I – História
As histórias existem para serem narradas, contadas, faladas, cantadas. São carregadas pelo vento que nascem na doçura dos favos de mel.
II – Sábio
As crianças que desceram das ruas das estrelas para viverem na Terra, adoravam ouvir a história representada pelo sábio que habitava uma pedra de ágata, no morro do princípio de tudo. Ele conhecia todas as coisas acontecidas e ainda por acontecerem; a sua altura, porém, era medida pela metade do dedo mindinho de uma criança.
III – A técnica
Primeiramente, a vaidade dona de si, penteava os cabelos com pente de ônix. Vestia-se com tecidos produzidos nos teares elaborados no Jardim do Senhor. A sua maneira de contar uma cantiga ou escutá-la, só ele dominava. Os sons eram produzidos assim: “-Havia um ditado, em uma determinada época, que dialogava com o coração do ouvinte: QUO VADIS, DOMONI, que significava – aonde vais, senhor?
O povo do período dizia que um certo dia Jesus apareceu ao apóstolo Pedro, que abandonara Roma para escapar da perseguição movida pelo imperador Nero, e questionado também por Pedro: QUO VADIS, Senhor? Jesus respondeu-lhe: “Já que abandonas o meu povo, vou para Roma para ser crucificado novamente”.
IV – O livro
O escritor polaco Henriyk Sienkiewecz viajava pela Itália. O sol, por minutos mudou de cor, as árvores voavam com seus galhos e, da pedra branca da encosta do barranco, ouviu uma voz, que lhe disse: “-Escreva sobre Roma, sobre o início do Cristianismo, sobre Nero, todos estes tópicos lavados com amor e com a pergunta: QUO VADIS? O artista atravessou as noites de frio, de calor febril e produziu o livro solicitado, ganhando o prêmio Nobel de literatura.”
V – QUO VADIS
Os grandes estúdios da época viram no livro e no contexto histórico a possibilidade de entrar pela estrada dos épicos e, através desse gênero, mudar os destinos reservados ao cinema. Compraram os direitos autorais do livro, escrito pelo polaco já citado, enquanto tirava umas férias na Itália.
A direção do filme foi comandada por Merwiyn LeRoy. O roteiro, a extração da narrativa, movida por outra técnica foi executada por S.N.Behrnan. O suporte visual do longa usou 32 mil figurinos e milhares de figurantes, fatos que não mediram a grandiosidade dos trabalhos de oficina, ensaio, o espaço para a realização das cenas que agitaram o mundo cinematográfico.
VI – O tempo
A história se passa na Roma dos anos 64 d.C. Há vários anos reinava o imperador Nero, um personagem que ultrapassou a corrida das datas e desenvolvimento da vida, não por motivos nobres, mas pela força do desequilíbrio mental de um ser humano. O filósofo Sêneca e outros estudiosos perceberam o levante das águas do mar, quando Nero levou a mãe para a cama e, depois, mandou matá-la. Na sua crise de angustia negra, matou o irmão, a primeira e a segunda esposas. O seu delírio o levou a castrar um escravo liberto; vesti-o de mulher e casou-se com ele.
Julgava-se um grande cantor, mas era inclassificável; as suas poesias fugiam do papiro para nunca mais voltar. Por outro lado, durante a formação do coração da noite, percebeu a profundidade das palavras de um profeta chamado Jesus Cristo. Cada palavra, cada frase pronunciada pelo Mestre, perfuravam os entendimentos dos abismos da terra. Nero suou frio, tremeu, gritou, sentou-se diante do medo, ordenando a perseguição desastrosa contra o cristianismo.
Crucificou centenas de seres humanos, incendiou milhares de pessoas e colocou uma multidão de cristãos diante de feras vindas de terras distantes.
VII – A glória
Um soldado romano chamado Marcus Vinicius, comandante de uma legião romana retornou de uma campanha de três anos na Britânia. Sua ideologia fora formada por Roma, a morte que partia de suas mãos, as conquistas e a prisão de milhares de escravos, que seriam usados na construção do Império Romano, foi implantada em seu peito de guerreiro.
VIII – A visita
A sua entrada em Roma costurou a força, a vitória, a recepção banhada com louvores, e o peso das filosofias que não desfilaram. Já em Roma, resolve visitar a casa de um amigo que fora general do exército romano. Nos desvios que o nosso viver desenha nas ruas, a família do grande militar do passado, convertera-se ao cristianismo. Nessa mesma noite Pedro também visitou o general assumindo, pelas forças de suas palavras, o papel de um apóstolo que entrou nas plantações das grandes filosofias.
IX – O rio do sentimento que move o corpo e a alma
A filha do general aposentado era conhecida por todos como Ligia. Na verdade, ela era filha de um rei derrotado pelo velho militar e por ele criada. Nos códigos legislativos do império ela era considerada uma refém, mas como toda a família era cristã.
