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quinta-feira 14 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Sete anos no Tibet e a filosofia budista

I – A realidade
O sol dormiu por duas horas. Nesse período de sono, nasceram novas estrelas, milhares de espécies de flores, peixes coloridos nos rios profundos. Porém, uma nuvem descabeçada, gerou Hitler, a Segunda Guerra Mundial, mortes sem raciocínio e também nasceu o alpinista Heinrich Harrer, um nazista da SS, matador profissional de patriotas indecisos e inocentes.

II – Término da Guerra
As metralhadoras trancaram as suas bocas e novas vidas começaram a surgir nos caminhos do mundo, feitos de horas e sentimentos refletidos em meses. Novos filósofos pensaram sobre as causas e as consequências de uma tragédia sem explicação definida, vários antropólogos pensaram na cultura que de alguma forma foi desviada do seu lugar de chegada.

III – O livro de Harrer
A lembrança pode sorrir ou trazer lágrimas embotadas dentro dos olhos. Em seus silêncios, sem distâncias definidas, processos abismais, o alpinista nazista, matador de judeus começou a escrever as suas histórias, suas aventuras nas montanhas do Himalaia, o despedaçamento da família, o seu contato com uma criança de 11 anos, mas trazendo nos olhos a fé e os sentimentos de um Dalai Lama.

Lá pelas décadas de 1930, o austríaco nazista Harrer, tornou-se uma espécie de ídolo do seu país e do mundo, ao escalar montanhas encostadas nos céus, um tipo de esporte adorado por poucos adeptos. O filme “Sete Dias No Tibet”, nasceu das ideias e relatos do alemão que participou de uma guerra mortal.

IV – Sete Anos no Tibet
A direção do filme e o encontro textual é de Jean-Jaques Annaud. O roteiro, tarefa das mais difíceis foram escritas por Becky Johnston, a partir da autobiografia escrita pelo soldado da SS. O filme estava programado para ser filmado na Índia, pois a grandiosidade do país sustentava o mundo vivenciado pelo autor do livro. O governo indiano pressionado pela China, desautorizou a realização das filmagens. O diretor, após pensar e escolher várias possibilidades realizou o projeto na Cordilheira dos Andes, na Argentina. O filme teve o seu início e desenvolvimento no ano de 1997. No lançamento e estreia, na frente dos cinemas expositores, houve o boicote dos judeus contra todos os cinemas de Nova York e outras partes do mundo.

V – O início
Heinrich Harrer fez parte da SS nazista, como já comentamos anteriormente. Era um alpinista austríaco reconhecido por este esporte, em todas as disputas realizadas no planeta Terra. Ele, como pessoa, era egocêntrico, adorava a glória pessoal, era rude, matador, fanático e defensor das barbaridades praticadas pelos soldados nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Em uma época de sua vida, por fortes motivos pessoais, tentou escalar o Nanga Parbat, o nono pico mais alto do mundo. Onze pessoas, todos alpinistas alemães, morreram tentando vencer a realidade desenhada pela natureza nas alturas justificadas por um sonho surpreendente.

VI – O trágico marcando o “eu” inquieto
A partir dessa tragédia, o desejo de vencer o desafio de escalar o pico, tornou-se uma obsessão dominadora dos pensamentos do alemão. Os picos altíssimos e gelados dormiam em seus travesseiros. A voz do vento invadia os seus sonhos alertando-o dos perigos, das impossibilidades e das fraquezas humanas. Chegava a imaginar que mesmo dormindo carregava a mochila e os aparelhos usados na escalação em suas costas. Acordava suando, gritando, carregando o pavor que antecedia o seu café.

VII – A busca
Em uma determinada manhã, sem marcas ou personalidade dentro do túnel do tempo, Harrer arrumou as malas, ajeitou em um canto de sua sala, em uma delas registrou o seu caráter simbólico de soldado guerreiro e nazista. Usando todos os meios de locomoção, viajou durante os dias e as noites para outra face do mundo, foi em busca das dores e das rugas históricas do Himalaia.

A sua personalidade de realizador do possível e impossível, o levou a deixar aos cuidados de um amigo, a sua mulher grávida e um casamento em crise. Ao tentar escalar o topo, sentindo o desejo e a vontade brotar pelos seus poros, sofreu um trágico acidente, coisa perigosa que dilacerou uma de suas pernas:

A raiva!
O ódio!
O desprezo por si mesmo!
A derrota e a tentativa de disfarçar,
Através de um sorriso opaco!

VIII – Os acontecimentos
Em seus dias de abandono, de derrotado e abraçado por uma falência individual, caminhava pelas ruas sem um traçado e a visão da chegada em algum lugar mesmo perambulando pelas ruas durante esse tempo perdido, a Inglaterra declarou-se inimiga da Alemanha. A sua nacionalidade, a sua condição de soldado da SS, estamparam a sua foto de inimigo público, por estar na Inglaterra.

Foi detido, interrogado e preso. As noites passadas numa cela escura, as ideias navegando pelos corações das nuvens e a caminhada pelas ruas desafiadoras do Himalaia. A escalada até o topo do “Nanga Parbat”; a sua vitória fotografada no centro de bandeiras de pano, as comemorações, o cheiro da vitória, tudo ao lado do odor da cela da prisão.

A realidade, por necessidade, não tem um aroma bom, uma cama torturada e torturante, a cela abafada e imunda. O corpo tentando viver outros lugares do planeta; a alma buscando o gosto que sai dos lábios dos vencedores. Tenta várias fugas, mas a distância e os espaços são domínios dos inimigos. O retorno à prisão dilata a dor e animaliza a reflexão humana.

