I – Nascimento de uma história
Havia um jardim nascido e criado nas proximidades da Torre de Belém. No meio desse jardim alguém plantara sementes de lírio, a flor que representa paz, a ternura, a pureza e inocência. Dizem os homens e as mulheres, que sentem murmúrios de seus corações que, numa manhã com brilho de cristal, o roteirista de cinema, Andrew Stanton, depois de permanecer longos minutos namorando as flores de lírio, sombreadas pela torre de Belém, sentou-se num banco de madeira, folheando uma revista. Em uma das páginas alguém fotografara o fundo do mar, foto colorida, ampla, apresentando dezenas de anêmonas, animais parecidos com flores do fundo dos oceanos, movimentando ao sabor e vontade dos deuses dos mares distanciados de seus limites. No interior de uma anêmona, dois peixes-palhaço, observavam as possíveis surpresas de mais um dia. Andrew Stanton encantou-se com a imagem do peixe-palhaço, um animalzinho de coloração vermelho-ferrugem, listas verticais no corpo, cabeça pequena, dentes pouco desenvolvidos. O seu universo interior, localizado no corpo da alma, despertou a vontade incontrolável de escrever o roteiro de um filme sobre esse peixinho projetado por um Deus poeta, artista, amante da beleza envolvida em mistério. Assim surgiu a semente do filme: “Procurando Nemo”.
II – A presença do passado
Na antiga Grécia, passagem de filósofos, matemáticos, físicos, artistas, nasceu uma divindade chamado Hermafrodito, filho da deusa Afrodite e de Hermes, que viveram uma história de amor, contada pelos poetas que habitavam o Monte Parnaso.
Na época das agitações marítimas causadas pela dança das ondas, Hermafrodito seduziu a ninfa Salmacis e, a partir desse momento, passou a ter dois sexos, o masculino e o feminino num só corpo. Os peixes-palhaço, como a divindade grega, são hermafroditas, isto é, todos os peixinhos nascem machos. No entanto, de acordo com a necessidade da manutenção do cardume, muitos machos transformam-se em fêmeas nadando em busca do amor.
Essas fêmeas botam seus ovos nos pés das anêmonas e os machos os fecundam. Assim, lá no fundo dos oceanos, sob o comando de Poseidon, os peixes-palhaço, usando uma linguagem que lhes é própria, composta de sons, estalos, batidas de dentes, conversam, contam histórias, narram lendas que só existem na vastidão imutável dos mares.
III – A vida
A grande barreira de coral estendia-se por distância inimaginável, nas depressões do fundo do mar, milhares de anêmonas agitavam os seus tentáculos tentando seguir a movimentação das correntezas; a natureza marítima parecia dançar um interminável balé.
Havia perto da rocha, uma anêmona cor-de-rosa, nascida no movimento da criação do universo. Em seu interior moravam peixinho palhaço chamado Marlin, sua esposa Coral e uma ninhada de quatrocentos ovos, todos botados durante a canto de Posseidon, o Deus dos oceanos. Como era costume no reino dos peixinhos-palhaço, Marlin cuidava da proteção dos ovos, dia e noite, olhar atento no presente e no futuro, nos perigos que se movem sobre as águas sem destino definido, Na passagem das estrelas-do-mar, andar roçado no chão, surgiu uma barracuda, nadando sobre os seus desejos esfomeados e, nos seus delírios instintivos, atacou a família de Marlin, devorando Coral e trezentos e noventa e nove ovos, destruindo uma família que acreditava na chegada de dias repletos de esperança. Merlin entrou em desespero jamais visto no oceano, agitou o corpo e as nadadeiras, pediu socorro, mas o silêncio entrou no cenário das águas, e a tragédia já fora escrita com letras grandes, marcantes e doídas. Os peixes, vizinhos e amigos, choraram por dentro das escamas brilhantes, pensaram nos riscos existentes no ato de viver. Um peixe-azul, envelhecido pelo tempo, percebeu que a barracuda em seu destemperado ataque, deixou um ovinho, somente um sobrevivente, sob a areia movida pela confiança e fé.
IV – O nascer além do sol
Marlin cuidou do ovinho movido por centenas de sentimentos, reações que partiam da sua essência, não encontrando significado ou justificativa. A luz do sol conseguiu, com muito esforço, atingir as águas arraigadas nas tocas estranhas e instáveis. Os moradores, filhos dos remansos, nadavam em suas possibilidades. A sereia dos cabelos longos iniciou uma cantilena do mundo dos humanos; as flores abriram seus olhos; as algas vibraram suas crenças de todos os dias e, para espanto misturado com alegria, Nemo nasceu, único sobrevivente de uma aguaceira empreendida pelos segredos dos embarcadiços do destino. Marlin, acreditando que o sorriso renasce em todos os instantes, olhou a realidade, envolvendo seu filho, um peixinho lindo, embora tenha um pequeno defeito em uma barbatana, mas o vermelho vivo comanda o seu corpo e as listras tem brilho; o olhar demonstra inquietação, coragem, gosto pela aventura. Marlin lembrou-se de Coral, recordou projetos antigos, passou as nadadeiras sobre Nemo, gritando sua palavra preferida: “Uau”!
