I – Ser um cinema
A arte cinematográfica cria novos mundos, organiza ou destrói o cosmo e dá sentido às coisas. Nas salas de projeção, o público sente a comoção penetrar a sua pele até chegar ao coração e, assim, a inevitabilidade acontece em seu interior, transformando o universo em que vive, num mar onde o real se funde com a ficção.
Por outro lado, o cinema é poesia, é arte em movimento, mas também é indústria, produz visando o mercado. Nessa amplitude, é um fenômeno social e estético, nasce com o rosto contaminado pela figura de um mecanismo que tem a capacidade de reproduzir o caráter da realidade. Depois, surge um menino que, sem origem definida, se apropria do trabalho e veste o filme com a roupa da ficção e imaginação puramente humano.
II- Scorsese
Martin Scorsese nasceu em 1942, no distrito de Queens, em Nova York, um pedaço que costuma caminhar na chuva para lavar a revelação da consciência. Com o passar dos dias, a família mudou-se para Littler Italy no distrito de Manhattan, o mais antigo e mais densamente povoado dos bairros nova-iorquinos. A palavra Manhattan vem da tribo indígena do Lenape, uma das grandes etnias indígenas da terra. O significado de Manhattan, vivo e marcado pela beleza é “Ilha de muitas colinas.”
Na infância, Scorsese sofria de asma. Pelas ondas da brisa, vinha uma espécie de mão que lhe apertava o peito e os pulmões, trancando a sua vida numa espécie de gaiola de concreto. As crianças de sua idade brincavam na terra chamada liberdade. Sorrisos, gritos, emoções, tudo um prolongamento dos dias anteriores. Scorsese, sentado no gramado, só observava e, às vezes, chorava.
Na outra perspectiva de sua existência, ia todos os dias ao cinema e à Igreja Católica. Assistia conteúdos profanos e sagrados. Ele passou, na agitação dos seus passos, a ter fé na Igreja e mantinha um outro jeito de fé pelo cinema.
Vivendo essa duplicidade, chegou a entrar no seminário, buscando a formação doutrinária para se transformar num padre. Numa madrugada produtora de flocos de neve batendo nos vidros da janela, abandonou a profissão exercida pelos sacerdotes e entrou na Universidade de Nova York, no curso de cinema. Nesse período, como estudante, realizou vários filmes independentes. Essa independência gerou em sua alma a libertação da criatividade respingada com a lágrima da realidade oriunda dos dramas sociais, e o cinema profissional permitiu a entrada de mais um diretor.
III – A época de Scorsese
Os Estados Unidos da América abriram uma gaveta, seguraram uma caneta de ponta consciente e, no canto claro de um espaço público, escreveram a Lei Antitruste, que determinava a proibição da prática de preços abusivos; a combinação prévia nos processos de licitação, para dominar o mercado. Essa lei, de certa forma, segurou, amarrou, algemou, os pés do monopólio dos grandes estúdios cinematográficos.
Hollywood precisou reinventar o mercado consumidor das histórias filmadas e, no meio da correnteza econômica, elaborar novas técnicas de produção fílmica. Os produtores e roteiristas pensaram e se estruturaram para a realização de produções de pequenos orçamentos, a descoberta de um público jovem, discussões dos valores éticos-sociais, abandonaram os estúdios, filmar nos espaços do cotidiano, mudança dos diretores dominantes, revisão ideológica dos gêneros clássicos.
IV – Taxi Driver
O filme foi inspirado no patriota Arthur Bremer que, num gesto dirigido pela loucura, atirou no candidato à presidência dos Estados Unidos, George Wallace. Mergulhado na crença de que se tornaria um herói, escreveu vários diários. Scorsese leu os diários de Bremer para se inspirar na produção de Taxi Drive.
V – O roteirista Paul Schradir
Sob a luz das estrelas, a sua genialidade de escritor vivia uma série de problemas: separação no casamento, desempregado, sem dinheiro, delírios noturnos.
O país, enorme em tamanho e uma fome descontrolada para conquistar a economia do mundo, vivia uma realidade doída, que afetava a vida da nação. O cheiro da crise econômica andava por todas as ruas; os traumas dos veteranos da Guerra do Vietnã desenhando os estragos da derrota; a violência sacudindo as grandes cidades; a prostituição infantil e a solidão. Todos esses acontecimentos foram essenciais para a produção do filme Taxi Driver, de 1976, e a criação do personagem Travis.
VI -Influencias
O roteirista de Taxi Driver leu o livro “O Muro” de Destoievski, onde está escrito o conto “Notas do Subsolo”, escrito em 1864, onde o autor cria o “Homem Subterrâneo”, um tipo de solitário, amargo, traumatizado que, na sua hora chegada, sai pelas ruas atirando nas pessoas.
Outro elemento que se projetou no filme foi o conto “Erostato” de Sarte, escrito em 1966, cuja frase inicial é: É preciso ver os homens do alto”, e que narra a vida de um homem solitário, assassino de pessoas que caminhavam pelas ruas
VII – O filme de Scorsese
Considerando a formação de Scorsese, o filme se preocupa em questionar a violência transformada em desejo humano de purificar a sociedade. Para isso, usa um homem paranoico que, no decorrer do filme, tenta sacralizar a tragédia social, levando-a em direção ao objeto sagrado.
