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segunda-feira 25 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Tic tac, tic tac, tic tac

Ontem, lá pelas 10 horas da noite, da sacada do meu apartamento, percebi detalhadamente a beleza da matriz de São Francisco das Chagas; observei os olhos fixos da lua, seu brilho, sua vontade e os astros que caminhavam pelos sonhos pensados ou impensados. Sabendo que as ideias não são sequenciais, pensei no artigo dessa semana, meditei sobre a história do cinema, as pequenas e grandes produções, os filmes que marcaram o tempo, eternizando-se na memória de todos nós. Não consigo justificar o porquê, mas nasceu em mim um desejo de visitar o gênero das produções denominadas faroestes. O julgamento premeditado e morador em meus pensamentos, levou-me a refletir sobre os tiroteios, índios, velho oeste, chapéus, cowboys, mocinhos e bandidos.

Um canto de pássaro noturno modulou o silêncio da Praça Dom Epaminondas, as árvores murmuraram trechos do seu canto. Abri as janelas, sai na sacada do apartamento, era um sabiá tardio, cantando um amor tardio, mas permanente.

Retornei ao meu trabalho, passei os olhos pela listagem dos grandes diretores americanos que trabalharam com temas relacionados com o velho oeste. Os motivos nem sempre se justificam, mas escolhi o diretor Fred Zinnermann, que nos deu “A um passo da eternidade”, “O dia do Chacal”, “Julia”, “Uma cruz à beira do abismo”, e o faroeste “Matar ou morrer”.

O filme Matar ou morrer

O primeiro desejo de Zinnermann ao filmar “Matar ou morrer” foi procurar no matagal espesso que reveste os temas comuns um novo caminho, uma estrada fora do tradicional, do esperado, da fixação no mesmo lugar e espaço.
Sobre “Matar ou morrer”

O início do filme enfatiza o casamento da linda Amy estrelada pela atriz (Grace Kelly) com o xerife Will Kane, interpretado por Gary Cooper na cidadezinha de Hadleyville. Há sorrisos, parabenizações, cumprimentos, fatos que indicam que Kane fora o melhor xerife da cidade há vários anos.

Tudo está lindo, como em qualquer casamento. A cidade não se deu conta de que uma nuvem atravessava a sua vida. Acompanhando o momento da natureza, três malfeitores chegam à pequena estação de trem da localidade. São feios, sujos, fétidos, barba de vários dias, olhares de abutres. Um desses bandidos era irmão de um assassino endinheirado, que fora preso pelo delegado Kane há 5 anos passados. O delegado, beijando a esposa, recebe um telegrama dizendo que o assassino fora libertado e que chegaria à cidade no trem do meio dia, onde encontrará com seus comparsas para vingar a sua condenação, prisão, alguns sofrimentos, milhares de ideias asmeiradas, como diria a Dona Emília.

No relógio da igreja, redondo e sóbrio, os ponteiros marcam 10 hs e 40 minutos, isto significa que em 1 h e 20 minutos a tragédia chegará ao município deslizando pelos trilhos do trem.

O delegado chega a despedir-se da população; sobe em uma carruagem com a mulher e partem em lua de mel. A carruagem segue a estrada que atravessa a planície, a câmera mergulha nas imagens do infinito. O coração do delegado bate no ritmo de sua força, a liberdade de agir balança a sua consciência, e a vontade de modificar o que não está correto, que chamamos de responsabilidade trava-lhe a visão da distância. A carruagem para. As rédeas orientam os cavalos em direção ao ponto de partida, ou seja, o retorno à cidade. Neste momento o fado de sua vida penetra na viola dos acontecimentos tristes e inusitados.

O povoado treme o seu sentimento de pavor. Homens, mulheres, crianças, escondem-se dentro de suas casas, da igreja, da escola, no silêncio das fazendas. O assistente do delegado, um jovem pretencioso e vazio, um alucinado pelo poder e desejoso pelo cargo de xerife, o abandona.

Os minutos aceleram a emoção; o diretor Fred Zinnermann, genialmente, coloca relógios em todos os ambientes; a estrada de ferro, por outro lado, torna-se imagem constante.