IX – Noite misteriosa
A escuridão tingiu de preto as montanhas, os mosteiros, as salas do poder. Encostado em paredes invisíveis, Harrer consegue escapar da prisão. Caminha por ruas esburacadas e desconhecidas, a geografia do Himalaia não oferece um roteiro seguro e possível. A fome, o sangue de ferimentos passados, o medo colado no inconsciente. Certa tarde, próximo ao pé de uma montanha, encontra-se com outro alpinista, também fugitivo, chamado Aufshnaiter, são irmãos de sonhos e conquistas. Juntos, conseguem entrar no desconhecido Tibet, quatro mil e novecentos metros de altitude, o país mais alto da Terra, o teto do mundo, na definição dos historiadores.

Eles acompanham o vento, andam seguindo o movimento das folhas e, ao entardecer de um dia diferenciado em vários aspectos chegam a Lhasa, a capital espiritual e administradora do país. Em Lhasa, pela força energética da cidade, ergueram o sagrado Palácio de Potala, a casa dos Dalai Lama, uma marca em alto relevo do budismo tibetano. Os Dalai Lama são aparentados com os deuses da compaixão, da sabedoria, da fraternidade, do conhecimento espiritual, do domínio da mente e sua força, sua aplicação neste e em outros mundos.

Na época que os dois entraram em Lhasa, a cidade estava fechada aos estrangeiros. A terra dos monges budistas os aceitou como exilados de suas pátrias. O chão que os aceitou tem os seus costumes que orientam todas as vidas. A formação de Harrer não consegue entender o respeito, o amor, a convivência, a força interior dos habitantes da terra dos Dalai Lama: a paz, a lógica, as simplicidades são plantadas em todos os jardins e dentro das casas.

Os dias caminham na linha traçada pelo infinito. Nesse longo andar, a criança chamada Tenzin Gyatso, de 11 anos, considerado pelos tibetanos o décimo quarto líder espiritual e o presente Dalai Lama, soube da presença do nazista Harrer, e deseja conhecê-lo. Os dois, por motivos culturais e espirituais estabeleceram uma relação de amizade, desejo e vontade, embasada na pedagogia que habita os corpos dos dois amigos.

X – Aulas e entrega espiritual
Dalai Lama demonstra uma curiosidade que ultrapassa as estradas culturais do ocidente. O mundo que se move fora do seu palácio parece ferido pelos sonhos. A tecnologia, a loucura manipulada pela economia, as armas que matam, a televisão, o cinema, os carros, os aviões, os divórcios, as heranças estabelecidas por brigas sem o mínimo sentido.

XI – O Tibet
A cultura tibetana surgida a partir do casamento de um casal de macacos. O surgimento de uma cultura baseada no movimento e na meditação, na leitura dos textos litúrgicos, o respeito ao Dalai Lama, a nação que acredita que tudo é sofrimento e o seu despertar está no desejo, ganância, maldade. A libertação do sofrimento localiza-se no caminho do meio, que se caracteriza pelo exercício da paciência, da vigilância e pela iluminação dos pensamentos marcados pelo desequilíbrio. Devemos acreditar no poder da reencarnação humana, dos animais e das plantas.

A escolha da fonte da reencarnação oferece, à humanidade, a possibilidade de se chegar a libertação dos sofrimentos que estão no alto conhecimento de cada um. Devemos amar cada vida que compartilha conosco a natureza, cuidar, proteger, nutrir. Se você não permitir que esse sentimento gere essa ação, o amor não mora em você mesmo; é uma tarefa muito difícil cuidar de outra pessoa, sem amar a si mesmo.

Por esse motivo, na cena da construção do cinema, para os tibetanos, a obra foi parada para salvar as minhocas. Na outra encarnação, na crença tibetana, elas podem ter sido as mães de todos os trabalhadores.

O filme “Sete Anos No Tibet”, não se alinha apenas a um texto. Ele vasculha a psicologia, a filosofia, os estudos antropológicos e religiosos; cada conhecimento demarca a relação entre o nazismo, e o amor que nos move de dentro para fora, como uma cúpula protetora com capacidade de afastar a violência brotada em algum lugar do corpo humano.

Noite. Cheiro de flor da mata.
Hasser caminha só, em silêncio.
Suas mãos vão colhendo,
Na beirada das estradas:
A paz,
O amor,
A fraternidade,
O controle pessoal,
A construção de um mundo melhor,
Sensível e belo.
No fim da estrada,
Depois de uma roseira,
Ele colhe o sorriso de Deus,
E o coloca dentro de seu novo coração,
Um coração tibetano.

RECEITA

ARROZ DE LIMÃO
Ingredientes: 1 colher de chá de semente de mostarda, 1 colher-chá de cominho em pó, 2 colheres de sopa de manteiga ghee, ½ xícara de castanha de caju crua, 1 colher de chá de açafrão-da-terra em pó (cúrcuma), 1 xícara de arroz branco.

Modo de fazer: Aquecer em uma panela as sementes de mostarda e o cominho em pó. Retirar da panela e reservar. Derreter a manteiga ghee na mesma panela e acrescentar as castanhas de caju. Deixe dourar um pouco. Acrescentar o arroz e misture bem. Adicionar a água quente, o sal, todos os temperos e misture bem. Tampar a panela deixando uma fresta. Quando ferver, abaixar o fogo e deixar cozinhar por 15 minutos aproximadamente. Quando ainda houver um pouco de água no fundo da panela de arroz, juntar as ervilhas e tampar a panela totalmente. Cozinhe por mais 5 minutos e apague o fogo. Espremer o limão sobre o arroz e mexer delicadamente para não quebrar os grãos de arroz.

por Adriana Padoan