Laboratórios particulares e farmácias em todo Brasil vêm registrando aumento nos testes positivos para covid-19 nas últimas semanas, em um indício do que epidemiologistas classificam como um “alerta” para uma nova onda de casos no país.
Levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) mostra que a taxa de exames positivos para a doença em laboratórios particulares passou de 3% para 17% em menos de um mês — um salto de 566%.
O aumento de casos foi registrado principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do país, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso.
O ITpS também registrou alta na procura por testes ao longo do mês de outubro em todo o Brasil.
Já nas farmácias, os exames positivos para a doença voltaram ao patamar de dois dígitos, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que reúne 26 redes responsáveis por cerca de 45% das vendas de medicamentos no país.
Das 14.970 testagens realizadas de 17 a 23 de outubro, 2.320 (15,5%) apresentaram diagnóstico positivo. Na semana anterior, a taxa havia sido de 9,36%.
O epidemiologista e pesquisador da ITpS, Anderson Brito, explica que a alta de testes positivos aponta para a tendência de surgimento de uma nova onda em algumas semanas.
“Provavelmente observaremos um aumento geral de testes positivos nos próximos dias, assim como aconteceu nas outras duas ondas de 2022”, diz.
A demora para que o salto nos casos identificados pelas farmácias e laboratórios particulares seja também notada com clareza nos dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass) é natural, segundo o especialista.
“Os testes em laboratórios servem como um termômetro — quando há uma alta na positividade no sistema privado é questão de tempo até começarmos a observar isso também na rede pública e de forma mais ampla.”
Para o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, os aumentos registrados até agora são “um sinal de alerta”.
“Não há motivo para desespero, pois ainda não sabemos a gravidade da onda ou se os casos provocarão muitas internações e óbitos”, afirmou o especialista à BBC News Brasil. “Mas precisamos lembrar que a adesão às doses de reforço no Brasil tem sido baixa, o que não é uma boa notícia.”
Quase 80% da população brasileira recebeu duas doses da vacina contra a covid-19, mas menos de 50% foram imunizados com uma ou duas doses de reforço, segundo dados das secretarias estaduais de Saúde.
“A vacinação é o melhor caminho para o fim da pandemia e o grande desafio é lembrar a parte da população que ainda não se imunizou ou tomou as doses de reforço disso”, afirma Hallal.
Do Sudeste para o resto do Brasil?
O levantamento do Instituto Todos pela Saúde aponta para uma alta especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso.
Neste último, os testes positivos subiram de 3% para 18% entre os dias 22 e 29 de outubro — ou seja, foram registrados seis vezes mais diagnósticos.
Já em São Paulo, no mesmo período, os positivos subiram de 10% para 19%. No Rio, de 15% para 26%.
Mas segundo os epidemiologistas consultados pela BBC Brasil, a tendência é que a nova onda ultrapasse as fronteiras desses Estados e chegue a todo o país em breve.
“Desde que a pandemia começou, o aumento de casos começa em uma região restrita, mas logo se espalha”, diz Pedro Hallal. “Ou seja, é provável que a nova atinja também outras partes do Brasil.”
“A covid é uma doença que se dissemina muito rápido e facilmente. Leva o tempo de um voo para que uma nova variante saia de São Paulo e chegue no Pará”, afirma Anderson Brito.
O epidemiologista explica, porém, que a pandemia nem sempre acontece ao mesmo tempo em outros lugares, especialmente quando se trata de países e continentes diferentes.
“A Europa está saindo de sua última onda de casos, que durou cerca de dois meses, e só agora estamos observando uma tendência de aumento no Brasil”, diz.
No último final de semana, uma nova variante do coronavírus, chamada de BQ.1, foi identificada no Rio de Janeiro, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.
A variante já havia sido encontrada no Amazonas em 20 de outubro, de acordo com a unidade da Fiocruz no Estado, o que fortalece a suposição de que ela já circula em diferentes locais do país.
Nos Estados Unidos e na Europa, a BQ.1 já é considerada dominante.