A esposa de Kane vai para o único hotel da cidade. Recém-casada, mergulha no universo da dúvida, na ausência do marido, da sua fragilidade diante da incerteza, da realidade possível e impossível. O delegado, homem ousado, arrojado, não abre mão do seu orgulho e responsabilidade mesmo que a sua vida se transforme num riacho sem margem, sem água. No entanto, não é um herói, um ser invencível e dotado de poderes injustificados. Ele hesita como todos os homens; tem medo, reconhece os riscos, sabe onde moram os limites da existência.

Ele tem 1 h para conseguir apoio, ajuda e reforço. Enfrentar 4 homens sozinho é, no mínimo, uma loucura. A sua cabeça parece um barco desgovernado. O seu “eu” questiona os motivos que se espalham pelo seu estado emocional.

Há uma voz apertando o seu peito e querendo saber o porquê, os motivos reais do seu retorno à cidade deserta. Foi o orgulho incontrolável, a determinação incontida, um estado de estupidez ou preocupação com o povo local?

A música acompanha os passos do personagem, os ponteiros do relógio, a estrada de ferro, o delegado caminhando pelas ruas abandonadas, o rosto amargurado de Kane, os sorrisos assombrados dos bandidos.

A ansiedade assume a maior parte do enredo, a tensão abre as suas janelas, o suspense agarra-se às paredes das ruas. Os ponteiros do relógio anunciam a chegada do trem e dos bandidos. O confronto final traz um presente ao público, um pacote lindo contendo 5 fatias de estresse, dois copos de ansiedade, uma caixa de nervosismo, duas balas de aflição e uma colher de sopa de agonia.

O delegado Kane com auxílio da esposa vence a batalha, derrotando os quatros marginais do apocalipse e o diretor Fred Zinnermann, apaixonado por um bolo chamado floresta negra, demonstra que o faroeste pode ter densidade dramática, problemas psicológicos profundos, sem abandonar o seu berço, a sua origem, a beleza que encantou gerações. Antes de terminar esse texto, não posso esquecer a imagem de Eros, deus mitológico representando a vida e Tanatos, representando a morte, ambos estão presentes no filme, no enredo, no coração dos personagens, costurando a Grécia antiga ao faroeste americano. Agora, neste instante, depois de passar pelo mesmo espaço sonhado por Zinnermann estou com sono e vou dormir.

Boa noite a todos!

Receita
BOLO FLORESTA NEGRA

INGREDIENTES
MASSA: 4 ovos (gemas e claras separadas); 210 g de farinha de trigo (1 xícara e 3/4); 240 g de açúcar (1 xícara e 1/3); 90 g de chocolate em pó (1 xícara);180 mL de óleo (3/4 de xícara); 180 mL de leite (3/4 de xícara); 15 g de fermento químico (1 colher de sopa).
RECHEIO E COBERTURA: 600 g de Cerejas ao marrasquino (2 vidros); Raspas de chocolate; 480 mL de creme tipo chantilly (2 xícaras)

MODO DE PREPARO
Bata no liquidificador as gemas, o óleo, o açúcar, o leite e o chocolate em pó. Misture as claras de ovo batidas em neve, acrescente o fermento e misture delicadamente. Leve em forno preaquecido a 180°C por cerca de 45 minutos. Deixe esfriar. Corte as cerejas e coloque-as em uma peneira. Depois de escorrer coloque a calda marrasquino em uma bisnaga para poder regar o bolo com mais facilidade.
Para o preparo do chantilly é só bater o creme tipo chantilly bem gelado até que fique bem firme (caso goste mais doce pode colocar 2 colheres de sopa de açúcar).
Corte a massa do bolo 2 vezes; na primeira massa coloque ? da calda marrasquino, uma camada de chantilly e por cima as cerejas picadas e as raspas de chocolate. Coloque outra camada de massa e repita a operação. Cubra com a massa e passe o chantilly por toda parte de cima e laterais. Decore com raspas de chocolate e finalize com as cerejas.

Por Adriana Padoan