O olhar atônito percorre o mato até a serra lá na frente, uma imensidão que se estende, desvio o olhar para o céu azul e infinito, respiro fundo, sinto o cheiro de mato, cheiro de natureza, fecho os olhos e, como diz a música de Simon & Garfunkel, escuto o som do silêncio. A brisa fresca me envolve, proporcionando momentos de extrema satisfação e arrepios de prazer percorrem meu corpo.
Continuo a escutar o silêncio profundo, há prazer nisso, e, no enorme campo que se estende à minha frente a natureza me sorri. Abro os olhos e observo toda minha volta. Estou sozinho, em comunhão com Deus e fazendo companhia para mim mesmo. Levanto e caminho lentamente pelo mato, tranquilamente, sem preocupações, sem stress, absorvendo cores, formas e sons da natureza à minha volta.
As horas passam implacáveis e o sol começa a se esconder atrás da serra e pinta o céu com um alaranjado inebriante. Obra do melhor dos artistas. Aquele alaranjado me extasia, me inspira e sorrio. Gratidão enorme em poder ver aquilo, presenciar aquilo, me extasiar, gratidão em poder curtir e desfrutar daquele belo fenômeno da natureza.
Distraído com aquela beleza, absorto, em paz, escuto uma voz em minha mente, ela traz a nova história, e mais um conto invade minha mente, inspiração divina, só pode ser. Daqui a pouco vou transcreve-lo para o papel. Quisera eu ter a capacidade de traduzir perfeitamente aquele momento, aquela beleza indescritível.
Caminho para a singela casinha branca, aquela que povoa o imaginários dos poetas, e me sento no alpendre admirando a alternância de tons no céu. O alaranjado escurece um pouco, os morros da serra parecem envergonhados por esconder o sol, mas lhes digo para não se preocuparem, a culpa não é deles, a culpa é da noite que vem chegando. O dia luta, resiste, teimosamente tenta ficar, mas a noite vence, por enquanto, e o sol se esconde de vez. Depois, chegará seu momento de brilhar novamente.
A escuridão toma conta, grilos se manifestam, cigarras fazem o seu canto ensurdecedor, sapos seguem seus instintos e saem à procura de suas fêmeas e, ao longe, um lobo apaixonado uiva para a lua que surge. As galinhas já tomam seus lugares nos galhos e os últimos pássaros, se acomodam em seus cantos e deixam o céu livre para morcegos e insetos noturnos.
Estrelas aparecem, sorridentes, alegres, iluminadas, felizes, querem fazer companhia a lua, mas estou só, apenas a solidão me acompanha.
Olho em volta, escuridão quase total, quebrada apenas pela claridade dos astros que despontam no céu infinito e animais noturnos fazem sua reverência a Deusa noite.
Entro em casa e acendo as velas para iluminar minha noite.
Um pouco atrasado chega o frio, o delicioso frio, que sempre vem com a noite, e a temperatura despenca, para minhas felicidade. Acendo a lareira e a claridade e o calor invadem minha sala.
Me sento próximo as chamas e, aquecido, escrevo meu conto, é sobre a solidão.
Leio e releio várias vezes. Creio que, como esperado, não consegui transcrever a beleza e, ao mesmo tempo, a melancolia daquele momento. Normal. Mas, me dou por satisfeito, me levanto. Agora, é hora de aquecer água para o banho, depois jantar e dormir.
Coloco o despertador para o horário que me permite ver o dia vencer a noite mais uma vez, ver a nova vitória do sol sobre a lua, mesmo sabendo que depois a lua vai vencer novamente e assim tudo se sucede.
Apago as velas, deito e olho para escuro. Sorrio para o nada e, feliz, viro de lado e fecho os olhos com a certeza de que a solidão pode ser uma benção, sei que só depende de mim.