I – O início
A aprendizagem impulsiona o mundo, as descobertas, o princípio de todas as verdades, a explosão da tecnologia, a possível mudança ou, por um período meio escuro, o sofrimento da humanidade. Ela descobre a nossa vida e a vida do planeta.
Ninguém percebeu com detalhes a entrada do aluno John Nash na escola infantil. Estudante isolado, rindo o necessário, participando de algumas brincadeiras por exigência dos mestres, seus pensamentos sempre estavam em outros planos.
A grafia de a , para ele, era um circulo perfeito, com uma semicurva agarrada ao desenho geométrico; o b, o be era uma reta entrelaçada, sustentada por um triangulo aberto, o c, pobre coitado era um circulo que não se fez, o d, era um circulo agarrado a uma reta; o e, era uma curva enforcada. Assim, com sua cabeça voltada para os números, as letras formavam uma espécie de poema abstrato num canto de sua cabeça: a = infinito, b = união geométrica; o d a busca de significado; o e, o malabarista dentro de um picadeiro de um circo qualquer.
II – A infância
A sua infância, período que aponta para todos os nortes, foi marcado pela violência doméstica, abandono, negligência, abuso de remédios, abuso sexual. As manhãs temiam as noites; e o escuro era uma bandeja de alucinações. O seu caminhar pelo mundo revelou encontros com a excentricidade. A criança nas ruas, brincando, correndo, gritando. A menino Nash, trancado na biblioteca, lia livros, enciclopédias, despertando o mundo enorme que compõe a curiosidade científica. Ele lia muito, criava teorias misturadas ao pensamento, e não dava o mínimo para o currículo escolar.
Aos 12 anos começou a realizar experiências científicas em seu quarto. O gosto da solidão detalhou o seu jeito de ser. Estudou engenharia química, não se adaptando a programação do curso, transferiu-se para o curso de matemática.
III – Universidade
Chegou a ganhar uma bolsa de estudo na Universidade de Havard, mas por motivos acadêmicos, preferiu entrar na Universidade de Princeton. Nos momentos onde as soluções aos problemas pensados, não surgiam, chegava a bater a cabeça na parede e janelas. A grande questão era que Nash não se procurava em aplicar fórmulas e teoremas; procurava recriá-los, moldá-los ou criar novos caminhos para a matemática.
Ele pensava um problema observando e sentindo, as vezes por seis meses, sempre procurando um emprego original para matemática. As teorias existentes nos jogos, a gama de variedades que estabelece a possibilidade de vencer ou perder, o levou a teorizar princípios para resolver os principais movimentos que ocasionavam os problemas econômicos, mesmo considerando que a economia não era matéria exata, no entanto era possível estabelecer as contingências de suas variáveis. Essa postura científica o levou ao Nobel em 1994. John Nash descobriu o amor ao olhar para a jovem Alícia. Amaram-se, casaram-se, retornaram e, como uma vida dentro da outra, viveram juntos até o último dos seus dias.
Nash estava com 86 anos e Alícia com 82. O ano era marcador do tempo de 2015. Os dois estavam num carro e a estrada serpenteava a si mesmo. A natureza da margen esquerda conversando com as flores da margem direita. De repente, saindo de dentro do nada, houve o barulho de uma batida de carros. Após a passagem da brisa da noite o coração dele parou, o coração dela distanciou-se do planeta Terra.
IV – O livro
Em 1998, a jornalista Sylvia Nasar resolveu escrever uma biografia completa do matemático, professor, escritor, cientista John Nash. As suas pesquisas levaram-na a todos os caminhos percorridos por Nash, inclusive a sua luta contra a esquizofrenia que o acompanhou durante as suas aulas, palestras, estudos, vida pessoal, lançamentos de livro e o seu mundo habitado por sombrias imaginações, delírios, perseguições inexistentes.
O diretor Ron Howard, em 2002, contratou o roteirista Akiva Goldsman para adaptar o livro de Sylvia para o trabalho cinematográfico. O ator Russel Crowe interpretou o cientista e matemático e a atriz Jennifer Conelly representou Alícia, a mulher que deu a sua vida ao homem que habitava a genialidade de John Nash.
V – O filme
John isolava-se do mundo, mesmo estando entre amigos. Sempre de cabeça baixa, procurando um mundo geométrico espalhado pelo chão; tinha uma quantidade de tiques nervosos, gestos surpreendentes que nada diziam ou significavam, o jeito de falar interrompido e, na maioria das vezes, afastado do assunto referencial. O diagnóstico de esquizofrenia penetrou os alicerces de sua sabedoria e genialidade ao mesmo tempo que conhece Alícia, apaixona-se, sem saber muito bem o que é a paixão, e a jovem estudante o leva ao casamento. O seu trabalho científico, a elaboração de uma teoria dos jogos torna-se um labirinto habitado pela geometria, equações diferenciais parciais, e, ao mesmo tempo o arrasta do convívio social. Suas atitudes fogem da normalidade, houve vozes que não surgem de nenhum infinito, conversa com uma menininha, sua sobrinha que não existe; sente que todos os professores conspiram contra ele, os delírios apresentam-lhe pessoas que moram em sua imaginação; as alucinações o carregam para mundos disformes e irreais.
