I – O homem da caverna: desatino
Eles andavam em grupos para manter a força da coletividade. Havia fome, os alimentos vegetais distribuíam-se pelos campos e matas virgens. Existiam os animais, os peixes nos rios, no entanto o medo tinha o mesmo valor dos apetites sem explicação. O dia, o sol e a luz davam coragem e um pouco de valentia. Porém, o sol ia para outros lugares, a luz subia para o céu e a escuridão os levavam para as cavernas desconhecidas. Nas paredes com cheiro de pedra rustica, procuravam desenhar o drama das caçadas, a valentia dos animais, a vida e a morte. Caso, não sabemos com precisão, o amor, a paixão e o desejo afloravam de alguma forma, os desenhos riscavam traços misteriosos e secretos.
II – O tempo como flor e jardim
O tempo disparou sobre o solo sem princípio, sem distância, sem cercania, sem marca ou medição. Na chegada dos anos 30 até os suspiros dos anos 50 surgiram as famosas histórias em quadrinhos, os HQ, instaladas na cabeça das bancas de revistas. De certa forma, era o desenho das cavernas passado para as folhas de papel.
Essas histórias narravam acontecimentos retratados através de desenho e textos em sequência horizontal e visual. Elas têm um enredo rápido e claro, personagens, tempo, linguagem verbal escrita dentro de balões. Os desenhos dos balões expressam reações psicológicas, populares, infantis, adultas, intelectuais, ficção científica, ou vida movimentada nas esquinas do mundo, vasto mundo.
III – Os dois amigos do tempo de colégio: Jerry Siegel e Joe Shuster
Eles estudavam, paqueravam, projetavam-se em mundos futuristas, nas nuvens de desejos movimentando-se no vácuo. Na madrugada de um mês de abril, enquanto uma estrela paria estrelinhas, criaram um personagem em quadrinhos chamado Super-Homem. O calendário não possuía contornos, perfis, caráter, personalidade, capacidade física ou mental definida. A lapidação final aconteceu por volta de 1938. O herói assumiu, em seu eu profundo, defender a justiça, combater a corrupção, destruir gangues criminosas, ações provocadoras de covardia social. No entanto, o maior empenho do personagem era proteger a humanidade dos seus descaminhos. O Super-Homem era resistente, mais sólido que o aço, veloz, podia voar pelo espaço, a visão ultrapassava o princípio de realidade, a audição ouvia as conversas das abelhas. Usava roupa de malha justa, uma espécie de sunga vermelha, um logotipo no peito, um S, a letra que o distinguia dos outros homens.
IV – O seu Alter-Ego = substituto
Quando não estava em ação como Super-Homem, vestia um terno, usava óculos, trabalhava no jornal “Estrela Diário”, era tímido, intelectual, escrevia matérias que envolviam pesquisas, perigos e amava Lois Lane, a mulher de imprensa que brigava, lutava, percorria todos os lugares que a verdade podia morar. O nome do jornalista alter-ego, do herói era Clark Kent. O seu terno, embora elegante, escondia uma colher de sopa de timidez, duas colheres de sopa de acovardamento, meia xícara de desajeitamento, uma pitada de indecisão.
V – A história do Super-Homem – filosofia e fé
Ele nasceu no planeta Krypton, distante das localizações universais. O seu pai, um sábio conhecido por Jor-El, marido de Lara, descobriu que Krypton estava próximo da desintegração por motivos de relevância significativa e científica. Ele e sua esposa colocaram o único filho Kal-EL em uma cápsula e o enviaram ao planeta Terra. Todos nós, neste momento, por obrigação de criatividade lembraremos de Moises. Considerando também por um exercício simples de filologia, que “El” significava estrela e “Kal” era um termo comprometido com a divindade, o que, num primeiro momento pode nos levar a muitos textos religiosos. Na outra ponta, por motivo óbvios, encontraremos o filósofo Nietzsche criando o seu Super-Homem, um instrumento social comprometido com a melhoria e aperfeiçoamento do indivíduo, em detrimento de uma humanidade indefinida, social e inexistente. Agora, neste ponto do texto, vamos falar do filme, para muitos apreciadores da arte cinematográfica, o filme definitivo sobre Super-Homem, realizado em 1978.
VI – A obra de 1978
A cabeça dos diretores, iluminadores, roteiristas, cenaristas, imaginaram o ator Robert Redford para voar pelo espaço indefinido. No período da tarde, momento de mudança e desejo, pensaram no ator Paul Newman, mas suas pernas eram muito tortas. Ao anoitecer, horário desplanejado encontraram o ator Christopher Reeve, e a perfeição para o papel fora encontrada. Ele teve um único problema, desenvolver massa muscular o que foi feito sob as orientações do halterofilista Davis Prowse, campeão mundial do esporte.
VII – A história – Enredo
No planeta Kripton acontece uma reunião de sábios e cientistas, debatendo o futuro da vida no solo planetário. Munido de provas e estudos realizados ao longo do tempo, Jor-El aponta para os perigos da destruição de Kripton, quando o sol vermelho como sangue entrar em fase supernova. O debate não chega a lugar nenhum. Os conflitos ideológicos afastam as decisões da visibilidade trágica do momento.
VIII – Preocupado em salvar o seu filho
O menino Kal-El, recém-nascido foi colocado em uma nave espacial e lançado em direção à Terra. Nessa trajetória o garoto obtém poderes sobre-humanos. Após o lançamento da nave, Kripton se desfaz e milhões de partículas, com registro de um história passam a vagar pelo universo. Esses fatos são o princípio e a base de entendimento do personagem.
