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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Vindo do céu

I – Pensamento
Eu pensei muito, cheguei a imaginar os passos de Steve Spielberg, um autista asperger, nos seus 17 anos, tentando entender a separação dos pais. O pai era engenheiro elétrico, desbravador de soluções revolucionárias através da engenharia, mas, paralelamente ao conhecimento, era um grande contador de história. Sua mãe Leah Adler, era um ser humano que conseguia despertar a atenção das pessoas conhecidas e desconhecidas, tendo como referência o seu restaurante “The Milky Way”, sua calça jeans, seu batom vermelho, colares usados pelo personagem Peter Pan, pianista, adorava pintura, e olhava para o céu imaginando seres iluminados fazendo compra em shoppings.
Após a separação, de acordo com os seus poucos amigos, Spielberg trancou-se no quarto e criou um personagem intergaláctico para acompanha-lo na loucura da vida de todos os dias.
Quando escrevemos sobre um filme, preocupamo-nos com a posição crítica especializada em cinema, lemos comentários, análises, sinopses, efeitos especiais e tantos outros ângulos necessários à compreensão da obra de arte. Hoje, não sei o motivo resolvi falar do filme E.T. o extraterrestre. Não quero usar nenhum conceito técnico, nenhum modelo intelectual como suporte de observação laboratorial. Vou usar apenas a minha sensibilidade, a poesia que mora dentro de mim, o calor que a arte alimenta o coração; embora, muitos que me conheceram, conviveram comigo, não tenham observado essa comoção que “ternurizava” a minha vida. Vamos, então, entrar no meu mundo, dentro do meu E.T..

II – Do Céu para Terra
Como uma estrela anunciadora de mensagens boas e, por isso, agradáveis, uma nave espacial pousa sobre a Terra. Os tripulantes são cientistas, vieram colher espécimes de vegetais para alimentar alguma pesquisa em outro planeta. Um desses estudiosos, talvez dotado de um sangue sustentado pela beleza e poesia, encantou-se com as flores, com os formatos das pétalas, com o perfume. A nave mãe, assustada com a inaptidão dos cientistas humanos e confusamente desumanos, partiu, deixando aqui o E.T. visionário do encanto existente numa minúscula flor.

III – A separação se deu
Há perseguições, loucuras científicas percorrendo trechos da floresta, caçando um misterioso animal interplanetário, possivelmente violento e destruidor. O E.T. foge para uma garagem. Essa separação entre um ser abandonado e sua nave mãe, está muito próxima e até mesmo representativa, da separação dos pais de Spielberg. O poeta-pesquisador E.T. consegue ler a alma de um menino chamado Elliot que, por sinal, tem as letras E.T. em seu nome. Há, como tudo na vida, o choque entre o belo e o feio; mas esse padrão não depende somente do olhar, mas do sentimento, da emoção, do espaço, ou seja, os dois são lindos, cada qual em seu planeta. Os dois tornam-se amigos, palavra que vem do latim “amicus”, trazendo na raiz do termo o vocábulo “amor”.

IV – A casa
E.T. ganha uma casa. Exatamente como era a residência de Spielberg, há dois irmãos e pais recém-separados. No início o estranho torna-se um elemento escondido, mas aos poucos, revela-se a todos. E.T. faz parte da família: mãe separada do pai, filhos afastados da presença paterna, e, no seu caso específico, ele está longe de casa, do pai, da mãe, dos irmãos, do seu planeta.
E na sua vida na casa, provoca risos, paixão, despertando vontade de possuí-lo, amá-lo, apertá-lo, isto significa que o público penetra no espírito do drama. Lá fora, na cidade civilizada, estudada, intelectualizada a caçada ao E.T continua.

V – O meu encanto
O meu coração, que agora escreve, chorou ao descobrir que o rosto do E.T. foi modelado tendo como modelos os rostos do poeta Carl Sandbrug e do físico Albert Einstein. Os passos do E.T., o som produzido, saíram da cabeça de John Roesch, ao molhar uma camiseta, enchê-la de gelatina, e batê-la ao chão. Até o seu andar nos remete a beleza da infância. O seu corpo foi feito de alumínio e revestido de borracha, um trabalho perfeito. Dois anões, artistas do estúdio deram-lhe vida, movimento, energia, e paixão além da própria paixão.

VI – O saber e a ciência
Como narradora deste texto, sinto a leveza da minha alma diante do fato científico. Os olhos de E.T. descobre o controle dos canais da televisão, observa o telefone e um guarda-chuva; no entanto, a visão que ultrapassa o simples ato de ver, descobre uma possibilidade de voltar a sua casa. Quem não sentir a emoção nessas pequenas coisas não pode possuir compaixão pela vida.

VII – Hallowenn
A abóbora com a vela em seu interior estava sobre o móvel, os mortos caminhavam nas ruas vestindo suas roupas fictícias. E.T. veste-se de fantasma, usando apenas um lençol branco. No caminho, na euforia da festa, E.T. encontra-se com uma criança vestida de Yoda, personagem de Star War, e os dois se reconhecem; não há exemplo de intertextualidade como nessa cena, é impressionante!

VIII – O momento de êxtase
A prisão de E.T. sufoca o peito e os olhos. A ciência, a vida, a morte, a descoberta são símbolos que animalizam e documentam, ao mesmo tempo, a evolução humana. A fuga, a cena das bicicletas passando diante da lua, só poderia brotar na cabeça de um autista. A despedida de E.T e do menino Elliot, bem como as frases: “vem”, “fica”; só poderiam morar num canto da cabeça de um asperger; um dia alguém descobrirá isso.

IX – 1844
Para terminar, gostaria de lembrar-los do romance “Os irmãos Corsos” de Alexandre Dumas, escrito em 1844, em que os irmãos sentem as dores e emoções, um em relação ao outro, mesmo distantes. Spielberg com sua sensibilidade amarrou um personagem interplanetário a um romance francês, isso não é apenas cultura, é o choro que nasce dentro de um asperger.

X – A consequência dessa intertextualidade
Na sala de aula,
Alunos ligados ao conhecer.
Vidros sobre as carteiras.
Dentro de cada vidro uma rã e uma bolota de éter.
Como nos irmãos Corsos,
E.T. entra em Elliot.
E todos os alunos, como Moises,
Libertam as rãs do cativeiro e da morte!
Para E.T. e Elliot a liberdade abandonou a biologia!
Aos que lerem este texto, sei que a minha emoção está aqui exposta, como sempre esteve. Mas E.T. é o amor revelado que caminha dentro de um autista. Obrigada pela atenção.

Receita
SALMÃO COM REQUEIJÃO

Ingredientes: sal a gosto; 1 cebola; 1 limão; 3 dentes de alho; 1 pote de requeijão 1 xícara de chá de molho de tomate; 1 colher de sopa de parmesão; 1 quilo de salmão

Modo de fazer: Deixe o salmão de molho nos temperos por 15 minutos. Depois, escorra muito bem. Coloque o peixe em refratário, com a pele voltada para baixo. Cubra-o com 1 copo de requeijão cremoso e, por cima, coloque o molho de tomate. Polvilhe com queijo parmesão ralado e leve ao forno a 180ºC por 45 minutos.

Por Adriana Padoan