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sábado 23 novembro 2024
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Contos e Crônicas do escritor – Para refletir

Um jovem caminhava lentamente e haviam várias pessoas à sua volta. Ele olhava a estranha, bela e verde paisagem à sua volta, natureza de beleza incomparável. E, sorrindo, se perguntava que lugar era aquele, não fazia a menor ideia onde estava ou para onde seguia e nem se preocupava, estava em paz, feliz e, sem saber porque, havia em seu interior uma certeza de que estava indo para algum lugar bom, abençoado. Não havia o que temer. Olhava extasiado para tudo e se admirou com o azul daquele céu e com o forte amarelo de um sol que o aquecia sem o incomodar. Sorria para tudo e para todos.

Alguns metros atrás dele, caminhava um senhor de bigode farto, queixo quadrado e com grandes entradas em sua cabeça enorme, que erguia com altivez. Olhar duro que demonstrava irritação, pura insatisfação. Um evidente ar de superioridade e arrogância. Também não entendia porque caminhava, também não sabia onde estava e nem para onde ia. Mas, ao contrário do jovem, não estava feliz, muito pelo contrário, estava cheio de ódio por estar caminhando entre pessoas inferiores e se perguntava onde estariam seus belos carros, suas belas roupas, suas belas mulheres. Porque caminhava pela poeira? Olhou com raiva, desprezo, nojo, para os que o acompanhavam. Queria sair, se isolar em seus palácios e deixar a companhia de gente pequena. Queria sair da estrada poeirenta e cheia de buracos e não conseguia, uma força maior o impedia. Olhou para o céu e ficou mais irritado ainda com o dia cinzento e cheio de nuvens negras que anunciavam uma grande tempestade e se revoltou, tomaria chuva. Como era possível que justamente ele que sempre tivera tudo, sempre estivera acima de todos, teria que tomar chuva só porque não conseguia sair daquela maldita fila.

E, um pouco mais à frente do jovem, seguia outro homem que caminhava com um sorriso frio, furtivo, sarcástico e ele também não fazia ideia de onde estava e nem para onde ia, mas havia uma certeza em seu interior, mais uma vez escapara, mais uma vez estava ileso. Era sempre assim e sentiu vontade de gargalhar. Era muito esperto e, sem saber como, mais uma vez se safara de seus crimes. Roubara, matara, estuprara e, de novo, estava escapando. Era muito esperto, não havia como lhe pegar, só se preocupava com o fato de não conseguir sair daquela estrada cheia de buracos e pedregulhos, mas não via policiais, então, não estava sendo preso, estava livre. Observou carcaças de animais mortos à beira da estrada, sentiu o mal cheiro, viu lixões à sua volta e imaginou que seria muito fácil se esconder no meio deles, se entendia bem com o lixo. Mas o diabo era que não conseguia seguir para lá. Olhou para trás, para as pessoas que o acompanhavam, semblantes tristes, olhavam para baixo, pareciam preocupados, assustados, como se temessem o que havia à frente e pensou: — Gente fraca, insignificante. Deu um pulo quando um raio assustador cruzou o céu, acompanhado de um terrível trovão. Olhou para cima, muitas nuvens negras, tempestade à vista e, com certeza, viria acompanhada de muito vento e raios. Estremeceu e desejou chegar logo para onde estava indo, mas seu corpo tremeu, como se estivesse tendo uma convulsão e entendeu que, mesmo sem saber, temia o que estava à sua frente. Esticou o pescoço, mas só viu cabeças, muitas, e até imaginou que estivesse louco, havia chifres e mais chifres. Uma das cabeças, com chifres pontiagudos, virou o pescoço e olhos vermelhos e frios o encararam e sentiu arrepios. Havia um estranho e assustador sorriso, se apavorou e, instintivamente, procurou sua arma e não encontrou. O olhar era terrível, maligno, e o sorriso indescritível. Apavorado, tremendo, fechou os olhos e ao reabri-los não mais viu aquele ser estranho. Engoliu em seco, sentindo os pelos da nuca arrepiados. Apurou os ouvidos e agora percebia, havia gemidos, lamentos e se apavorou com o que estava por vir. Por um breve instante, imaginou que ao seu lado estava uma de suas vítimas. Piscou os olhos e ela também sumiu, como o estranho à sua frente.

Seria sua consciência que viera para lhe cobrar? Estaria ficando louco?

Ou, simplesmente, a justiça divina? Sim, poderia ser mais um dos mistérios da vida.