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sábado 16 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – A noite e o escritor

Olha, sentei em frente ao notebook, nessa última terça-feira, 25/01/22, pouco depois das 23h00, precisava escrever minha coluna para o Jornal.
Depois de alguns minutos olhando para a tela vazia, inexpressiva e fria do meu computador, sem saber o que escrever, abri a pequena janela da sala e olhei para a rua em frente, estava deserta, silenciosa, quase que misteriosa. O escuro da noite me fascina, o silêncio é inebriante, a calmaria, a tranquilidade, parece que o mundo acabou e esqueceram de me avisar, então comecei a escrever, quase que automaticamente.
E começou assim…

O escuro vem chegando e com ele o silêncio…e com o silêncio vem a inspiração.
E, para um escritor, solidão e silêncio nunca são demais.

As luzes das casas se apagando, ao longe um cachorro late, um carro passa, uma moto e o silêncio da noite vai aumentando com o avanço das horas.

As ruas desertas e mal iluminadas escondem mistérios, árvores balançam lenta e misteriosamente com a brisa fria, como se estivessem adquirindo movimentos próprios.

O céu se enchendo de estrelas ou, talvez, de negras e assustadoras nuvens. Talvez só uma chuvinha fina ou uma chuva pesada produzindo sons como se fosse uma orquestra, não importa…a inspiração já se instalou e lá vai o escritor dar vazão à sua fértil imaginação.

De sua mente enlouquecida vão sair os contos de terror que apavoram, a poesia que emociona, o romance policial ou suspense que intrigam. A dura batalha entre o mocinho e o vilão que nos faz prender a respiração.
A guerra que assusta e os épicos que despertam dúvidas e curiosidades.

De tempos em tempos, o escritor tira os olhos da tela e, pela pequena janela, olha para a rua e seus olhos observam as sombras da noite e, dali, surgem alienígenas apavorantes ou simpáticos, não, alienígenas simpáticos não teriam graça. Talvez, a mente fértil e ensandecida do escritor veja monstros apavorantes, dos mais terríveis pesadelos.
Talvez, a crônica divertida ou intelectual se materialize ou um simples artigo, quem sabe o que surgirá? Talvez um romance que emociona e que molha os olhos dos leitores apaixonados.

Ou talvez, ainda, o romance erótico, tórrido, que excita, entorpece.
E assim vai…

Não raro, os olhos pesam, o sono aparece, mas o escritor, à meia noite, descreve com perfeição o lobisomem declarar seu amor à lua cheia.

Sua mente não para, imaginação infinita e ele se transforma, entra em transe no afã de colocar no papel o que a mente louca produz.
A noite, oh, a noite…esconde desejos, pensamentos sombrios, certos, errados, inenarráveis. Provoca sorrisos, medos, arrepios.

E a noite segue, cada vez mais silenciosa, cada vez mais misteriosa, cada vez mais inspiradora.
O escritor tem sede, mas não de água. Tem sede de escrever, de esvaziar a mente, de divulgar os mais profundos pensamentos e sentimentos. Escreve enlouquecido, com prazer, com amor, como se fosse a última linha a escrever.
O escritor sente o suor escorrer pelas costas, mesmo com o ventilador na velocidade máxima, e nem percebe. Está longe, em outro planeta, outra dimensão. Talvez nem pisque, sei lá.
Dizem que a noite é uma criança e que é dos amantes e daqueles que tem insônia.

Eu diria que é dos escritores também, essa classe louca, mal reconhecida e recompensada.
E assim, letras formam palavras que formam frases, parágrafos e, por fim, uma história louca, aterrorizante, emocionante, triste, alegre e divertida, mentirosa ou sincera. Simples devaneios ou textos técnicos e intelectuais, ah, a noite e o escritor, podem produzir cada coisa.

Fecho a pequena janela da sala, desligo o notebook, mais uma luz que se apaga e vou dormir, afinal, já é quase uma da manhã.
Mas, vou dormir feliz, meu artigo está escrito.