Após seis filmes da excepcional franquia Rocky, que explorou o crescimento de um dos protagonistas mais lembrados do cinema, parecia difícil extrair algo mais dessas histórias sem perder a relevância que sempre trouxeram à tona. Nesse clima de desconfiança nasceu Creed, em 2015, que se transformou em uma das mais belas surpresas que aquele ano nos deu. A sequência era mais que inevitável, se tornou aguardada.
Seguindo pelo ramo de ser muito mais que um filme sobre o boxe, a sequência aposta forte na carga dramática e entrega um longa recheado de emoção. Aproveitando temas já debatidos antes na franquia, mas com todo o cuidado para não soar repetitivo, o roteiro debate a paternidade em vários níveis. Roteiro, aliás, escrito como sutileza invejável e, ainda que não fuja da previsibilidade, consegue nos fazer esquecer das obviedades e torcer como uma história totalmente original. Todo o texto e subtexto são ricos e cheios de mensagens importantes. Mostram como algumas relações entre pais e filhos podem ser tóxicas e geram uma pesada expectativa na vida dos filhos. Trazer de volta Ivan Drago (Dolph Lundgren) e apresentar seu filho como antagonista não só reforça essa experiência como mexe, também, com o saudosismo dos fãs.
O diretor Steven Caple Jr. passa boa parte do longa tentando emular a direção empregada no filme anterior, realizada por Ryan Coogler, e, embora não apresente defeitos, não atinge o estilo de Coogler, tornando as cenas apenas competentes, sem invenções ou personalidade própria. Tal fator não se aplica, porém, nas cenas de luta. Caple Jr consegue bons planos durante as verdadeiras batalhas e, mesmo não utilizando planos longos, faz bom uso da mescla entre tomadas abertas e fechadas, impõe ritmo frenético e, ainda, dá o impacto certo dos golpes para o público sentir com os personagens. A montagem das cenas é inteligente e envolve os espectadores, ainda mais com as atuações de Michael B. Jordan, Sylvester Stalone e Tessa Thompson, atingindo o feito de amadurecer os personagens que já eram excelentes na história predecessora. Aplica-se aqui outro elogio ao roteiro, capaz de não só desenvolver um ótimo arco ao protagonista, como também entregar ótimas subtramas aos coadjuvantes. Todos com seus próprios arcos que os transformam ao longo da narrativa.
Com um terceiro ato digno da franquia, Creed II alcança o maior mérito que poderia almejar. O filme pega nas mãos do público e traz a todos para a luta, nos fazendo sentir as dores dos golpes, lutarmos com Adonis, torcer pelos personagens e vibrarmos com suas vitórias. Destaque para o momento onde a trilha consagrada da franquia é entoada e deve levar muitos marmanjos às lágrimas. Mais que nos ensinar pelo que lutar, Creed consegue nos dar lições importantes não só acerca da temática da paternidade, mas também a lição de como expandir o universo cinematográfico de uma franquia de forma digna, respeitando o passado, olhando para o futuro.
Creed II
jan 26, 2019Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em Creed IILike
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