I – Spielberg
Steven Spielberg era filho de judeus. A mãe vivera a história da música restaurando pianos que fizeram parte da história, da música, da época em que o universo cantava, valorizando as marcas famosas dos instrumentos que frequentavam esse nosso mundo. O seu pai era engenheiro eletricista, envolvido com o nascimento dos computadores. Em uma noite a lua surgiu carrancuda, chutando astros e estrelas. Foi nessa noite meio destemperada, que os pais se separaram.
As suas três irmãs ficaram com a mãe, quadro típico da sociedade americana; Steven foi criado pelas tias. Sendo, na época, diagnosticado com autismo leve, começou a filmar o mundo ao seu redor, com uma câmera Super-8. Na televisão assistiu a série Barney, de onde recolheu impressões e ideias para, futuramente, criar “Jurassic Park”.
Depois da série, à noite, sonhava que havia um dinossauro sentado no piso do seu quarto. Aos 13 anos, fato não anunciado e prometido, foi premiado em um documentário.
Na década de 70, assinou contrato com a Universal, dirigindo o filme “Encurralado”, o sucesso ultrapassou os limites esperados. Para não ficar fora do contexto, dirigiu a programação da Universal, lançou “Louca Escapada”, sucesso fora do comum.
II – Feto do tubarão
Nas férias passadas dentro das câmeras, na praia de um mar qualquer, leu o romance Jaws, de Peter Benchley. Naquele momento, observando as ondas corriqueiras, sentiu que ia mudar a história dos filmes de suspense presos à linearidade cinematográfica. A sua cabeça deu um giro de 300 graus.
O roteiro, baseado no livro de Peter Benchley, foram recriados por Richard D. Zanuck e David Brow.
A ideia surge na sequência, primeiramente criaram uma praia fictícia Amity Island, na Nova Inglaterra. Um grande tubarão branco surge naquelas águas, alimentando-se de pessoas, veranistas, pessoas despreocupadas vivendo numa bolha de sonhos, alegrias, aventuras, e realizando desejos planejados há meses.
A arte existe num panorama de características que a enquadra em uma tendência. No entanto, em alguns instantes, vivências, por problemas inesperados, as suas características definidoras fogem para o sertão, mato a dentro, propiciando desvios, criação, gerando novas tendências que a modificaram.
O filme que não fora pensado, enfrentou inúmeros problemas com o tubarão mecânico. Tudo estava planejado para funcionar, até o sol colaborava, mas o tubarão mecânico emperrava. A solução foi retornar à escola simbolista, usar uma de suas marcas que é o sugestivo, e contar a história do Tubarão, representado pelas alterações cardíacas do público, ou seja, o objetivo do espanto não visualizado. O tubarão, centro da ação do suspense, foi representado pela música aterradora, movimentos obscuros, sombras que povoam o fundo do mar.
IV – O início – horário – cores
A tarde ia entrando pela noite. Um grupo de jovens está acampado numa praia. Sorrisos, conversas, bebidas, assuntos navegados pelo tempo. Um rapaz, com uma lata de cerveja na mão, flerta com uma garota que está a alguns metros. Olhares, sorrisos, comunicação gestual. A noite chega fechando os últimos vestígios de uma tarde que, sem perceber, tornara-se passado. O mar negro, pastoso, movimenta-se lentamente. A garota levanta-se, correndo em direção ao mar. A voz, o riso, a corrida, o sonho procurando as ondas do mar. O rapaz tenta acompanha-la, mas o álcool trava-lhe os passos. A jovem mergulha, seus braços, corpo, pernas, agitam-se no azulado escuro das águas. Seu coração ri, seus lábios sentem a água salgada que estivera em outros horizontes.
O som da música,
Ritmo misturado com perigo.
O fundo do mar se ergue,
A menina grita. Seu corpo,
Afunda e sobe, contorce,
Debate-se. O medo está,
No olhar da lua.
O sangue. O silêncio.
A presença que se nega a aparecer!
