de estudar em suas infâncias? Famílias desestruturadas? Falta de qualificações para trabalhos dignos? Falta de correr atrás? Comodismos? Tragédias pessoais que os colocaram nas ruas? Drogas? Culpa do país que não dá oportunidades para os mais necessitados? Difícil responder e seja por esse ou aquele motivo, de qualquer maneira, é muito triste ver pessoas tão necessitadas. Como disse antes, problemas que existem em qualquer cidade, mas que em Campos do Jordão tem um agravante, o frio. Não consigo imaginar como essas pessoas dormem nas frias noites da cidade.
Mas, infelizmente é a nossa realidade. É lógico que, assim como eu, a grande maioria das pessoas gostaria de resolver os problemas do mundo, mas isso não é possível.
Voltando a falar do lado bom de Campos, tudo começa na bela Floriano Rodrigues Pinheiro, a SP-123, com suas paisagens, e visual da serra da Mantiqueira, de tirar o fôlego. Paisagens que, aliás, inspiraram este escritor a escrever um livro, “Civilização Alienígena”.
A chegada a Campos, com seu lindo e tradicional pórtico, é digna do charme tão decantado da cidade. E, daí em diante, só alegria, são belezas inúmeras, uma atrás da outra. Tem uma situação que me surpreende e me chama a atenção, o tradicional respeito dos motoristas ao ver pedestres prontos para atravessar as faixas, sempre param. Deveria ser assim em todas as cidades.
Fiquei em um hotel maravilhoso, de sonhos, e só explorar o local já era uma coisa maravilhosa, mas vou confessar, café da manhã em hotel, como sempre é meu fraco.
Oh, meu Deus do céu, já vem o gordinho falando de comida. E aproveitando o assunto, que gastronomia maravilhosa de Campos. Santo Deus! Começa pelo enorme e delicioso pastel de trinta centímetros (muuuuuitoooo bom!) e continua pelos inúmeros e deliciosos restaurantes.
Aproveitando esses dias de pura tranquilidade, visitei a “Ducha de Prata”, alguns conhecem como “Véu de noiva”, simplesmente lindo. Local maravilhoso, puro contato com a natureza e como é gostoso ouvir o som ritmado das águas, puro relax. Não tem como não renovar as baterias e receber energias positivas nesse doce encontro com uma obra de Deus que proporciona reflexões e encontro com a gente mesmo. Parar por alguns segundos, talvez até minutos, fechar os olhos e ouvir o doce som da água e meditar. É inigualável, inesquecível, indescritível, principalmente se estiver envolto no abraço quente da pessoa amada.
Fui até o pico do Itapeva, 2035 metros de altitude, mas é claro, a neblina não me permitiu desfrutar da beleza imensa do visual. Não tem problema, fica para a próxima.
Espaço acabando, Campos tem muitas e muitas outras coisas belas, não dá para contar tudo.
Só uma coisa me entristeceu nessa viagem. A hora de voltar para casa.