I – Montagem da equipe.
O sol iluminava as casas, as ruas, as lojas, os jardins e a vida que se movimentava entre os sonhos. A luta, o trabalho, o amor, as possibilidades de abraçar, bem apertado, o futuro possível, idealizado.
No estúdio cinematográfico da Colina, uma equipe formada por 600 pessoas, distribuída de acordo com a capacidade profissional de cada um, criava um projeto para a realização de um filme que, de alguma forma, tocasse o coração das crianças, dos adultos e daqueles conhecedores de todos os embates da existência. Nessa equipe havia técnicos, escritores, roteiristas, especialistas em computação gráfica, engenheiros de som, iluminadores, movimentação e avaliadores da capacidade universal dos seres humanos, em transportar as emoções em pequenos barquinhos de lágrimas.
II – O enredo, a trama, o argumento.
O dia passou, mais de 300 pássaros, de cores e cantos diferentes, sobrevoaram a torre da igrejinha, e a equipe pensando, criando. A noite entrou na ambiência onde o coração humano, dos animais, das flores, das árvores filosóficas, enfrentam os mistérios estendidos sobre a terra, mistérios encarnados em promessas de encontros, desencontros, juras de amor, desilusões amorosas e a equipe imaginando o filme, organizando a inspiração, doutrinando a vibração dentro do peito. A madrugada pediu licença, abrindo as portas para o nascer de um novo dia; os galos saltaram dos poleiros e cantaram a ópera das ativações de todas as coisas, e a equipe concluindo o projeto, corpo vivo e exposto.
III – Cansaço e lágrimas.
O brasileiro Marcos Silva trabalhou e fez parte da equipe da produção do filme Rei Leão, fazendo parte do departamento de cenários virtuais. O tempo anunciava o seu nascimento nos primeiros lampejos da luz do sol. O trabalho apossava-se dos membros da equipe e os sentimentos partiam do coração e, como um delírio carregado pelo vento, invadiam as folhas de desenho, da computação gráfica, da criação individual e coletiva.
Ao todo, sem falar de números exatos, a equipe produziu mais de 1 milhão de desenhos; mais de 1190 cenas individuais e 1155 planos de fundo. A missão da equipe assemelhava-se aos ambientes de Ulisses na Odisseia, de Homero. Somente a cena do estouro da manada de antílopes, fragmento que determina o início do clímax do enredo, uma cena que consegue reter a respiração do público, durante 2 minutos e meio, levou dois anos de trabalho para ser concluída.
Nos finais de semana, nas poucas horas de descanso, eu entrava no restaurante da italiana Sofia e, sentado nos fundos, próximo à janela do gramado, saboreava uma lasanha de berinjela, motivado pelas lembranças da minha vó e, enquanto comia, ia recordando as savanas da África.
IV – Argumento beijando uma história.
A equipe criou as sequências que sustentavam a existência de um rei, de uma rainha, de um filho. Essa família, dentro da trama, é formada por leões; os coadjuvantes pertencem ao mundo dos demais animais; o espaço em estudo, o ambiente é uma selva sublimada, representando os conflitos do homem relacionando-se com suas dores, no dia a dia.
Escolhemos para narrador da história a personagem Rafiki, pela sua sapiência e conhecimentos místicos.
V – O filme Rei Leão
Sou um macaco muito parecido com um mandril; moro em um Baobá, conheço a história da África, a magia da savana, a fala dos mortos, dos ancestrais. Eu sou um sonho e narrador da história.
VI – O início da narração
Posso começar contando a cena em que o rei Leão Mufasa, ao lado da rainha Sarabi, caminham com toda pompa sobre A Pedra do Rei, levando o príncipe Simba, futuro rei para ser apresentado aos animais do Siringete. A cena é profunda, emocionante, uma revelação do que é o poder, a felicidade de um povo, a confiança no rei Mufasa e no príncipe sucessor. Os planos de fundo trazem a natureza, as cores, os deslumbramentos, para o interior dos acontecimentos. Eu batizo o príncipe, benzo-o seguindo o ritual do Siringete, e peço proteção ao seu destino.
VI – A trama
O rei apresenta alguns ensinamentos a Simba, príncipe anunciado; são lições básicas de ataque e defesa, abordam os limites que centralizam a visão do rei, os deveres e direitos, e Simba conhece o seu tio Scar, irmão de seu pai. Scar tem uma aura preenchida pela inveja, incapacidade, inferioridade, porém, como grande parte dos animais, sonha em ser rei. Scar não tem parceiros, seguidores sinceros, adeptos; vive com um grupo de hienas comandadas por Shenzi, Banzai, Ed.
Existe uma verdadeira batalha pela Pedra do Rei; Scar, tio de Simba, não comparece na cerimonia de sua apresentação, seu peito guarda ódio, rancor, desejo. Enquanto Mufasa instrui o filho e o educa; Scar, o convence a conhecer o Cemitério dos Elefantes, local tenebroso, macabro, proibido para os leões. Simba desobedece ao pai e, ao lado de Nala, sua amiga e o pássaro Zazu, rumam para o Cemitério dos Elefantes. Esse cemitério apareceu num filme de Tarzan de 1938. O plano de fundo é escuro, caveiras e presas de elefantes espalhadas pelo chão, e Simba é atacado pelas hienas de Scar, quase morre, mas o pai surge de repente e o salva.
