Projetado na Guerra Fria, o avião pode resistir às consequências de uma explosão nuclear. Na mesma época, Estados Unidos tentavam criar avião movido a essa energia.
O Boeing 747 E-4B, pertencente à Força Aérea norte-americana, é uma das maiores fortalezas da atualidade. Projetado durante a Guerra Fria para suportar as consequências imediatas de uma detonação nuclear, o Avião do Juízo Final é utilizado para transportar o Secretário de Defesa dos EUA.
A aeronave tem três andares e suporta uma equipe de até 110 pessoas, com diversos ambientes que funcionam em sistema analógico – afinal, uma tecnologia digital não resistiria ao salto eletromagnético proveniente de uma explosão nuclear.
Mas essa não é a primeira vez em que os EUA relacionam energia nuclear a aeronaves.
Na década de 1940, uma nova era se anunciava: a Era Atômica, com o perigo da aniquilação imediata só um pouquinho compensado pela promessa de energia ilimitada.
Não é de se estranhar que, logo após o fim da Segunda Guerra, a Força Aérea dos Estados Unidos criasse o Nuclear Energy for the Propulsion of Aircraft (NEPA), programa de desenvolvimento de um bombardeiro movido à energia nuclear, capaz de permanecer indefinidamente no céu, sem precisar reabastecer (submarinos nucleares modernos só precisam de combustível a cada 25 anos).
O projeto
Antes dos mísseis nucleares se tornarem padrão, na década de 1960, o arsenal atômico seria entregue à Rússia de avião. Por décadas, uma força de bombardeios estava de prontidão para aniquilar o território inimigo.
Um avião que pudesse ficar no céu por dias ou semanas, até acabarem as provisões da tripulação, sempre de prontidão a atacar, era extremamente atraente: o país que o tivesse teria enorme vantagem no tempo para preparar um ataque.
A ideia de criar uma aeronave do tipo surgiu em 1942 com Enrico Fermi, um dos criadores da bomba atômica. Na época, não se sabia como a radiação afetaria a estrutura, o equipamento, o material e, principalmente, a equipe da futura aeronave.
Do reator para o motor
Em 1947, com o investimento de 10 milhões de dólares da Força Aérea, o programa ganhou força. Pesquisas extensas em tecnologia de reatores nucleares foram feitas entre 1948 e 1951 até ser decidido que um único reator seria necessário. O maior obstáculo foi estabelecer como a energia nuclear seria transferida para um motor convencional. A resposta foi o HTRE-3, que permitia que o ar entrasse no motor por um compressor e fosse redirecionado para o centro do reator.
Para proteger a equipe dos efeitos nocivos da radiação, foi utilizado um conceito chamado Shadow Shielding – camadas de cádmio, parafina, óxido de berílio e aço foram distribuídas para isolar tanto a equipe quanto o reator. Isso fez com que o equipamento do avião também fosse preservado e o peso da aeronave ficasse mais distribuído.
Em 1951, o bombardeiro Convair B-36 Peacemaker, sucessor do B-29 de Hiroshima e Nagasaki, foi escolhido para as fases iniciais de teste.
Bem maior que o modelo da Segunda Guerra, com 49 metros de comprimento, 70 de envergadura e capacidade máxima de decolagem de 186 toneladas, era a única aeronave grande o suficiente para carregar o reator e o motor desenvolvidos.
Após passar por modificações para acomodar o reator e a equipe com segurança, nascia o NB-36 “Crusader”.
Fase de testes
O NB-36 foi projetado para utilizar a energia nuclear do reator apenas quando estivesse em altitude de cruzeiro. Durante a decolagem e a aterrissagem, o sistema convencional era usado para minimizar vazamentos de radiação em casos de acidentes.
No total, foram 47 voos registrados entre 1955 e 1957 – mas nenhuma vez o reator nuclear foi utilizado para alimentar a aeronave. Ele foi ligado apenas para testes e para coletar dados sobre a viabilidade de utilizar reação nuclear em veículos móveis.
Possível, porém não desejável. O desenvolvimento em tecnologia e design de aeronaves convencionais, assim como a opinião contrária do público sobre o uso de energia nuclear, fez com que o projeto fosse por água abaixo.
Após gastar nada menos do que U$S 469.350.000, foi arquivado pela Força Aérea dos Estados Unidos na década de 1960.
A humanidade perdia a chance de desfrutar de um voo sem fim. E de ter um reator nuclear caindo sobre suas cabeças.