Conheça a impressionante história do astronauta James Irwin
Ao final do primeiro dia de exploração da Lua, o astronauta americano James Irwin, integrante da missão Apollo 15, disse estar com algo na cabeça.
Ele deixou vazar o conteúdo de sua mente pelo rádio com o Centro de Controle de Missão em Houston:
“Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro?”
Esse é o primeiro versículo de Salmos 121, que continua com: “O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra”.
Uma passagem bíblica não exatamente adequada para uma missão que transcorria sem qualquer transtorno. Irwin então achou um jeito de quebrar a tensão: “Mas, é claro, recebemos um pouco de socorro* de Houston também”.
Irwin disse que teve um epifania no espaço. A partir dali, ele se dedicou apenas a Deus. Onze anos depois, o oitavo humano a pisar na superfície da Lua estava em uma aventura bem diferente, no Monte Ararat, na Turquia.
Uma aventura que, segundo Irwin, era muito mais importante que a primeira: encontrar a Arca de Noé. Um barco de madeira gigante capaz de carregar um casal de cada espécie terrestre do planeta, dos elefantes aos pinguins e carrapatos, para protegê-los de uma enchente que cobriria o topo do Everest.
A Arca de Noé
A história da Arca não é exatamente amigável ao pensamento científico. Sabemos hoje que existem espécies demais para algo assim ser possível, que a água no planeta é constante, e que um dilúvio assim seria facilmente visível no registro geológico – o que não é. A dinâmica de populações também tornaria impossível o mundo ser reabitado em tão pouco tempo. Por fim, madeira é biodegradável e desaparece do registro arqueológico, salvo em condições muito especiais.
São razões para a maioria dos cristãos encararem a Arca como uma alegoria, não algo que aconteceu realmente, ou que aconteceu, mas não exatamente como está na Bíblia. Porém, Irwin não era um cristão como a maioria.
A busca de Irwin
O monte Ararat, na Turquia, é o local mencionado tanto na Bíblia quanto no Alcorão como o ponto de “pouso” da Arca. Apesar de não ser particularmente alto nem exigir um nível técnico elevado para ser escalado, ainda assim possui seus perigos: encostas íngremes e grande quantidade de gelo e pedras.
Irwin foi à Turquia acompanhado de Bob Cornuke, ex-membro da SWAT. Chegaram a ser detidos pelas autoridades turcas sob acusação de espionagem – partes do Ararat são zonas militares e é preciso uma permissão especial para escalá-lo. Cornuke admite que eles tinham altas expectativas em encontrar a Arca. “Sempre existia a chance de encontrarmos o velho barco escondido no gelo no topo do Monte Ararat”, ele disse. “E quando existe uma chance, vale a pena o esforço.”
O ex-astronauta terminaria por quase morrer na empreitada. Em uma das tentativas de escalar o Monte Ararat, em 1982. ele foi gravemente ferido por uma queda de rochas e sofreu inúmeras lacerações no rosto e nas pernas. No ano seguinte, ele ainda sobrevoou o Monte Ararat com um helicóptero para tentar encontrar pistas. Novamente, falhou. “É mais fácil caminhar sobre a Lua”, ele terminaria por constatar.
Caçada sem fim
Sem nunca desistir, o astronauta morreria relativamente cedo, em 1991, aos 61 anos, por problemas cardíacos.
Sua história não dissuadiu outros caçadores da Arca. Em setembro 2011, o pedreiro escocês Donald Mackenzie foi pego por uma nevasca brutal a quase 4 mil metros. Seu corpo nunca foi encontrado.
A última “descoberta” relacionada a ela foi divulgada em outubro passado, quando o “especialista” americano Paul Esprante anunciou que havia encontrado no Monte Ararat uma estranha colina em formato de barco. Essas aspas todas são porque nenhum dos meios que abordou o achado – começando pela agência estatal turca – citou qualquer filiação acadêmica. Uma pesquisa por seu nome só traz a própria notícia, nenhum site pessoal, nem de universidades.
“É altamente improvável que a arca exista”, afirma Bob Cargill, professor-assistente de religião na Universidade de Iowa. “A história bíblica do dilúvio é adaptada de histórias anteriores sobre inundações na Mesopotâmia, como as epopeias de Atrahasis e de Gilgamesh. Os estudiosos mais críticos entendem que a história da inundação bíblica é uma reformulação desses mitos, recriados para refletir a identidade, ideologia e teologia judaica.”
Biografia
Foi selecionado para o grupo de astronautas da NASA em abril de 1966 e serviu na equipe de apoio em terra da Apollo 10 e piloto-reserva do módulo lunar da Apollo 12, a segunda missão a pousar na Lua. Em 26 de julho de 1971 foi lançado ao espaço na Apollo 15, com o comandante David Scott e o piloto do módulo de comando Alfred Worden para uma missão de 12 dias de ida e volta à Lua. Irwin e Scott pousaram na região conhecida como Hadley–Apennine e exploraram a área com o jipe lunar, trazendo de volta mais de 70kg de amostras de rochas e solo da região. Retornou à Terra em 7 de agosto.[1] Retirou-se da agência em 1972 sem realizar outro voo.
Irwin, de todos os homens que pisaram na Lua, foi o mais afetado em termos religiosos pelo feito, passando a pregar como sua experiência no espaço o havia feito sentir mais verdadeiramente a presença de Deus no mundo real e aumentando sua fé no Cristianismo. Após deixar a NASA e a Força Aérea dos Estados Unidos, ele fundou a missão cristã High Flight, e chegou a comandar várias expedições ao Monte Ararat na Turquia, na esperança de descobrir os restos da Arca de Noé, buscas que resultaram infrutíferas. [2]
Na verdade, estas expedições não foram provocadas apenas por uma profissão de fé, mas também pelo fato de que satélites americanos, que fotografavam o território turso do espaço, assinalaram a presença de objetos estranhos perto do cume do Monte Ararat, que nas fotos da órbita terrestre pareciam ser restos de longas toras chatas e curvas de madeira, como as usadas na confecção de antigas embarcações.
Esta área da Turquia, a apenas alguns quilômetros das fronteiras da então União Soviética e do Irã, era fechada a estrangeiros e à própria população civil turca durante certo período da chamada Guerra Fria e apenas Irwin e seu grupo tiveram uma permissão especial do governo turco para as pesquisas arqueológicas na região. Na última destas expedições, ele feriu-se seriamente escalando a montanha e teve que ser carregado ferido de volta aos Estados Unidos.[3]
Morreu em 1991 de ataque cardíaco em Glenwood Springs, no Colorado, deixando mulher e cinco filhos, o primeiro dos homens que andaram na Lua a morrer. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Nacional de Arlington.