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quarta-feira 27 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Rio e a preservação da natureza

I – 1500
Os navios venciam as ondas combativas nascidas no fundo do mar. Os marinheiros, queimados de sol subiam os cordames das caravelas tentando dilatar a capacidade do olhar; enxergar além das águas. O Comandante, Pedro Alvares Cabral, sonhava, orava, acreditava, ouvindo sons caído das nuvens baixas e curiosas. De repente, o marinheiro que estava na gávea, um cesto colocado no topo do mastro mais alto, gritou: Terra à vista. O capitão português viu terra, floresta, índios, e dezenas de ararinhas-azuis voando em grupo. As aves estavam felizes, livres, gritando poesia.

II – Ararinha-azul em Hollywood
Na outra América, num espaço chamado Hollywood, lugar onde nascem os filmes dentro dos olhares das câmeras cinematográficas; a empresa 20th Century Fox, fundou um novo braço na estrutura da indústria chamada Blue Skay, para produzir um filme chamado “Rio”, um projeto do diretor brasileiro Carlos Saldanha, escrito em uma noite que a saudade balançava o seu coração ao ritmo do samba. Depois que o filme nasceu no reflexo das lentes, a Disney comprou a Blue Skay, e o trabalho de Saldanha foi distribuído pelo pai e mãe do Pato Donald.

A ararinha-azul voa em pares ou em grupos. A coletividade da ave, em seus voos ordenados, tem como função a proteção da espécie e a conscientização de que embelezam o céu, causando inveja às nuvens apaixonadas pelas florestas.

As ararinhas-azuis olham-se no espelho das águas que formam os rios, nos momentos de bondade do sol. Observam a coloração azul de suas penas, um azul-cobalto, criado por Deus. A parte inferior das asas é preta, para equilibrar o desenho charmoso cravado no azul das penas. A cauda, longa para destacar a presença na natureza, também é preta. Diante da imagem refletida nas águas, como um bando de narcisos mitológicos, elas gritam para chamar a atenção das flores que brotam nos passos dos anjos que caminham pelas sombras das florestas.

III – O “eu” das ararinhas
Elas alimentam o corpo com castanhas de acuri, uma palmeira que defini a região onde suas folhas cantam ao vento; saboreiam a castanha da palmeira bocaíuva, uma fruta circular, amarela, dá em cachos. O nome bocaíuva, dada pelos índios, significa “fruta gorda”. As ararinhas alimentam-se, espalhando as sementes pelo solo da floresta; a natureza agradece, todas as manhãs, o papel ecológico desempenhado pela beleza que voa, embalada pelas penas azuis.

IV- Dr. Anador, psicólogo
É um psicólogo que, de vez em quando cuida de uma ararinha desplumada de amor. Para o psicólogo, as araras já nascem em um ninho formado por pais atenciosos. O pai e a mãe, unidos por um amor eternizado, dividem todas as tarefas surgidas no corredor da vida; não abandonam os ovos em momento algum, o macho alimenta a fêmea, poetizando o futuro; adotam filhotes desamparados, quando os pais foram caçados; cuidam dos filhotes que nascem com uma determinada enfermidade; as ararinhas são donas de uma inteligência mitológica; são chamadas “de engenheiras ambientais”, são fieis até a morte; são amorosas, carinhosas; lambem a face do companheiro para dizer: “amo-o, porque você alimenta o meu coração”, são dóceis; permitem a aproximação dos seres humanos, por isso, quase foram extintas.

V – O filme
Achamos importante, antes de entrarmos no universo do filme “Rio”, comentar que a indústria cinematográfica americana, sempre se mostrou apaixonada pelo Rio de Janeiro; trata-se de uma paixão presa ao destino e ao tempo. O agente 007 esteve no Rio de Janeiro; com seu charme lutou contra o crime, sobreo Bondinho do Pão-de-Açúcar; “ O Incrível Hulk” esverdeou-se em Copacabana; “A Saga Crepúsculo: Lua Nova”, sentiu o cheiro do Rio histórico; “Brazil: O Filme”, de Terry Gilliam entrou na maresia das águas azuis; “Meninos do Brasil”, com Gregory Peck e Laurence Olivier, caminhou pela orla do Rio, extasiado pelas mulatas da mangueira.

VI – “Rio” – o filme
O início do filme simplesmente é deslumbrante; todas as aves em uma Floresta Tropical, cantam e dançam um samba que, há centenas de anos, pariu-se no chão sofrido de uma senzala. A música foi composta por Sergio Mendes e cantada por Carlinhos Brown. O filhote de uma ararinha-azul, não aguenta o repique do samba, mesmo estando no ninho, aproxima-se da porta, dá uns passos, cai, não consegue voar, motivo que justifica sua prisão por traficantes de aves exóticas.

Os traficantes enviam o filhote de ararinha-azul para a cidade de Mooselake, “Lagoa do Grande Alce”, em Minnesota, nos Estados Unidos. As palavras e as imagens teem vida no interior da história; sendo assim, Minnesoto é um vocábulo da tribo dos índios Siouz dos Estados Unidos, formada de mine, que significa “água” e sota significando “cor do céu”, juntando os pedaços temos “águas da cor do céu”, como a ararinha.

Na chegada em Minnesota, o caminhão derrapa na neve, a gaiola com a ararinha pula do caminhão para a lateral da pista, sendo encontrada por uma garota chamada Linda, que a leva para casa; batiza-a com o nome de Blu (azul) e cuida dela por 15 anos. Linda apaixona-se pela ararinha, domestica-a como um humano, afasta-a de sua essência, retirando da sua formação as coisas básicas, como voar, alimentar, desloca-se do habitat próprio, realiza os desejos de linda, tornando-se seu amigo, e realizando um renascimento, sai do status de ave, entrando no mundo dos humanos.