O coração de Marcus perdeu-se entre a sua beleza e o seu sorriso, seu domínio e sua fé, e um perfume de terras que ainda não se formaram. Marcus tentou seduzi-la, mas as suas palavras bateram em seus olhos e na terra que estava em sua frente, sua noção de amor, de realidade entendeu o mundo como um projeto de Deus, portanto afastado do grande guerreiro Marcus.
X – O Império, a força bruta
O homem comandante das tropas que ampliaram as posses de Roma, consegue uma audiência com Nero. Usando sua influência pede a jovem Ligia como recompensa por suas infinitas batalhas. Ao descobrir os resultados obtidos por Marcus, mesmo tendo se apaixonado por ele, Ligia foge. A sua fuga é planejada por uma das mulheres de Nero e de seu defensor chamado Ursos, um homem fiel e muito forte.
Ligia se esconde, com outros cristãos nas catacumbas de Roma. Mesmo ali, Marcus a encontra, no exato momento que o apóstolo Pedro faz uma pregação para todas as igrejas secretas dos cristãos. As palavras de Pedro confrontaram todos os modelos culturais que esculpiram o grande Marcus. O amor, definido como forte afeição por outra pessoa e por seu mundo, circulou no sangue do guerreiro romano.
Marcus aproxima-se de Ligia; ela confessa-lhe o seu amor, mas também com toda a sua força confessa o seu amor ao cristianismo e a Jesus Cristo. Marcus, é claro, não entende que o amor de Ligia está direcionado as palavras de Cristo e não ao homem. Esse conflito é o grande drama estabelecido entre a educação romana e a ideologia cristã.
XI – As dores de Marcus
Marcus é ferido em uma luta. Ursos, protetor de Ligia, o leva a uma casa cristã, onde é cuidado. Quando acorda Pedro está do seu lado. Nunca o cinema apresentou, de forma tão simples, a profundidade violenta da cultura romana em confronto com a fé cristã.
No Palácio do Imperador, Nero começa a sonhar com uma Roma reformada, aquela que poderia ser chamada de Nerópoles. Encolhido como um rato espelhado numa tentativa de ter um gesto heroico, manda incendiar a cidade. O clarão, as línguas de fogo, a destruição das casas, dos quarteirões dos chamados sobrados. No momento que o imperador percebeu a dimensão do incêndio jogou a culpa nos cristãos.
XII – Paixão
A esposa de Nero sentia arrepios ao ver o comandante Marcus. Durante o filme, ao lado do imperador, ela tentava seduzir o comandante romano. Sentindo-se rejeitada por Marcus, planejara uma morte especial para Ligia. Ligia foi presa a uma estaca no centro da arena. Um touro bravio, preso por vários dias, torturado foi libertado na arena a poucos metros da cristã. A sua visão, a fúria animal, centralizaram-se em Ligia. Ursos, defensor da menina, lutou com a fera, mas a luta não o levaria a vitória. Marcus, também na arena, percebendo a morte da pessoa amada, se converte ao cristianismo e pede proteção a Jesus. Sem possibilidade nenhuma Ursos vence o touro e, na sombra dos acontecimentos, lágrimas rolaram dos olhos de Marcus.
O público que pedira para não matar Ligia, Marcus e Ursos, invade a arena em revolta contra Nero. Marcus, retomando o comando dos soldados, proclama o fim do reinado de Nero e anuncia outro imperador. Na solidão do seu palácio, Nero chora, treme, se descontrola e extingue sua própria vida.
Marcus, ao lado de Ligia, pararam o carroção onde transportava as coisas para construção de um novo mundo. Caminhando ao lado da estrada ia um jovem, andejando passo a passo. Marcus aproxima-se e pergunta: “- Precisas de alguma coisa?” Ele virou-se lentamente, cabelos compridos, bata branca, barba cuidada, olhar transcendente, um sorriso brotado e terminado: “Eu preciso que o amor nasça todos os dias, todas as noites. Necessito que as borboletas assentem nas pontas das lanças que matam; que os beija-flores brinquem com os sonhos que se evaporam das casas. Espero que você, Marcus, ao beijar a jovem Ligia, pense no amor umedecendo os lábios da vida em carne, espírito e fé.
Meus queridos, “QUO VADIS, vou seguindo o meu caminho que é longo, mas é possível que um dia a paz o diminua.
Receita
FIGO AO VINHO
Ingredientes: 4 Figos frescos maduros e firmes; 1 xícara de Açúcar; 1/2 xícara de Vinho tinto; 1 Pau de canela; 4 Bolas de sorvete de creme.
Modo de preparo: Lave bem e seque os figos. Corte-os ao meio. Em uma frigideira grande coloque o açúcar, o vinho, a canela e misture bem. Leve ao fogo brando e quando começar a ferver disponha o figo virado para baixo. Deixe cozinhar, sem mexer, durante dez minutos. Desligue o fogo e delicadamente desvire o figo. Distribua o figo com a calda em pratinhos individuais e sirva com o sorvete.
por Adriana Padoan