1 – Anjos e mito – a beleza
Do meio da pedra surgiu um anjo minúsculo chamado Damon, tinha uns trinta centímetros de altura, olhos azuis, pele avermelhada, cabelos negros como a essência que gera essa cor. Vestia uma túnica tecida com pó de cristal puro.
2 – Tulipa “Autos” – o mundo emparedado
Falou com um jovem que estava sentado num quadrado de ardósia. “Eu vim de longe, a minha casa fica atrás da estrela infindada. Eu criei uma palavra que se lê através de uma fonética simples “autos”. Estabeleci o seu significado observando o sorriso de uma tulipa vermelha. “Entrar em si mesmo, penetrar nas cavernas de sua alma e, de lá, refletir sobre a face de um mundo, onde vivem as chamadas pessoas normais. Por isso, vim fundar o universo das misteriosos, silenciosos, capazes de entender, a seu modo, as alegrias que desenham as galáxias.
3 – A viagem para o cinema
Eu vou agora, viajar pelo tempo, tudo é possível, pretendo dar uma olhada no ano de 1993, tempo em que um grupo de homens normalíssimos, mas desligados da rotina universal realizaram um atentado contra o World Trade Center, mas não é sobre isso que pretendo girar o meu discurso. Eu quero falar e sentir um filme denominado “ O Enigma das Cartas”, de Michael Lessac, nos Estados Unidos, extraído de uma história de Michael Lessac e Robert Jay Lutz, roteirizado para o cinema, uma arte que trabalha a fusão do vocabulário, da música, da imagem revelada por câmaras, objetivando a mobilidade diante dos olhos. Essa narrativa caminha incorporada à palavra que criei há séculos, a minha “autos”, antropológica, psicológica, mitológica, folclórica, intelectual.
4 – O filme
De início, sem causar espanto, o termo carta sugere assunto, história, acontecimentos, esclarecimentos, necessidade, ajuda, amor, paixão, saudade, vida e morte. Porém, se a carta é enigmática, existe um véu escuro a cobrir inúmeros sentidos, significados, ou pedaços de estradas entre as palavras que foram esquerdos ou si tornaram nebulosos antes da chegada.
5 – A permanência e a imobilidade
Eles moravam no México, viviam todos os dias para serem vividos. Moravam numa casa comum, uma série de cômodos distribuído sobre um terreno. O marido, o pai, que se movimenta em seu trabalho; a mãe Ruth Mattew envolvida na arquitetura, o filho adolescente Michael e a filhinha de 5 anos, Sally, desenvolvendo sua infância nas atividades próprias de sua idade. O pai, a pouco tempo, morrera em uma queda de uma ruina maia que estava escalando. Morte trágica, ocorrida na vontade de entender, desvendar, interpretar a caminhada dos povos antigos.
6 – A morte – Tânatus reencaminha
A família, após a morte do pai, retorna a antiga casa onde moravam nos Estados Unidos. Um certo dia, a menina Sally, conversando com um trabalhador descendente da civilização maia, sobre as divindades e os motivos que justificam a vida, ele conta a menina que seu pai está na lua, vendo e convivendo com os astros.
7 – Autos – como funciona
Na chegada dos dias, das tardes, e das entradas das noites, Sally começa a agir de maneiras estranhas, mantendo longos silêncios, gestos fechados, olhares observando o calor do mundo invisível, cabeça baixa, realizando tarefas que arregimentavam números, desenhos, geometria, colunas erguidas em folhas de papel, representando a dança balançando os corpos dos sonhos. O seu olhar abandona a terra, os lagos, os movimentos que aquecem a cidade, e parte em direção ao céu, à lua, ao silêncio que corre pelas ruas.
8 – A sua fala – o olhar da lua
A sua voz silencia-se no calor da vontade, da mente, do aquecimento da vida e dos acontecimentos. As árvores, as raízes penetradas no solo são usadas por Sally como escadas que a levam até o espaço, no caminho que transporta à visão da lua silenciosa.
9 – O pai e a solidão
Embora o deusinho Damon tentasse mostrar que Sally fizera uma viagem para dentro de si mesma, ninguém o enxergava, via ou ouvia. A escola resolveu enviá-la a um psiquiatra, homem que captava o significado do autos de Damon; a mãe não aceitava o tratamento, acreditando que poderia trazê-la de volta.
