Nazaré, nos tempos de Maria e José era uma pequena cidade. Havia mais ou menos 500 casas. A cidade de Belém localizava-se há uns 10 km de Nazaré. José selou o pequeno jumento da família, olhando para o nascer do sol e a despedida da lua. Sua esposa Maria, grávida ajeitou-se no animal, procurou a melhor acomodação para seu corpo, seu estado, e sua fé que morava dentro de si, ao lado do esconderijo de sua alma.
O casal partiu em direção a Belém, passo a passo, subidas e descidas, terreno acidentado, estrada temerária, estreita, parecia uma longa corda estirada pelo chão. José murmurava canções que atravessaram tempo; músicas que falavam da vida, do amor, do carinho e do sorriso de Deus. Maria acompanhava o marido, sua voz atravessava a distancia do caminho, aprendera a cantar no tempo em que servira no templo. De vez em quando, pelas beiradas da estrada surgia uma flor pendurada nos barrancos, uma aloé , de cor encantada. José a colhia com delicadeza, em seu pensamento pedia licença a natureza, agradecia pela existência e pela poesia, oferecendo a pequena flor a Maria. A menina sorria um sorriso aberto de criança que nascera para mudar o mundo.
Chegaram a Belém na entrada da noite. José percorreu a cidade em seu todo, não havia vaga para hospedar um casal. As tavernas, abertas para o instante, soldados romanos bebendo vinho produzido pelos judeus. Um vinho ruim, desclassificado com gosto de indecisão. Povo bêbado dançando nas ruas, prostitutas de posse dos seus pontos. Depois de muita procura, José conseguiu uma estrebaria pertencente ao comerciante chamado Joseffe, homem bom, honesto, um crente das verdades antigas.
Na estrebaria havia uma vaca, dois bezerros pretos, dois coelhos brancos, e um pássaro de cinco cores. O chão estava coberto de palha; havia uma manjedoura para alimentar os animais. No céu surgiu uma estrela de cor diferente, formato diferente, movimentos de bailarino, apontando para a estrebaria. O seu foco de luz parecia dividir a existência da Terra. Salomé, parteira de nome, acompanhou o casal, as dores de Maria, os seus gemidos, os seus gritos, foram os mesmos das mulheres dos pescadores, dos camponeses, dos trabalhadores braçais, das mulheres perfumadas dos romanos, no momento da concepção.
Jesus nasceu dentro do seu tempo e de todas as épocas que surgiriam no universo, após o seu nascimento na estrebaria de Belém. O menino chorou, sorriu, olhou intimamente para os pais, alongando sua contemplação na distancia que só ele via. Os pastores, filhos das montanhas, vieram visita-lo; os camponeses e o cheiro do trabalho no campo vieram vê-lo; os pequenos artesãos, artistas das feiras e mercados contemplaram-no.
Os três reis magos entraram em silêncio, sem pompas, sem grandeza aparente; o andar era sem ostentação, os gestos controlados pela verdade histórica que estava no interior de cada rei, o mundo nunca mais seria o mesmo.
Belchior deu de presente a Jesus um frasco contendo ouro, símbolo da realeza que envolvia o menino; Gaspar deu-lhe um jarro contendo incenso, representando as comemorações nas igrejas e nos templos; Baltazar doou-lhe uma ânfora contendo mirra, imagem do sofrimento, dor e morte. Os reis saíram seguindo um roteiro afastado da ansiedade de Herodes, rei dos judeus, preocupado com o nascimento do Messias citado no Antigo Testamento.
O tempo passou, os ponteiros dos relógios avançaram pelas estradas desenhadas sobre a Terra. No século XVIII, um pesquisador britânico descobriu nos arquivos do Vaticano um documento escrito na metade do século II d.c., identificando os reis magos como descendentes de Seth, o terceiro filho de Adão.
Os restos mortais dos três reis magos então num relicário na Catedral de Colônia, na Alemanha. Os mistérios moram em cavernas localizadas no silêncio das montanhas próximas ou distantes. Em uma dessas cavernas, certo dia, um pedaço de papiro escrito no tempo dos imperadores, registra que as ossadas dos reis magos foram encontradas por Santa Helena, mãe de Constantino, o imperador que autorizou a existência do cristianismo como religião. Santa Helena, a princípio, levou a relíquia para Constantinopla. O local transformou-se em um espaço sagrado, visitado por peregrinos e religiosos cristãos, caminhantes em busca da fé e da crença.