O sol iluminando a pacata cidade. As casas, todas próximas, começam a viver o seu dia. O chefe da polícia da cidade, Brondy, acorda em sua cama de casal; a mulher, sonolenta, pergunta pelas crianças. O telefone toca, primeiro som estranho do dia. A notícia chega sem pressa, uma jovem desaparecera no mar ou na praia, nada que atrapalhe o voo das gaivotas. O chefe da polícia, o rapaz que presenciara o momento em que a jovem desaparecera no mar, caminham em busca de vestígios. Os policiais caminham pela praia, o sol todo vaidoso, anunciando a sua beleza. Um dos guardas apita, há um resto de corpo, devolvido pelo mar, na areia da praia. O legista, no primeiro exame, confirma “ataque de tubarão.” O chefe Brondy quer interditar a praia, o prefeito pensa no próximo feriado do dia 4 de julho; pensa também nos impostos, na movimentação comercial; a invasão de turistas renovando o seu presente; a reeleição; o médico legista altera o resultado da autópsia para acidente de lancha; enquanto tudo acontece no mundo de cima, na profundidade do mar, o tubarão sobrenada as águas marinhas.
V – A reunião – cena inesquecível
O chefe Brondy, preocupado com a segurança dos banhistas, solicita a presença de um oceanógrafo, para auxiliar tecnicamente os acontecimentos. A chegada de Hooper, especialista em tubarão, não é percebido pelos habitantes da cidade. A sua presença na pequena cidade, parece ser estranho, um personagem que precisará ser revelado aos poucos, o seu tipo físico, o seu comportamento, representam a desconexão entre a realidade e o mistério do animal que circula o território estabelecido por ele.
O chefe Brondy, o prefeito da cidade, Larry Vaughrr, os empresários, comerciantes, pessoas ligadas a administração do município, reuniram-se na sala de audiência da prefeitura para juntos, refletirem sobre o tubarão, o fechamento das praias, e o feriado de 4 de julho. Em meio ao debate, às discussões, surge uma das mais impressionantes cenas do cinema moderno. O caçador profissional de tubarões, homem rude, arranha a lousa da sala com as unhas, o som consegue congelar a alma de todos. A sua voz penetra o estômago da realidade, da vida, do perigo, da morte. O seu nome é curto como a sua composição emocional e ocupa o espaço onde está; Quint pode ter vários sentidos, percorre uma longa distância que vai desde “parar”, “sair”, “quitar”, “abandonar”. No entanto o filme deixa claro que estamos diante de um caçador capaz, rude e áspero. Ele pede dez mil dólares para matar o animal e deixar a cidade em paz.
VI – A feriado de 4 de julho
Os americanos comemoram nesta data o dia da Independência dos Estados Unidos. Há fogos de artifícios que rompem a calmaria do céu; os desfiles percorrem as ruas do país, o azul e o vermelho ocupam todos os lugares. A cidadezinha de Amity Island recebe centenas e centenas de turistas. O sol, a praia, os guarda-sois coloridos escondem a areia da praia. Namorados, casais, avós, crianças, amados e amantes; o banho de mar levando ao devaneio. O menino loiro, magrinho, lindo, pede à mãe para ficar mais dez minutos na água. A música, a sensação que ninguém quer escrever, a obscuridade nas ondas do mar, a gritaria, o pânico, o sangue, e o menino loiro flutuou fora do seu destino.
Uns pescadores, aventureiros em busca de dólares, capturam um tubarão tigre, a cidade tenta respirar, os repórteres fotografam os renomeados heróis do momento. No entanto, de madrugada, o oceanógrafo Hooper comprova que o tubarão pescado não era o assassino que continuava a rondar as fendas silenciosas do mar.
VII – A mãe – o luto
Um dos momentos mais dramáticos do filme acontece durante a exposição do tubarão pescado por engano. A mulher, vestida de negro, andando como quem descobriu toda a verdade sobre a morte do filho, pois a polícia, a política, esconderam casos anteriores, estapeia o rosto do chefe de polícia, na frente do público.
VIII – A partida em busca do tubarão branco
Quint, Brondy e Hooper partem a bordo do barco Orca, para a caçada ao predador. Uma das técnicas usadas na busca do grande tubarão é jogar baldes de iscas sobre as águas do mar, formando uma espécie de trilha. Num determinado momento, ao som da música que sufoca e antecipa o medo, durante uma das jogadas das iscas, o tubarão aparece pela primeira vez, após oitenta minutos de filme. O coração do público dá uma parada, um tranco, ele é mais volumoso de que todas as possibilidades que a imaginação projetou.