VIII – O personagem Travis
Ele é banhado por desejos e frustações que o levam a assassinar outras pessoas, por não o acompanharem em sua delirante retidão de conceituação da moral, parte integrante de sua religiosidade vazia e zerada. Dentro desse personagem habitam traumas fervidos e temperados na sua participação na Guerra do Vietnã, na crise social americana que, numa primeira visão, o leva a viver a solidão penetrante que atua numa divisão de mundo, isto é, ele, um anjo vingador e a sociedade formada por pessoas desprezíveis, a escória de um universo que fecha os olhos para não vê-las. O filme Taxi Drive traz uma nova tendência na estrutura básica do cinema. A sua preocupação é com o aspecto narrativo, ele conta uma história fictícia ou não, mas possuidor das causas e seus efeitos; do começo, meio e fim. O seu contexto é marcado pela criatividade ancorada pelas concepções artísticas mais profundas. Esses motivos geraram um personagem protagonista com a paranoia circulando nas veias do seu ser, com a desconfiança nas pessoas que vivem ao seu redor, levando-o a sentir, em todos os momentos, a mania de perseguição, produzindo uma dificuldade extrema em relacionar com o mundo; daí o pensamento em fazer.
IX – Símbolos
A linguagem simbólica do filme representa uma tentativa de levar o espectador ao mundo da sugestão. Ele olha qualquer cena, vê a simples percepção de uma ideia, mas há vários outros pontos que devem ser deduzidos. Esse tipo de linguagem determina o enquadramento capturado pela câmera, dirigindo a visão de quem está assistindo aos acontecimentos.
X -O enredo
Narra a história de Travis Beckle, veterano da Guerra do Vietnã. Para resolver o seu drama de ausência do sono, arruma um emprego de taxista para ocupar esse tempo que está acordado e ligado nas bombas que explodem no campo de batalha, desfazendo os seres humanos. O debate entre a imagem imposta pelo pensamento, pode ser desviada por uma ocupação. Ele vive a prisão de sua solidão, procurando a todo instante, algo que dê sentido à sua vida.
XI – O processo
Uma boa parte da narrativa é contada por ele mesmo, enquanto escreve o seu diário, um tipo de datação que vem do Império Romano.
Por meio de monólogo interior, danoso literalmente, Travis revela seus pensamentos mais delirantes. A única pessoa que conquista sua admiração é a personagem Betsy. Ela surge, diante de seus olhos como um anjo, usando um vestido branco. Com muito esforço, consegue tomar um café com ela, convidando-a a uma sessão de cinema.
O cinema, pipoca e bilheteria
O filme é pornográfico
Ela desaparece da sua vida.
Depois, nos enigmas da noite, vê a adolescente Iris, de 12 anos, vivendo na prostituição. Sua fúria, seus traumas, se descontrolam. Iris passa a representar a desordem social. Nesse momento do filme, ele assume a violência como o único meio de restaurar a sociedade. A realidade de sua vida, um homem à margem social, sua experiencia no Vietnã e o ambiente urbano, abalam e aumentam os seus conflitos internos. Do interior do seu taxi, seus olhos observam cada detalhe que circunda a sua existência. O seu taxi passa a scanear Nova York, seu globo ocular se desloca de um lado ao outro como um lixeiro limpando a sujeira. A luz predominante é a vermelha como um semáforo, recaindo sobre o seu olhar furioso. Taxi Driver representa o inferno, desde a cena da abertura onde um taxi emerge entre nuvens de vapor. De um ser insone ele se transfere para o mundo da psicopatia. O vagar pela noite da capital do mundo, ele dirige com nojo das pessoas, que merecem o seu desprezo. Esse nojo o leva a comprar quatro armas. Ele pede a Deus que lave a cidade do lixo humano, da escória, do esgoto. Porém, resolve tomar para si essa missão.
XII – Tiroteio
O tiroteio se compõe de cenas visualizadas, mas a luz foi reduzida para o vermelho sangue. Os corredores escuros, os tiros se cruzando, ele é ferido no pescoço, tenta se matar, mas não há mais munição. Os corpos dos exploradores de Iris, estão espalhados pelo chão escuro. A sua psicopatia promove uma limpa social. A chegada da polícia, a aclamação, a imprensa, a identificação como herói, por tirar Iris da prostituição. Ele retorna ao mundo do taxi, seus olhos continuam vendo ladrões, abandonados, prostitutas, brigas, assassinatos. Mas na sua psicopatia existe um lugar para que ele entenda, é a madrugada do Taxi Driver. Sempre continuará da mesma forma.
RECEITA
BOLO INVERTIDO DE MAÇA
Ingredientes:
Massa: 150g de açúcar (1 xícara); 150g de margarina gelada (6 colheres de sopa); 3 ovos médios; 150g de farinha de trigo com fermento (1 e 1/2 xícara).
Cobertura: 2 xícaras de açúcar; 2 maçãs grandes; 1 colher (de chá) de essência de baunilha; canela à gosto
Modo de preparo: Corte as maçãs em pedaços pequenos, coloque em uma panela com água e a essência de baunilha, deixe ferver por 10 minutos, escorra a água. Reserve os pedacinhos de maçã, e polvilhe um pouco de canela.
Para fazer a massa: Bata a margarina gelada com o açúcar, em velocidade máxima, por 5 minutos até formar uma massa esbranquiçada. Adicione um ovo de cada vez sem parar de bater. Depois de incorporar os ovos, adicione a farinha aos poucos, batendo em velocidade mínima. Depois de colocar tudo bata por mais 2 minutos em velocidade máxima. A massa fica cremosa e fofa.
Para fazer o caramelo: Coloque as 2 xícaras de açúcar em uma panela em fogo baixo e mexa até que o açúcar derreta por completo. Unte uma forma de 25cm ou 30cm com margarina e farinha a de trigo. Derrame a calda de açúcar no fundo da forma, coloque as maçãs por cima e por último coloque a massa e espalhe com uma espátula. Leve ao forno pré-aquecido à 200ºC por 25-30 minutos ou até dourar. Retire do forno e desinforme na hora.
Com sorvete fica ainda melhor!
por Adriana Padoan