No retorno para casa as hienas de Scar assustam uma manada de antílopes, provocando um estouro; Simba está no caminho desses animais ensandecidos, sua vida está por um fio, mas o rei Mufasa surge do nada salvando o seu filho. No desespero e na rapidez dos acontecimentos Mufasa fica prezo num galho de uma árvore, pede ajuda ao irmão Scar, mas é empurrado, despencando de um penhasco bem alto.
Scar culpa Simba pelo acontecido e para completar seu plano, expulsa Simba do território, encaminhando-o para o deserto. Calor, natureza, desequilíbrio, solidão, vertigem. O príncipe é encontrado por dois animais que vivem o carpi diem, uma filosofia que propõe a vivência do seu dia, de cada momento, com muita alegria. Esses animais são um suricato falante e um javali comilão e risonho, chamados Timão e Pumba, e a amizade antecipou-se ao riso. O riso acelerou o voo do beija-flor. O beija-flor beijou a roseira com tanto carinho que a vida encontrou um pouco de calor e doçura.
O dia consagrado aos golfinhos, Nala encontra Simba no exílio; a paixão relembra a infância, a infância levou o cheiro de Simba até mim e nos encontramos. Simba retornou ao seu lar detonado por Scar e suas hienas, Simba, orientado pela estrala brilhante, pelos conselhos dados através do fantasma de seu pai, luta com o tio Scar, derrota-o, vinga a morte do pai e, casado com Nala, caminha sobe a Pedra do Rei, para apresentar o seu filho, e tudo pintado com as mesmas cores, recomeça com o príncipe leão.
VII – Intertexto.
Existe uma teoria no universo dos estudos literários chamada intertextualidade. Tal teoria afirma que existe um namoro entre todos os textos literários; um texto apaixona-se por outro texto e, desse namoro nasce um texto novo, trazendo em seu perfil, ideias emanadas dos textos anteriores. Dessa forma a literatura mundial é uma realidade eterna, é a projeção dos sentimentos mais profundos interligados no caldeirão cultural do universo.
VIII – Hamlet e sua projeção no Rei Leão
No ano de 1601, na Inglaterra, o dramaturgo Willian Shakespeare trancou-se no quarto de uma casa de repouso e, atravessando as vozes do tempo escreveu Hamlet, considerada um dos melhores estudos da alma humana.
Essa peça conta a história do rei da Dinamarca que é assassinado pelo seu irmão Claudio, que lhe rouba a família, os súditos e o poder. O filho do rei assassinado, também chamado Hamlet vinga a morte do pai, que lhe aparecera em uma noite como um fantasma pedindo justiça, vingança, restauração do reino da Dinamarca.
Nessa peça de Shakespeare no monólogo da primeira cena do terceiro ato, Hamlet, segurando um crânio humano pronuncia a frase: “Ser ou não ser, eis a questão”, ou seja, de uma forma bem simples, existir ou não existir, viver ou não viver; trata-se de uma resposta a todos os questionamentos da humanidade.
IX – Rei Leão
No filme do Rei Leão, não há como negar que a história é quase a mesma, bata a lembrança da cena do filme dento de uma caverna, quando o leão Scar, deitado sobre uma pedra, com uma caveira em uma das patas questiona: “Comer ou não comer, trabalhar ou não trabalhar, estou com preguiça”.
Para terminar, vamos todos olhar as estrelas do céu, em uma delas está o rei Mufasa que, corporificando um fantasma fala com o filho Simba, exatamente como na peça Hamlet. Estamos diante de um trabalho cinematográfico maravilhoso, um intertexto respirado na peça de Shakespeare.
Para lembrança:
O suricato Timão viu um grilo,
Dançando na folha de um cipreste.
Timão também cantou e dançou.
Pumba mirou a luz do sol,
Colorindo a borboleta,
Segurou o coração contendo o descompasso da emoção.
Receita
Ingredientes: 2 berinjelas médias cortadas em fatias finas, na horizontal; ½ colher (chá) de sal; 1 xícara (chá) farinha de trigo;
Para o molho: 1 colher (sopa) de óleo; 400 gramas de patinho bovino moído; 2 tomates sem pele e sem sementes picados; 1 sache de caldo de carne, 1 e ½ xícara (chá) de polpa de tomate; 1 xícara (chá) de água; 250 gramas de fatias de mussarela, alho, cebola e sal a gosto.
Modo de preparo:
Em uma tigela grande coloque a berinjela, salpique o sal pelas fatias e deixe escorrer por 10 minutos. Seque em papel toalha, passe-as pela farinha de trigo e frite-as em fogo médio, em frigideira com óleo até ficarem douradas.
Faça o molho. Frite o alho e a cebola em uma panela até dourarem. Junte a carne moída e refogue. Junte o molho, o tomate, o caldo de carne e deixe apurar. Verificar o sal.
Montagem:
Em um refratário médio faça camadas com o molho, a berinjela, a mussarela, repetindo até acabar a berinjela e finalizando com a mussarela.
Leve ao forno médio, 180 graus pré-aquecido até gratinar e o queijo derreter.
Por Adriana Padoan