I – 1991 – Vida e lágrima
O ano de 1991 chegou, olhou a pasmaceira do mundo, observou o que ia por dentro dos seres humanos; anotou as cores das penas das aves que, riscando o céu, poetizavam o nascer do sol e as pretensões da lua. Os animais cantavam canções em homenagem aos astros conhecidos e desconhecidos. O presidente da Rússia, Mikhail Gorbachev, renunciou ao cargo e foi tomar vodca nos bares de outros países da velha Europa. A Primeira Guerra do Golfo explodiu conceitos estabelecidos na vanguarda de centenas de reuniões realizadas em nome da paz; a Ucrânia, estafada diante da arrogância russa, declarou a sua independência; o Maracanã recebeu o segundo festival musical Rock in Rio e as guitarras elétricas ocupavam o gramado, silenciando o rolar da bola, os chutes em busca da vitória, os apitos dos juízes calmos, nervosos, sem laços familiares, sem registro carimbado nos cartórios.
Nos Estados Unidos, trabalhando em uma firma produtora de propaganda, ocupando um minúsculo escritório, a roteirista Calie Khouri, pensava em escrever uma boa história que, naquele ano de 1991, trouxesse uma nova mensagem à geração que amava a arte cinematográfica.
II – O processo da criação
A sua imaginação navegou águas profundas. Segundo o movimento das águas, criou à personagem Louise, uma mulher que vivera no Texas, terra de confrontos e geradora de marcas profundas. Ela trabalhava como secretária num setor da área de comunicação; vivia com um fone de ouvido, recebendo e enviando mensagens; atendia às pessoas que precisavam de orientação, documentos, realização de matrícula. A personagem Thelma brotou em sequência; surgiu como mãe de dois filhos, casada com um vendedor de tapetes, um homem rude, violento, tratava a esposa como uma dona de casa que nascera para ser, exatamente uma empregada do lar. As outras personagens, secundárias, vieram ao mundo às duas horas da madrugada, horário que Calie podia escrever. Considerando que um texto, antes de enfrentar o leitor, passa por infinitas reescrituras, com Thelma e Louise, não foi diferente.
III – O chamado filme de estrada
As décadas e 60 e 70 criaram os chamados filmes de estrada, um enquadramento artístico que encosta nas paredes, as frustações de uma geração, a liberdade de escolha dos caminhos a seguir, a dor profunda, representadas pelo existencialismo, a luta em busca do autoconhecimento. Esses filmes de estrada narravam a partida de uma ou mais personagens, vivendo conflitos pessoais doídos, abandonando o seu cotidiano angustiante, imergindo nas estradas da vida, enfrentando aventuras, obstáculos, solidão, tristezas e alegrias. O que tinha o seu valor ou justificativa, era a possibilidade de superação das adversidades que detonavam o processo de afogamento da alma, a procura desenfreada do eu, a modificação da personalidade por meio do autoconhecimento. Esse gênero, na literatura, nasceu no coração de Homero, em sua Odisseia. Na bíblia, o percurso percorrido pelos profetas, levando as verdades que, naquele tempo, eram filhas do silêncio.
No cinema, as personagens movimentam-se por estradas sem início e sem chegadas anunciadas. O carro, ou moto, percorrem paisagens lindas ou silenciosas, as placas e sinais de trânsito passam amarradas pelo vento; os motéis, lanchonetes, restaurantes, postos de gasolina, fotografaram ambientes existentes na linha dos infinitos. O filme que abriu e apresentou o cheiro do asfalta, foi “Sem Destino”, a história de dois traficantes, motoqueiros, que partem de Los Angeles, chegando a Nova Orleans para assistir o carnaval de Mardigras. O que está por trás do roteiro é a revelação do destino da aventura dos pioneiros, desbravadores da América. Depois vieram, na calmaria das salas de projeções, “Diário de uma Bicicleta”, “Encurralados”, “A Morte Pega Carona”, “Na Natureza Selvagem” e, entre eles “Thelma e Louise”.