V – Preocupação, atenção, doação
O dia não era diferente da noite e, no giro que a vida dá; Marlin, pai do filhote amparado pela sobrevivência, transformou-se na imagem do protetor constante de Nemo. Olhar, cuidado, carinho, conselho, fé, companhia, zelador dos movimentos, das brincadeiras, dos medos presentes e ausentes, que podiam afetar a vida do seu filhote.
No amanhecer de um novo dia, Nemo acordou nos primeiros ruídos produzidos pelas ondas do mar; Marlin olhou para o filhote e imaginou o seu destino, agitou as nadadeiras procurando sentir a temperatura da vida e arrumou o filhote para o seu primeiro dia de aula, na escola mais próxima. Os alunos foram chegando, a maioria protegida pelo pai ou mãe, as tartarugas, as estrelas-do-mar, dezenas de outras espécies. Durante uma aula prática, Nemo foi repreendido pelo pai, e a marca registrada por um peixe chamado Freud, ou seja, o confronto entre pai e filho, invadiu o corpo de Nemo.
Nemo agitou as nadadeiras, procurando fugir daquele ambiente, nadou na vastidão do oceano e, antes que se encantasse com o infinito libertário, foi pescado por um dentista mergulhador. Nemo sentiu o seu mundo virar de cabeça para baixo, o infinito virou poeira e o destino embaralhou novas cartas.
VI – A dualidade da história
A história do cinema é fortemente marcada pela evolução, transformação e modernidade. Nessa busca constante pelo novo, a Disney tornou-se a mais famosa indústria produtora de desenhos animados do mundo. As suas câmeras vasculharam o universo existencial do tempo, da história, das emoções fortes e dramáticas, que envolveram o caminhar dos seres humanos e da natureza como um todo. No filme “Procurando Nemo”, Disney mergulhou na imensidão dos oceanos, tentando entender a vida de quase quatro trilhões de peixes, crustáceos, plânctons e o misterioso areias que sobem do fundo do mar. O roteiro de Nemo, após a sua fuga e prisão, divide-se em duas partes complementares, ou seja, a procura de Nemo desencadeada por Marlin e a vida de Nemo em um aquário; os enredos se cruzam no desenrolar dos acontecimentos, revelando a temática circulando o contexto do enredo: determinação, organização social, conflitos psicológicos, estrutura familiar, inclusão, educação, o discurso na vida das pessoas. Agora, tendo colocado essas observações, vamos voltar a história do pai, da amiga, de Nemo.
VII – Marlin o herói de sua causa
Marlin descobre a fuga de seu único filho Nemo. A sua frente há o oceano sem dimensão, sem início e sem fim. Entre uma ponta e outra, existem o desconhecido, a violência, o risco, a ausência de notícias, roteiro, sonho e realidade. Marlin não pensa muito, joga na imprecisão e incerteza, procura aqui, pergunta ali, as respostas fogem e a pista não vem. Nessa nebulosidade encontra uma amiga linda, de outra espécie, porém resolvida e envolve-se na aventura de Merlin.
O nome dela é Dory, esperta, corajosa, bela, porém sofre um drama de amnésia, uma perda de memória de acontecimentos recentes.
Eles enfrentam a viração marítima em busca de informações.
Na boca aberta do luar, encontram tubarões brancos lutando para aderirem a dieta vegetariana. Eles não têm notícias de Nemo, mas Dory fere o nariz, o sangue tinge a água, e os tubarões em recaída tentam atacar os peixinhos. Escapam por pouco. Bruce, o líder dos tubarões discute o que é o nato e o que é adquirido.
VIII – Uma prova
Na procura diária, questionamentos e repostas, Marlin cantarola canções; Dory declama versos do poeta Camarão de Andrade. Nessa busca Dory encontra uma máscara de mergulho, caída no fundo do mar. A máscara com certeza, pertence ao mergulhador que levou Nemo. Dory lê algo escrito na máscara e memoriza o conteúdo em sua cabeça sem memória.
IX – O volume precioso
Um cardume de peixes aventureiros viu a passagem de Nemo. Os membros da comunidade “cardumesca” aponta os caminhos que o filhote seguiu.
Marlin e Dory seguem as indicações, palmo a palmo, conseguem se perder, saindo no bairro das águas vivas, por pouco, muito pouco não são queimados e mortos.
Sentindo-se vivos novamente, encontram na corrente oriental um grupo de tartarugas verdes, todas envolvidas na filosofia hippie. Merli e Dory contam sua história, o seu desconforto e tristeza. Em menos de meia hora, os acontecimentos são dilatados a todos os peixes das águas rasas e profundas.
Dory, por um explosivo lunar, lembrou o que estava escrito na máscara. Nome, dentista, colecionador de peixes raros.
O pelicano vermelho, de nome Nigel, voa até o consultório do dentista, onde Nemo está no aquário; tentando despertar o desejo de Marlin, para encontrar Nemo, mas o dentista prometera doar Nemo a sua sobrinha Daria, assassina de peixes.