VII – A entrada em cena de Túlio
É um ornitólogo, uma profissão bifurcada, formada de ornithos, simbolizando pássaros ou aves e logus indicando estudos. A sua paixão pela ornitologia ultrapassa os limites da ciência. Ele localiza Linda e com ela o único macho da espécie das ararinhas-azuis. Considerando o trabalho da ciência, das estatísticas, a ararinha macho a quem linda criou e deu o nome de Blu, é o último macho da espécie. A espécie faz parte dos animais que chegaram à extinção.

Na luta pela preservação do planeta, permanecendo da mesma forma que Deus criou, Tulio deseja trazer Blu ao Rio de Janeiro, para acasalar com Jade, a última fêmea das ararinhas-azul.

VIII – O convencimento
Linda, Tulio e Blu voam para o Rio de Janeiro, para habitar o aviário de Tulio, onde se encontra a fêmea Jade. É importante saber se Jade é um mineral duro, compacto, esverdeado. Ela estranha Blu, mantém distância, conversa pouco.

IX – Noite
Na chegada preguiçosa da noite, o casal de araras-azuis é retirado do viveiro pelo órfão favelado, magérrimo, auxiliado por Nigel, uma ave da floresta Australiana, ex-artista de televisão, detesta pássaros belos, originária da Nova Guiné, sudeste da Austrália, domesticada em seu rancor, ódio, maldade.
O rapto acontece com o auxílio do menino órfão Fernando, favelado, sozinho e com o apoio de Nigel, a cacatua. O menino é contratado pelo contrabandista de aves Marcel. Marcel sabe que a ave está em extinção, daí a valorização milionária. O roubo acontece durante um jogo de futebol entre Brasil e Argentina, e o desfile das escolas de samba.

X – A fuga
O garoto favelado percebe o mal que fez a natureza e se arrepende. Leva Linda e Túlio ao esconderijo dos traficantes. Blu e Jade haviam fugido para a floresta. Blu continua não sabendo voar.

O significado e o que acontece na Marques do Sapucaí, Sapucaí é o nome que homenageia o Rio das Sapucáias, rio que canta, dança; nessa avenida eles localizam as ararinhas e os traficantes; Linda invade um carro alegórico e, acelerando o monumento carnavalesco aproxima-se dos bandidos que fogem no avião. Blu liberta Jade da gaiola, liberta todos os pássaros. Blu, porém não escapa, não sabe voar. Usando um extintor de incêndio afasta Nigel do avião. Jade, ferida, também não consegue voar. O avião cai na Guanabara. Blu, no desespero, consegue voar, salvando Jade.

XI – Amor/proteção
Blu e Jade voam para floresta e tem três lindos filhotes, Túlio se apaixona por Linda; adotam o órfão Fernando. Os contrabandistas são presos. Niguel sofre um acidente e perde a capacidade de voo.

E tudo chega ao fim
E o samba continua
Subindo e descendo o morro

Eu assisti a esse filme com os olhos de minha alma, sinto que o cinema põe no samba, na natureza a revolução consciente, a linguagem que fere como ferida idealizada. A pedagogia desfilou dentro do meu olhar, denunciando o tráfico de aves; países estrangeiros recebem os animais contrabandeados, os domesticam, tentam transformá-los na alegria dos humanos. As aves demonstram a beleza que são roubadas de nossas florestas, a uma classe rica e presa em problemas freudianos. A cada movimento da ararinha-azul em sua gaiola, os americanos, europeus descobrem a verdade sobre Deus.

No ano de 2011, durante o produção do filme “Rio”, na correria do vento, Dilma Roussel, tomava posse na presidência do Brasil. Nas rodas das viaturas policiais, o massacre de Realengo aconteceu, sem aviso, mas causou uma dor de Pátria ferida; do outro lado, do lado sem revelação, Osama Bin Laden misturou-se ao barro, decantando-se em sua brutalidade, Steve Jobs sonhou com Brun e morreu; o carnaval gritou pelas bocas da cuíca.

Eu, Adriana Padoan, da sacada do meu prédio, olhando a Catedral, recebi umas visitas. Blu pousou em meu ombro direito; Jade, no meu ombro esquerdo; os três filhotes em meus cabelos; o Cristo Redentor olhou nos meus olhos e sorriu; a floresta da Tijuca prometeu proteger as ararinhas-azuis; e um anjo disse-me baixinho: as ararinhas são as lágrimas de Deus.

A todos os meus leitores,
Beijos

BOLINHO DE MANDIOCA COM CARNE SECA
Ingredientes: 700g de mandioca em pedaços; 3 ovos; 3 xícaras (chá) de farinha de trigo peneirada; Ovos e farinha de rosca para empanar; Óleo para fritar.

Recheio: 2 colheres (sopa) de manteiga; 1 cebola em cubos; 500g de carne-seca dessalgada; cozida e desfiada; 4 colheres (sopa) de salsa picada.

Modo de Preparo: Em uma panela de pressão, em fogo médio, cozinhe a mandioca coberta com água por 20 minutos, após iniciada a pressão. Espere a pressão sair naturalmente, abra a panela, escorra e passe pelo espremedor. Deixe esfriar, acrescente os ovos, a farinha e misture. Para o recheio, em uma panela, derreta a manteiga, em fogo médio, e refogue a cebola até amaciar. Junte a carne-seca e refogue por 2 minutos. Coloque a salsa e deixe esfriar. Abra pequenas porções da massa, coloque porções do recheio e feche, modelando os bolinhos. Passe os bolinhos por ovo batido e farinha de rosca. Frite em óleo quente, aos poucos, até dourar. Escorra em papel absorvente e sirva.

Por Adriana Padoan