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terça-feira 24 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Romeu e Julieta: a tarde, rua e sangue

I – Introdução necessária
O cinema tem um poder que nasce no interior de sua função específica, enquanto arte da imagem em movimento, da música demarcadora das emoções, da fotografia que perpetua e documenta os delírios criativos dos cineastas. Foi em uma de suas estradas que entrei no cosmo de um artista que viveu no século XVI, chamado William Shakespeare, um gênio que continua a viver dentro de cada ser humano, mesmo no instante que a evolução tecnológica cravou o seu frenesi na realidade sonhada pela ciência.

II – William Shakespeare
Estamos frente a frente com um artista que assistiu a morte da Idade Média e o início do Renascimento, isto é, uma data timbrada pelo século XVI, época da expansão marítima, da criação das universidades, da descoberta da América e da constatação da existência de um novo mundo.

Não sabemos se Shakespeare era alto, bonito, franco, alegre, triste ou mergulhado em si mesmo. Há pouquíssimos registros referentes ao seu aspecto físico. Por outro lado, podemos afirmar que foi poeta, dramaturgo e ator inglês. Viveu, bebeu, alimentou-se, casou e teve três filhos. Deixou-nos 38 peças de teatro, 154 sonetos, contos, interpretações fantásticas.

O seu convívio com o teatro gerou peças como “A Comédia dos Erros”; “Romeu e Julieta”; “Ricardo III”, “Sonho de uma noite de verão’; “O Mercador de Veneza”; “A Megera Domada”; ”Júlio Cesar”; “Hamlet”; “Otelo”; “Rei Lear”; “Macbeth”, entre tantos outros trabalhos.

Uma de suas peças mais famosas, mais populares existencial e cronologicamente é a tragédia de “Romeu e Julieta”, o relacionamento amoroso de dois adolescentes, o arquétipo das lágrimas que fluem na correnteza da vida da humanidade.

III – Ponto de partida
A história vem-nos da antiguidade que principia o império das emoções; parte do coração dos “Os Contos Efésios”, de Xenofonte, no século III e nas “Metamorfoses” de Ovídio, no oitavo século depois de Cristo. É a partir desses botões que a roupagem de Romeu e Julieta começa a ser costurados, bordados, lancetados, dramatizados.

IV – A visão de Shakespeare
O dramaturgo inglês investe na criação de personagens secundários que fortaleçam o nervo central da fabulação, que estabeleçam uma gravitação em torno da época, da estrutura social, dos costumes, do comportamento humano dirigido pelos poderes constituídos.

Na criação de novos personagens, Shakespeare abre-nos a visão na direção da amplitude dos acontecimentos, da abertura e possibilidade de análises de um viver subcutâneo, mas muito significativo.

A história do amor entre dois jovens, duas vidas marcadas pelos desenhos das estrelas, esteve presente em todos os palcos de teatro do mundo, transformou-se em música; gerou centenas de óperas, dezenas de filmes, de novelas radiofônicas e televisivas.

A opção de Shakespeare em colocar o enredo da peça em Verona, no século XVI, encontra justificativa histórica e significado movido pelo desenvolvimento de uma burguesia alavancadora, de uma nova visão econômica, administrativa e social. A cidade situava-se, estrategicamente, no Norte da Itália, interposto comercial do novo universo baseado na relação entre a produção e o capital. A força textual da peça teatral levou Verona a preservar o seu patrimônio arquitetônico, o seu anfiteatro romano, castelos medievais, palácios, igrejas, o Castelvecchio, “Casa de Julieta”, o balcão onde o amor brotou sobre o brilho erótico de uma lua compromissada com a fatalidade que rodeia o nascimento de homens, mulheres e crianças.

Hoje, diante da violência estabelecida em nosso planeta milhares de jovens, namorados, casais apaixonados visitam Verona procurando na pronúncia própria do vento, o sorriso, o choro, a vida e a morte de Romeo e Julieta.

V – O filme de Franco Zeffirelli
Em 1968, movido pela poesia que habita as câmeras de cinema, Zeffirelli cineasta nascido em Florença, Itália, realizou o projeto artístico para filmar “Romeu e Julieta”. Com o texto original de Shakespeare, no lugar mais profundo de seu coração, juntamente com Franco Brusati, Masolino D’Amico, roteirizaram o drama do teatrólogo inglês sem se afastar em demasia do texto gerador escrito em 1592. Mapearam o país em busca de ambientes históricos, e ambientes onde a cor, o cheiro, as dores dos personagens ainda permanecem na proximidade do olhar.

VI – O resultado
Manhã de verão em Verona, na Itália, o sol ilumina as pedras das ruas, os casarões, as torres das igrejas, as feiras, os mistérios que se aquecem nos braços de uma história que, aos poucos, nasce para ser contada. No meio da praça há uma briga entre os Montecchioes e Capuletos, duas famílias rivais e marcadas pelo ódio. A oposição entre os membros das duas famílias caracteriza as mudanças culturais produzidas pela morte do modelo medieval e nascimento da estrutura renascentista. Poder, concorrência, cultura, choques ideológicos, conflitos morais, religiosos, humanos.