Marlim e Dory nadam seguindo um mapa em branco, os pontos geográficos estão no lado desmemoriado de Dory. Num estalar de dedos o mar entra numa agitação inexplicável, é a baleia azul, líder das passarelas do além-mar, que rompe as águas com suas acrobacias. De acrobacia aos saltos mortais, ela engole Marlin e Dory. Mesmo desmemoriada, Dory entende a linguagem das baleias azuis. Ela narra a baleia azul o drama de Marlin e a baleia comovida, os transporta até a Baia de Sidney. Ao chegarem a baia, o pelicano Nigel os salva de um ataque de gaivotas, referência ao filme “Os pássaros” de Hitchcock. Marlin e Dory, mesmo saindo do sufoco pelo ataque das esfomeadas gaivotas, ainda contemplam o Teatro de Ópera de Sidney.
X – Nemo e o Aquário
A ideia da construção de aquários, ao que tudo indica, surgiu na Velha China. No entanto, vendo pela história. Foi Aristóteles o primeiro a estudar as espécies e a criação de peixes ornamentais em aquários. No caso do filme, o dentista pescador de peixinhos, o pescou para pôr em seu aquário, dando Nemo, pela sua beleza, a sua sobrinha Daria, uma menina ruim, rebelde, e que tinha um robe, matar peixinhos no esgoto da clínica.
A chegada de Nemo no aquário causou sucesso, todos os outros peixes ouviram a sua triste história. O líder do grupo, da turma era um peixe mourisco chamado Gil. Havia uma estrela do mar, que fora vedete; um baiacu temperamental chamado Bolota, uma peixinha obcecado por bolhas coloridas.
Nemo, com a ajuda dos amigos tentou fugir três vezes, mas no final, para o desencanto de todos, alguma parte do plano falhara.
XI – O ocorrido escrito
Nigel, o pelicano, coloca Marlin e Dory dentro do seu bico, voa até o consultório do dentista, entrando pela janela. Assusta a menina Daria, arrepia o dentista em seu medo, causa um caos no consultório; a peixinha Gueira ajuda Nemo a escapar através do ralo que conduz ao oceano. Depois do ataque, não encontrando Nemo no aquário, Marlin acredita que Nemo morrera, o seu destino não atingiu sonhos belos e coloridos. No oceano, Marlin despede-se de Dory, para retornar a sua casa, de mãos vazias e derrotado. Dory, na despedida, esquecera o que estava procurando este tempo todo. Água, espumas, peixes, plantas e o oceano pareciam pacificados.
Dory brinca num canteiro de flores do mar e, nessa alegria simples encontra Nemo. Ela recupera a memória, nadou fazendo curvas com o corpo, dominando a sua alegria, entrega Nemo a Marlin. Nesse instante, partindo de um barco de pesca, Dory é apanhada pela rede. Nemo pula na rede, assumindo a função de líder, pede para todos os peixes nadarem para baixo. A rede rompe-se, o cardume escapa, e Nemo volta para casa como herói, uma espécie de desbravador dos mares.
Receita
PEIXE BADEJO BELLE MEUNIERE COM RISOTO SICILIANO
INGREDIENTES:
Do risoto e molho: 1 colher de sopa de Champignon fatiado; 1/2 colher de manteiga; 1 colher de sopa de alcaparras; 2 dentes de alho fatiados; 2 colheres de sopa de creme de leite fresco; 1/2 colher de azeite de oliva; 30ml de sumo do limão siciliano; 1/2 colher de sopa de parmesão; 1/2 colher de sopa de molho bechamel; 1/2 xicara de arroz arbóreo cozido ao dente.
Para o peixe: 230g filé de badejo; Sal; Raspa de limão; Pimenta do reino; Vinho banco.
Modo de preparo:
Do Peixe: Para começar, tempere o peixe com sal, pimenta, raspas de limão e vinho branco, misture bem para que toda a carne seja atingida e reserve para marinar por cerca de 24 horas antes do consumo. No dia seguinte, coloque o seu peixe em uma assadeira untada com azeite e decorada com rodelas de limão. Cubra tudo com papel alumínio, e leve ao forno pré-aquecido a 180° por 20 minutos. Passado o tempo retire e em uma frigideira quente, com azeite deixe o peixe dourar por cerca de 2 minutos, com a barriga para baixo.
Do Molho: Em uma panela pequena, adicione manteiga, azeite, alcaparras e alho, deixe tudo cozinhar até o alho dourar e alcaparra começar a desmanchar. Quando estiver bem dourado, acrescente o champignon e salsa. Desligue o fogo e reserve.
Do Risoto: Em uma panela adicione bechamel e o creme de leite, deixe cozinhar até ferver em fogo médio. Logo em seguida acrescente o arroz e o parmesão, sempre mexendo, até o parmesão se desfazer por completo.
Montagem: Em um prato branco, coloque as fatias de limão que foram assadas junto com o peixe, e logo em seguida arrume o peixe por cima. Despeje um pouco do molho por cima, deixando que escorra bem para molhar todo o peixe. Logo depois, acrescente o arroz. Sirva! Bom apetite!
Por Adriana Padoan