IV – Thelma e Louise
O direto do filme, Ridley Scott, saiu de “Alien-8º Passageiro”, “Blade Runner”, “A Lenda” “1492, Cristóvão Colombo”, “O Gladiador”, para viajar na condução história de Thelma, representada pela atriz Geena Davis e Louise por Susan Sarandon. Thelma, casada com um vendedor de tapetes chamado Darryl, estúpido, grosseiro; via a mulher como a empregada do lar. Louise, trabalhava numa lanchonete, função cansativa, servindo clientes distantes do seu mundo; namorava um músico chamado Jimmy, passava a maior parte de sua vida viajando, mas, na distância, tenta controlá-la.
As duas amigas, num exato tempo, dentro da rotina absurda, sentem que tem os olhos fechados para a vida, as ações não se alteram; o problema é a permanência e, somado a essas circunstâncias, sentem que é preciso mudar a realidade, partir para uma experimentação, como disse Aristóteles, desejar conhecer sua própria essência, aprender criar e recriar seu universo pessoal.
As duas, com suas decisões tomadas, fecham a casa, entram no carro, pegam a estrada em direção às montanhas, pensando em passar um final de semana pescando e pensando na vida. Os quilómetros rodados justificam a existência de um simples desejo interior, ou como disse Freud, “um movimento em direção à marca psíquico deixada pela vivência dos dias caracterizados pela insatisfação”.
No caminho, as duas resolvem parar num bar de estrada. O ambiente é agitado, giros apressados, fregueses vivendo suas realidades. Elas tomam uns drinques, Thelma dança com um desconhecido, sorriem, confessam verdades e inverdades. No final da dança, o rapaz a convida para sair, tomar um ar e a leva ao estacionamento onde tenta estuprá-la. Louise sai em defesa da amiga, tira um revólver da bolsa e atira. O corpo do agressor tomba como um ato impensado. O destino, as montanhas, a pesca, se embaralham confusamente. As amigas retomam a estrada tentando fugir de uma realidade que acabara de acontecer, ou seja, assassinaram um desconhecido.
A partir desse acontecimento, a vida anterior das duas mulheres é enterrada na beira da estrada. A transformação de uma existência se contorce dentro de um tubo de ensaio. A dúvida, o machismo social, penetram em suas ideias. Como denunciar ou apresentar-se a polícia se, dentro do bar, todos observavam as duas bebendo, dançando, sorrindo, saindo acompanhadas; o som do tiro, a fuga. A reviravolta de uma existência sustentada pela desilusão entra por um túnel completamente desconhecido.
V – Mundo improvisado
A polícia procura descobrir o roteiro das assassinas. Durante a fuga, as duas passam por um andarilho pedindo carona. Thelma resolve parar, trata de um rapaz muito jovem, perdido na chegada do futuro. O rapaz entra no carro e o caderno muda a sua página. O ator andarilho é representado por Brad Pitt, em seu primeiro papel no cinema.
Vencidas pelo cansaço, param num motel para dormir. Thelma leva o andarilho para o seu quarto. De manhã, durante o café, as duas percebem que foram roubadas pelo andarilho. As duas sentem a turbulência dos acontecimentos, o desespero penetra pela porta da sala. Entram no carro, a estrada parece não ter fim, o medo senta-se no banco traseiro; Thelma e Louise, percebem que a sonhada liberdade é uma utopia, pois você pode fazer o que quiser, contanto que siga as regras, forças invisíveis que fiscalizam as suas ações. Elas param e assaltam uma loja de conveniência. Na sequência do caminho, são paradas por um policial do Novo México, por excesso de velocidade. Thelma, com sua arma, rende o policial, trancando-o no porta malas da viatura.
A estrada, um cordão estendido pelo chão, coração pulando dentro do peito, um motorista de caminhão coloca a mão para fora e, com os dedos, faz gestos obscenos para as duas mulheres. Elas aproximam o carro do caminhão e atiram no tanque de combustível; o caminhão explode como uma bomba jogada num campo de guerra.
VI – A cena inesperada
Thelma e Louise não chegaram às montanhas, não pescaram no rio feito de sonhos, porém estão encurraladas pela polícia. À frente das motoristas está o Grand Canyon, abismo feito de pedras. A polícia grita, tentando convencê-las a se entregar; o marido de Thelma e o namorado de Louise suplicam-lhes para saírem do carro.