O médico presenciou o mundo de Sally várias vezes; quando como um bocejar do vento, subiu ao telhado, junto à mãe, que fora buscá-la. O surto da menina ao ver que o boné da cabeça da mãe estava ao contrário foi desesperador, pois no roteiro da terra à lua, não caberia inversões de ideias ou desleixos físicos.
10 – O ar e o vento
Na quarta-feira para alegrar o mundo de Sally, Ruth a levou ao seu local de trabalho, a construção de um prédio. A menina, agitada por seus sentimentos, imaginação, olhar ultrapassando o vazio das alturas, escalou 40 degraus da mesma maneira que atravessava um parque de diversões.
11 – A ciência e a maternidade
Embora a mãe não concordasse com o diagnóstico do psiquiatra, aceitou acompanhar o tratamento. Os tratamentos percorriam os corredores da ciência e, à noite, Sally construiu um lindo castelo de cartas. A construção seguiu uma estrutura racional e lógica; a matemática fora usada, a física suportara o apoio, e a lua centralizava-se nas últimas cartas.
12 – O castelo de cartas
A mãe, arquiteta, percebeu que aquele castelo aproximava a visão usando uma forma cilíndrica da lua e dos astros, onde o seu pai, embora solitário, vivia entre os mistérios dos silêncios e das noites. A mãe, mesmo confrontando a postura científica construiu a torre de cartas projetada pela filha, em madeira compensada. De madrugada, lua clara como os signos divinos, a menina Sally escalou a escada de madeira realizada pela mãe. Lá em cima, os seus olhos encararam os buracos da lua, as sombras movendo esperanças possíveis, e o pai pensando a profundidade sem fim do universo construído por um Deus.
13 – O temor da ciência
O psiquiatra, ao vê-la no topo da escada de madeira, que já fora de cartas vai buscá-la, movida pelo medo, pela incompreensão, pelos absurdos inaceitáveis, mas, em algum momento, sentiu que o coração da mãe estava presente naquele projeto que navegava no ar.
14 – A mãe remodela a ciência
A mãe retoma a filha dos braços do médico e, juntas, retornam ao topo da escadarias; ao ver novamente a lua, ao lado da mãe, Sally despede-se do pai; no seu retorno à terra, a menina volta a normalidade, fala, volta a sorrir, entra em sua casa, abandonando o seu mundo interior, onde vivera uma realidade inadaptada ao mundo dos homens normais.
Aos meus leitores
Acredito que as palavras
Nascem do pensamento de Deus.
As palavras indicam o cheiro,
A cor, o jeito de ser da natureza.
Os vocábulos tentam nomear
As máquinas e seus parafusos.
Os satélites e o rompimento
Do destino de todas as galáxias.
O personagem Damon
Estava presente na Torre de Babel.
Ele viu Deus misturando as línguas num tacho de outro abrilhantado. Damon, por vontade do criador, inspirou em seu ser a criação da palavra “Autos”, para possibilitar todos os homens a visitar, no frio, no calor, na beleza, o seu próprio avesso.
A ciência sempre desperta, criou a palavra autista ampliando o termo “autos” para nos explicar o filme “O Enigma das Cartas”.
E o anjinho Damon partiu para viver novas histórias, dentro de outros seres.
MUFFINS COM GOTAS DE CHOCOLATE
Ingredientes: 1 xícara (chá) de farinha de trigo; meia xícara (chá) de açúcar; 2 ovos; 3 colheres (sopa) de óleo; meia colher (chá) de essência de baunilha; 1 colher (chá) de fermento em pó; 3 colheres (sopa) de água quente; 100 g de Gotas de Chocolate ao Leite
Modo de preparo: Em um recipiente, misture a farinha de trigo e o açúcar. Adicione os ovos, o óleo, a essência de baunilha, o fermento em pó e a água quente. Misture bem até ficar homogêneo. Acrescente metade das Gotas de Chocolate ao Leite e misture rapidamente. Distribua a massa em 8 forminhas para muffins e coloque as Gotas de Chocolate restantes. Leve ao forno médio (180°C), preaquecido, por cerca de 25 minutos ou até que os muffins estejam assados. Sirva.
Por Adriana Padoan