Em Constantinopla as ossadas ficaram até o século V, quando Eustórgio, visitando Constantinopla recebeu um presente do imperador, um imenso sarcófago contendo a relíquia dos reis magos. Para transportar a peça até Milão, o Bispo Eustórgio usou carros de boi. Depois de vários dias de viagem, contando cidades, vilas, aldeias, de repente os bois paralisaram a caminhada, pareciam animais colados ao chão, imóveis. O Bispo interpretou a parada dos bois como uma mensagem vinda dos reis magos, ou seja, o local onde queriam permanecer. Naquele momento, um pedacinho dos séculos, o Bispo iniciou a construção de uma igreja, tudo acontecido no ano de 340. Nesta igreja, em Milão, as ossadas dos magos permanecerem até 1162, arrastando uma multidão procurando bênçãos, cura corporal e espiritual, pedidos de retorno do marido ou da esposa, ou emprego para os filhos.
No cenário onde as coisas acontecem, a impossibilidade desenha a realidade e os fatos. No ano de 1155, um homem de nome estranho, Frederico Barba Roxa, assume o cargo de imperador do chamado Sacro Império Romano Germânico, entrando em conflito com a Itália e parte da Europa. Em 1162, Barba Roxa saqueia Milão levando consigo, o que era muito comum na época, o chamado saque de relíquias, os ossos dos reis magos para a Catedral de Colônia, na Alemanha, onde se encontra nos dias atuais.
A humanidade sempre se preocupou com a educação, com a metodologia de ensino, com a pedagogia e didática; ensino e aprendizagem preencheram as escolas, as universidades, os simpósios, as editoras, os grupos de estudo, a psicologia. O grande problema, no entanto, ainda não foi resolvido, o seja, como ensinar, transmitir conhecimento, cultura, tecnologia e na ponta da corda, como aprender o que foi transmitido.
O ano de 1223 entrou pelas ruas da Itália procurando conhecer o rosto da história, do mundo romano, das conquistas e pesadelos impostos por imperadores, senhores feudais, o delírio da arte, a preocupação com o poder e o lucro desenfreado.
Nessa época, no interior de uma gruta, na pequena cidade de Greccio, próxima de Roma, um frade chamado Francisco de Assis, imaginava uma forma didática, simples e clara de transmitir ao povo o significado do nascimento de Jesus, numa estrebaria em Belém. Através da pregação do sermão, as pessoas entendiam o fato, mas não captavam a magnitude desse acontecimento. O fradinho apanhou uns pedaços de madeira, montou um quadrado, seguindo a configuração de uma mesa. Forrou-a com tecidos coloridos, ajeitou os panos dando-lhes um aspecto de ruas, praças, subidas e descidas. Em argila moldou a estrebaria, a manjedoura, José, Maria e o menino Jesus. Os outros personagens surgiram no passar das horas, na agudeza da noite de natal.
A palavra presépio vem do latim significando estábulo, curral, cavalariça, manjedoura. Seguindo os passos de São Lucas, Francisco recriou a origem latina transformando os signos em um espaço de representação visual do nascimento de Jesus. Francisco descobriu na composição do primeiro presépio o valor da imagem, da teatralização visual, no processo pedagógico de aprendizagem e ensino unindo, dessa forma, a simplicidade colaborando na formação intelectual dos homens.
As festas pagãs aconteciam no mundo romano no mês de dezembro. O dia 25 era reservado à comemoração de Baco, deus do vinho, da alegria, do amor. No ano de 341, d.c., Julio primeiro assume o Papado para enfrentar os conflitos existentes dentro e fora da Igreja. Procurando proteger a história do cristianismo funda o arquivo da Santa Sé, reunindo a documentação preservada até o seu período existencial. No ano de 350, preocupado com as comemorações pagãs, decreta o dia 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus, criando o Natal e dirigindo o olhar dos cristãos à manjedoura, à humildade, à confraternização entre todos os homens.
Feliz Natal, que o amor penetre em nosso interior e que a vida, a respiração, o nosso caminhar sigam em direção aos sentimentos mais sinceros e profundos.
Receita
Torta Gelada de Natal
Ingredientes: 12 gemas; 500 g de manteiga sem sal; 500 g de chantilly; 12 colheres de sopa de açúcar; 4 colheres de sopra de chocolate; Nozes ou castanhas-do-pará moídas a gosto; 500 g de bolacha champagne; Vinho branco meio seco de boa qualidade ou vinho do porto
Modo de preparo: Bata a manteiga com o açúcar até formar um creme branco. Acrescente as gemas. Divida este creme em duas partes e, em uma delas acrescente o chocolate; Forre um pirex grande e fundo com metade das bolachas e regue com o vinho. Espalhe o creme amarelo e por cima o chantilly e as nozes ou castanhas moídas; Repita a operação, agora com o creme de chocolate, cobrindo com o chantilly e as nozes. Leve ao refrigerador de um dia para o outro. Pode ser servido em qualquer ocasião especial do ano.
Por Adriana Padoan