Thelma e Louise olham-se, beijam-se e aceleram o carro em direção ao Grand Canyon. A morte, às vezes, veste a roupa da liberdade.
VII – Thelma e Louise – revolução
A história do cinema é um mundo que assusta, apaixona e fere a normalidade dos pensamentos. Thelma e Louise é o primeiro filme a colocar duas mulheres como protagonistas, fato que transformou a essência do cinema que, antes desse filme, era um universo dirigido, comandado por machos.
A crítica masculina manifestou-se com a voz trêmula, voz agitada pela visão de quem sente que o poder machista fora violado. Falaram que o filme apresentava um preconceito contra os homens; as mulheres querem projetar uma sociedade modelada por homens imponentes, incompreensíveis. No entanto, na entrega do Oscar de melhor roteiro, Calie Khouri disse: “Ofereço esse Oscar a todos que queriam ver um final feliz para Thelma e Louise, para mim é isso. O filme é uma história de amor, de desejo e libertação. Um filme que diz: – não sonhe que é, faça. Uma coisa eu sei, mesmo que fossem obrigadas, elas jamais voltariam para as casas de onde saíram”.
RECEITA
BALA DE COCO RECHEADA COM BRIGADEIRO
Ingredientes:
Balas de coco: 2 ½ xícaras (chá) de açúcar; ½ xícara (chá) de leite de coco; ½ xícara (chá) + 3 colheres (sopa) de água; 3 colheres (sopa) de margarina para untar a pedra; 1 saco de gelo.
Bala gourmet recheada: 3 xícaras (chá) de bala triturada; 3 colheres (sopa) leite de coco; 3 colheres (sopa) de coco ralado seco; 3 colheres (sopa) de leite em pó; Para enrolar a bala pronta usar 1/2 xícara de coco ralado.
Recheio de brigadeiro: 2 latas de leite condensado; 3/4 de xícara (chá) de chocolate branco ou preto; 2 colheres (sopa) de leite em pó; 1 caixa de creme de leite; 1 colher (sopa) de manteiga sem sal;
Modo de Preparo:
Balas de coco: em uma panela de alumínio, coloque a água, o leite de coco e o açúcar. Mexa bem os ingredientes antes de levar ao fogo. Deixe ferver até ponto de bala dura. Para fazer o teste, coloque em um recipiente de vidro água em temperatura ambiente. Coloque uma colher da calda e quando fizer o barulho de pedra, está no ponto. Coloque a calda em pedra gelada, mármore untada com a margarina, deixe a massa ficar fria. Puxe até a massa ficar branca perola. Deixe descansar por 24 horas depois preparar a bala gourmet.
Bala gourmet recheada: quebre toda a massa formando uma massa toda quebradiça. Coloque a massa no processador, o coco seco, leite em pó e, aos poucos o leite de coco formando uma bola de massa. Se precisar de mais leite de coco, acrescente aos poucos. Retire do processador, abra entre 2 plásticos. Aplique o recheio, enrole como rocambole, corte formando rolinhos. Passe os rolinhos em 1/2 xícara de coco ralado fino com 3 colheres (sopa) de leite em pó.
Recheio de brigadeiro: em uma panela no fogo, coloque todos os ingredientes e mexa até soltar da panela. Retire do fogo e use para cada receita de bala.
Para dar sabor: divida a massa de brigadeiro em 3 partes iguais. Cada parte equivale a uma xícara de chá. Para cada parte de brigadeiro branco, 1 colher (sopa) de gelatina (sua preferência) dissolvida em 1 colher (sopa) de água fervendo.
Recheio básico de frutas: para cada xícara de chá de brigadeiro, acrescente 1/2 xícara de nozes, ou 1/2 xícara de cerejas picadas, ou 1/2 xícara de damasco picado, ou avelã, amêndoa, etc.
Sugestão de massa de chocolate: acrescente 3 colheres (sopa) de cacau em pó nas 3 xícaras de bala tritura, conforme a receita de bala de coco gourmet.
Por Adriana Padoan