O Príncipe, autoridade máxima de Verona interrompe as desavenças. Ao lado de seus soldados, ameaça os brigões, afirmando que a próxima contenda, trará sérias consequências para as duas famílias.

VII – A noite
Dois adolescentes, em busca da vida, filhos das famílias inimigas, Romeu e Julieta, se encontram em um baile de máscaras promovido pelo pai de Julieta, o rico Capuleto. Ele, Romeu, um Montecchio, entrara no baile mascarado, acreditando encontrar uma mulher que, sem motivo aparente abalara o seu coração.

Considerando, porém, o giro que o universo utiliza para despertar as emoções, os seus olhos tombaram sobre a imagem de Julieta, e o coração alucinado e alucinante bate em suas próprias sombras desconhecidas, e o peso da adolescência arrasa o domínio sobre a controle da existência.

VIII – O jardim. A árvore. O balcão.
A festa terminara, os passos afastavam as visitas do ambiente. Romeu, o jovem mascarado, está no jardim da casa. Julieta, apaixonada, confessa o seu amor pelo jovem Romeu às estrelas. Ele, sentindo a circulação destemperar a sua razão sobe ao balcão em direção a Julieta. O olhar, as palavras, o beijo, a descoberta do sabor de tragédia, ao descobrirem que são filhos de famílias rivais e inimigas.

IX – O Frei Lourenço
Um frade que convive, até por motivos religiosos, com as duas famílias e amigo dos dois jovens, faz o casamento dos dois em segredo. O religioso acreditara que, com o casamento entre os filhos, a paz e a cordialidade poderiam abrandar o ódio entre os familiares.

X – A tarde, rua e sangue
Na mesma tarde do casamento, Teobaldo, primo de Julieta desafia Romeu para um duelo por ter participado do baile de sua família. Mercúrio, amigo de Romeu, aceita o desafio. A luta leva Mercúrio a morte. Sem saída, procurando vingar o amigo, Romeu mata Teobaldo. A consequência prometida anteriormente pelo Príncipe, Romeu é banido de Verona e, condenado à morte, caso retornasse. Com a proteção de Frei Lourenço, Romeu passa a noite com Julieta, consumando o casamento antes do exílio.

XI – A tragédia, o segredo
Desconhecendo o casamento secreto de sua filha Julieta, o seus pais exigem que ela se case com o milionário Pares. Julieta pede auxílio ao Frei Lourenço. Na véspera do casamento com Pares, Julieta toma uma poção preparada pelo frade que a deixará inconsciente por 42 hs, parecendo morta. O plano do religioso exigia que se avisasse Romeu. No entanto, por engano, Romeu fica sabendo da morte de Julieta. Em desespero, entra na cripta de um cemitério, vê a amada morta. Romeu toma veneno, não suportando a morte da mulher amada. Julieta, ao despertar, vê o marido morto, suicida-se com o seu punhal.

A importância do texto para o teatro, está na rapidez com que as ações acontecem, ou seja, tudo ocorre em 4 dias.
No texto, em seu todo, há a quebra da subordinação da mulher, o suicídio estabelecendo a morte pela “religião do amor”; a punição pela disputa do poder entre as duas famílias, a esperança, o desespero, o desenvolvimento psíquico do ser humano, ou seja, a infância, a adolescência, o fálico, e o edípico chegando à morte.

O texto, pela profundidade do tema influenciou a literatura do mundo inteiro. Inclusive a literatura romântica com “Inocência” de Alfredo Taunay no romantismo brasileiro.

RECEITA
RISOTO RISI E BISI

Ingredientes: 1 colher de sopa de azeite; 1 cebola pequena bem picada; 1 dente de alho amassado; 100 g de bacon em cubos pequenos ou bochecha de porco cortada em cubos pequenos e fritos; 2 xícaras de arroz Arbóreo; 1 l de caldo de legumes ou frango; 1 xícara de ervilhas frescas ou congeladas; 1/2 xícara de salsa picada; 1/4 de queijo parmesão ralado; 200 ml vinho branco; 1 colher de sopa de manteiga

Modo de fazer: Refogue o bacon ou a bochecha na manteiga. Acrescente a cebola e depois o alho. Quando dourados coloque o arroz. Mexa um pouco e logo adicione o vinho branco. Deixe o vinho ferver e coloque pouco a pouco o caldo, mexendo sempre. Adicione as ervilhas frescas. Quando o arroz estiver cozido adicione o azeite e o parmesão emulsionando bem. Acrescente a salsa no momento de servir. Deve ser servido bem quente, cremoso e com os grãos cozidos “al dente”.

Por Adriana Padoan