A nave atravessa várias atmosferas, campos magnéticos, astros perdidos em roteiros desconhecidos. A velocidade rompendo barreiras de luzes, além dos infinitos, pousa nas terras férteis de Smallville, Kansas. O menino Kal-El, com 3 anos de idade é encontrado por um casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent, em luta com o pneu furado da camionete da fazenda. O menino aproxima-se do carro, vê o desespero das pessoas que o encontraram e, sem cerimônia, levanta o veículo usando um de seus braços.
Aos 18 anos, após a morte de Jonathan, seu pai adotivo que o batizara de Clark Kent, o rapaz ouve um chamado vindo das estrelas e descobre um pedaço de sua antiga nave espacial. A revelação o obriga a viajar para o Ártico onde, numa fortaleza da solidão, recebe uma mensagem do pai biológico explicando-lhe a sua origem. De posse dos seus superpoderes, veste as roupas do Super-Homem, recebe o brasão da família no peito e voa até Metrópoles que, como Clark Kent consegue trabalho no jornal “Planeta Diário” apaixonando-se pela colega de trabalho Lois Lane.
IX – As ações que nascem da alma
Lois, executando o seu trabalho de jornalista tem um sério problema com o helicóptero que a transportava. Clark entra em uma cabine telefônica, transforma-se no herói de aço e a salva diante de todas as possibilidades improváveis. Povo na rua. Prédios. Ação. Paixão sobrevoando a vida e a morte. O ladrão de joias escala o edifício carregado de esperanças. No meio do prédio encontra os pés de Super-Homem; os seus sonhos viram poeira, e a polícia o aguarda em terra firme. O herói voa entre as luzes da cidade, salva um gato, intercede na segurança do porto local, prende os ladrões dentro dos seus próprios pensamentos. Entre uma ação e outra, visita o prédio de Lois e, numa das cenas mais lindas e mais românticas do filme, a leva para sobrevoar os edifícios que formatam a cidade.
A música, as batidas do coração, cruzam-se nas vibrações das emoções, da vida, e da paixão que desce como fios de prata das estrelas.
Ao lado das atividades de Super-Homem, no subsolo da terra, o criminoso Lex Luthor projeta um plano para arrecadar milhões de dólares num golpe de vendas de imóveis em terras do deserto. No plano e desenvolvimento dos mísseis expedidos por Luthor, Super-Homem consegue impedir os impactos. Enquanto esse confronto entre o vilão e o herói acontece, o carro de Lois acaba caindo em uma fenda que se abre na superfície da terra. O Super-Homem não consegue salvá-la. Mesmo sabendo que não deve interferir nos acontecimentos humanos, mas ferido por um amor profundo, o herói acelera o seu voo em torno da Terra fazendo com que o tempo retorne, os fatos retornem, a vida vença a morte e Luthor seja destruído e preso. Assim, caminhando lado a lado com as ações da história, o amor se consagra como vencedor diante das dores, das maldades que corrompem o mundo.
X – O ator Christopher Reeve
No mês de maio de 1995, no Condado de Cupeper, aconteceria uma competição equestre. As ruas estavam enfeitadas, havia bandeiras nas casas, nos prédios, nos campos, na pista de corrida de cavalos. O início da competição tremeu o chão. As patas dos cavalos não tocavam os espaços visíveis, pareciam vibrar na corrente de ar.
O cavalo montado pelo ator Christopher Reeve, troteando a velocidade e o destino, derruba o competidor numa cerca limitadora da pista. Reeve bateu a cabeça, fraturou a primeira e a segunda vertebra, ferindo seriamente a espinha cervical. O Super-Homem perdeu os movimentos do pescoço para baixo. No dia 10 de outubro de 2004, aos 52 anos, seu coração parou. Dizem, os que estavam próximo ao ator que três anjos se aproximaram de sua alma. O tormento, o longo sofrimento, acabaram e juntos, voaram em direção a um Deus simples, bom, criador das coisas e dos momentos que embalam a vida.
Nesse voo, ninguém observou,
Mas Reeve sorriu; não havia
Câmeras, cenários, maquiagem,
Só a beleza do senhor dos universos.
Receita
Suflê de abóbora com carne seca
Ingredientes: 2 colheres (sopa) de manteiga; 2 colheres (sopa) rasas de farinha de trigo; 1 xícara (chá) de leite; Sal, pimenta-do-reino e noz-moscada a gosto; 1 xícara (chá) de carne-seca dessalgada, cozida e desfiada; 2 xícaras (chá) de purê de abóbora; 3 ovos (claras e gemas separadas); Margarina para untar; 2 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado para polvilhar
Modo de preparo: Em uma panela, derreta a manteiga, em fogo médio, e polvilhe a farinha. Frite por 2 minutos, mexendo. Acrescente o leite, aos poucos, mexendo até engrossar. Tempere com sal, pimenta e noz-moscada. Acrescente a carne-seca, a abóbora, as gemas e misture. Bata as claras em ponto de neve com uma batedeira ou batedor manual e misture delicadamente ao creme. Despeje em fôrmas individuais de porcelana, untadas e polvilhadas com o parmesão. Leve ao forno médio, preaquecido, por 35 minutos ou até crescer e dourar. Sirva em seguida.
Por Adriana Padoan