A revelação do tubarão acelera os seus movimentos ao rodear do barco, o tubarão atingido por lanças é amarrado a barris amarelos, tiros ferem o seu corpo. A imensidão do mar, a luta entre o homem e a fera, a música e os ruídos são inexplicados.
IX – O anoitecer e a história que não contaram
Noite. Os enigmas estão sendo costurados nas profundezas do oceano. Os homens sentados em torno de uma mesa; a ideia que se presentifica está presa a um mundo revelado pela natureza, um animal, mas afastado da realidade humana. Quint, meio atordoado, narra uma de suas aventuras, na Segunda Guerra Mundial. Centenas de homens caídos nas águas do mar, após a destruição do navio. Milhares de tubarões, famintos caçando o grupo e devorando um a um, de acordo com os seus apetites. Poucos soldados sobreviveram.
A narrativa é interrompida pelo ataque do tubarão ao barco. As madeiras que compunham a embarcação deslocaram-se, conforme a fúria do monstro que também, lutava pela sobrevivência.
Hooper, o oceanógrafo, coloca o seu equipamento de mergulho, fruto da alta tecnologia, entrando na água dentro de uma espécie de gaiola, projetada à prova de tubarão. A intenção e a finalidade do mergulho do cientista era injetar estricnina no corpo do animal, usando uma lança hipodérmica. O tubarão consegue romper a segurança da jaula de proteção e a lança hipodérmica, lentamente, toma a direção do fundo do mar.
O tubarão, em corpo inteiro, ataca o barco inclinando-o sobre as ondas e a agitação do mar. Quint, o experiente caçador de tubarões, é engolido em câmera lenta e levado às profundezas, onde a impenetrabilidade projeta as indagações que não tem respostas.
O barco cansara de lutar diante da imensidão que não principia e, por isso, não tem fim. O chefe Brondy, pendurado em um mastro meio contorcido, consegue atirar um tanque de ar pressurizado entre os dentes do peixe. Após disparar vários tiros, consegue acertar o tanque, causando uma explosão que levanta as águas do oceano tingindo-as com sangue do corpo do imbatível tubarão branco.
O silêncio não tem cor, a noite inicia o seu canto sem som, sem letra, sem ritmo. Hooper ressurge dos restos que sobraram da gaiola planejada para a vitória. O chefe Brondy olha a lua que aparece apontar o caminho da cidade, de sua casa, da sua família.
Agarrando-se em retalhos de madeiras do barco Orca, o chefe Brondy e o cientista Hooper, nadam em direção a cidade de Amity Island. O bater dos pés na água, a esperança contagiando as estrelas, o medo embrulhado nas batidas do coração, a crença de que o dia seguinte nascerá, sem que o improvável volte a acontecer.
RECEITA
ARROZ DE BACALHAU
Ingredientes: 1 xícara de arroz branco; 2 cebolas médias picadas; 6 dentes de alho picados; 3 tomates maduros sem pele; 500g. de bacalhau dessalgado e em lascas; 3/4 de xícara de vinho branco seco; 1/2 xícara de salsinha; 1/3 de xícara de amêndoas em lascas torradas; sal; pimenta do reino; azeite.
Modo de preparo: Se você comprar o bacalhau salgado, precisará dessalgá-lo de um dia para o outro em água gelada, tomando o cuidado de trocar a água, pelo menos três vezes. Depois de dessalgar, coloque-o em uma panela com água até ferver e escalde-o. Não descarte a água do bacalhau; ela será usada para fazer o arroz. Em outra panela, frite cebola, alho e depois acrescente o tomate. Quando essa mistura estiver totalmente envolvida, acrescente o arroz, misturando bem. Tempere com sal e pimenta a gosto. Com a panela quente, adicione o vinho, misture bem e deixe que todo o álcool evapore. Acrescente, então, a água do bacalhau (2 xícaras de chá), abaixe o fogo e tampe a panela. Enquanto o arroz cozinha, toste rapidamente as lascas de amêndoas em frigideira quente. Tome cuidado. Isso é bem rápido. Reserve. Quando o arroz estiver praticamente cozido, mas bem úmido ainda, adicione o bacalhau em lascas, misture bem e apague o fogo. Acerte sal e pimenta se necessário. Acrescente a salsinha, as amêndoas e sirva na sequência.
Por Adriana Padoan