Ele leciona, como um fantasma, estuda a complexidade impenetrável do mundo, acha a sua teoria original, escondida na perfeição das impossibilidades. A sua realidade mistura com seu universo imaginário, a dor acompanha o medo, o medo o leva a ter receio de ferir Alícia, o amor e o suporte de sua vida. Entre todos esses caminhos cruzados, onde as saídas estão fechadas, separa-se de Alícia.
VI – O hospital
Os exames, os remédios potentes e controlados, as sessões violentas de eletrochoques, a solidão do hospital, o silêncio do quarto, as suas ideias de perseguição, a sua crença na conspiração russa que tenta explodir a América, transcrita em códigos, em jornais e revistas que, pelo peso do sonho e da realidade, só ele pode ler. As suas lembranças embaralhadas, o momento da sua graduação juntamente com o mestrado; o seu doutorado aos 21 anos, o nascimento do seu filho. O seu reencontro com Alícia, o único suporte de sua vida.
Após a saída do hospital, passou anos andando pelos corredores da universidade, trombando com alunos, falando sozinho, enxergando pessoas que não existem. Num determinado momento, em meio a sua produção intelectual e com o apoio de Alícia resolve enfrentar o seu mundo preso em seu próprio delírio, isto é, passou a não se importar com as vozes injustificáveis, não levar em conta as pessoas que só existem em seu inconsciente. Retornou as aulas, ao estudo, à produção de sua tese. No ano de 1994, em uma noite com dez mil mensagens nas estrelas, recebeu o Prêmio Nobel em economia.
VII – O Oscar e o ringue
Os estúdios trabalham o ano inteiro produzindo filmes que conquistem o público, arrecadem milhões nas bilheterias e, se for possível, recebam a consagração de um Oscar. No ano de 2002, a megaprodução “O Senhor dos Anéis” acreditava que pelo investimento financeiro na produção, na publicidade, a invasão do grande público às bilheterias, e outros fatores que formatam um filme, levaria o maior número de Oscar, transformando-se na estrela da noite.
De repente, saindo de uma rua desconhecida, usando roupas simples, narrando uma história real, o filme “Uma mente brilhante”, foi indicado a oito Oscar, fato que chocou os concorrentes, causando estranheza, dor e medo.
VIII – A guerra nos bastidores
O confronto chegou a tal ponto que, procurando desclassificar o filme “Uma mente Brilhante” os opositores compraram uma falsa carta de um ganhador do Nobel, em 1967, acusando o personagem real do filme John Nash de ter sido um neurótico, perseguidor de judeus, adultero, gay e violento.
A autora da biografia de John Nash, Sylvia Nasar saiu em defesa do cientista, personagem do filme, apresentando documentos e mais de cem depoimentos de renomados pesquisadores das maiores e mais importantes universidades do mundo.
Os grandes produtores de Hollywood esqueceram, por uma sinfonia mal executada no teatro imaginário da consciência, que o cinema é uma arte. As imagens fixadas no filme falam por si só, elas não se ligam aos fatos reais ou fictícios apresentados ao público. O homem, o ser humano, Nobel de Economia John Nash, não merecia ser vítima de um plano tão diabólico, por causa de uma estatueta banhada a ouro. No entanto, na vida e na arte a justiça voa sobre as cabeças, os corações que amam o mundo e a arte cinematográfica, respeitam o trabalho de centenas de pessoas que tentam, através do visor de uma máquina, mostrar que viver ainda vale a pena.
Na noite da entrega do Oscar, apesar de tudo, “Uma mente brilhante” recebeu, além das lágrimas e da sua profundidade temática, os Oscar:
Melhor filme
Melhor direção
Melhor roteiro adaptado
Melhor atriz coadjuvante.
Receita
ESPETINHO DE MEDALHÃO DE FRANGO E BACON
Ingredientes: 600 g de peito de frango em cubos; 1 envelope de tempero em pó para aves; 250 g de bacon fatiado; Sal e orégano a gosto
Modo de preparar: Tempere o frango com o tempero em pó, sal e orégano. Enrole cada cubo de frango em uma fatia de bacon e espete em palitos de madeira para churrasco. Leve à churrasqueira ou forno por 30 minutos, virando algumas vezes até assar e dourar. Retire do fogo e sirva.
Por Adriana Padoan