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terça-feira 24 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Platoon: a derrota de uma potência

I – Indochina
Lá no lugar em que a Indochina nasceu, apertada entre a Índia e a China, na tarde em que as borboletas azuis romperam os seus casulos, colados nas lendas da selva, o seu destino como Península esbarrou-se nos enigmas salientes e ligados nos fundos das folhas verdes desagarradas aos troncos dos grandes suportes com seu cheiro forte de indiferença e coerência.
A fada Jacambo, mágica do fundo do rio, colocou, encaixou na Indochina o Vietnã, o Laos e Camboja. Um do ladinho do outro. Dizem que as três regiões cantavam músicas compostas fora do tempo, para homenagear a selva, a floresta dos caldeirões, das poções, da magia e telepatia partida do fundo da terra.

II – França
No meado do século XIX a meados do século XX, época que vai do Romantismo, das lágrimas de Victor Hugo, Alexandre Dumas, Chateaubriand, Musset e no século XX, Monet, Renoir, Labisse, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Marques de Sade, a França convocou o Moulin Rouge, as paredes simbolizadas de Notre Dame, para invadir a Península da Indochina. O berço da cultura devaneou os gastos massacrados em seu passado, de cultura e arte, partindo em busca dos chás, do arroz, da borracha. Assim, em nome da expansão europeia, entrou, tomou, se apropriou, afiançada pela tortura da modernidade.

III – Vietnã
O Vietnã, pedaço de uma civilização milenar, revoltou-se durante uma tempestade que lavou as margens dos rios. Fitando o vai e vem das águas, o país perguntou: “Quem precisa ser colonizado”? Temos influencia cultural da Índia, da China, da própria França, mas não conseguimos mais viver dentro do coração da passividade.
Os vietnamitas contaram com o desenho do terreno, com os ruídos vindo da selva, criando uma guerrilha rural com a cara do Vietnã e partiram contra os colonizadores franceses: houve gritos, medo, combate, sangue e insegurança.

IV – Genebra
Os vietnamitas choraram os seus mortos no misticismo da noite; a França chorava no aborto do sol na passagem dos dias, as ocorrências históricas na passagem do ano de 1954.

Na cidade de Genebra, na Suíça, os homens sérios, à primeira vista, pensaram numa forma de frear a guerra da França na Indochina. Pensaram e discutiram enquanto a Via Láctea beijava a lua, imbuídas de certeza e hipóteses. Dividiram o Vietnã em dois pedaços, duas fatias sem pão nem manteiga. Criaram o Vietnã do norte, embora pela fada da mão esquerda, chamada socialista. Colocaram como líder maior, o sorumbático Ho Chi Minh, batizado pelo padrinho soviético, tendo no bolso a capital Hanói.

No lado das costas, despois da queda d’água esverdeada, deram origem ao Vietnã do Sul, crismado pelo padrinho capitalista, Estados Unidos da América, tendo dentro da meia do pé direito, a capital Saigon. Foram testemunhas do acontecido os vizinhos Camboja e Laos.

V – A ideologia
A ideologia: reverso de si mesma, o Vietnã do Norte, dirigido por Ho Chi Minh começou a invadir áreas do Vietnã do Sul, usando a justificativa da implantação de uma Reforma Agrária. O Vietnã do Sul, governado por Ngo Diem Dinh, vivendo na sua capital Saigon, aliado dos americanos, resolveu retomar as faixas de terras pisoteadas por homens do norte. No fundo da panela, cozinhando palavras ao leite, a rebelião provocada pelo fogo opunha a União Soviética ao poder infalível dos Estados Unidos.

A ONU, com seus homens políticos e intelectualizados, conferenciou durante meses, tempo que idealizaram uma saída para a paz, a realização de eleições visando a reunificação dos dois Vietnãs, um processo com cheiro de guerra fria.

VI – Os presidentes
No ano de 1961, entre uma série de beijos da atriz Marilyn Moroe, o presidente Kennedy ordenou o envio de soldados para dar proteção aos povos e a força militar do Vietnã do Sul. O presidente Johnson, sucessor de Kennedy, enviou mais de 500 mil homens à região, a partir de 1965.

Um pouco antes dessa data, 1964, o presidente do Vietnã do Sul foi assassinado, ao ser vítima de um golpe político. Uma junta militar, como sempre acontece nesses casos, assumiu o poder. O governo americano, não se preocupando com as consequências, enviou milhares de soldados à região. A Guerra do Vietnã teve início, sem que houvesse, oficialmente, uma declaração de guerra.

O erro do governo americano estava no voo da libélula, ou seja, acreditou que a guerra seria rápida, levando-se me conta o poderio militar americano. Os vietcongues, porém, sempre viveram nas florestas labirínticas em sua nascença; a estrutura do país estendia-se pelas aldeias, incógnitas em meio ao combate, pois conseguiam proteger os soldados vietcongues, esconder munições. Por outro lado, o exército vietnamita não se organizava por pelotões, mas usavam a guerrilha como técnica avançada de combate. A dificuldade de locomoção na região era muito difícil; o exército americano atacava pelo ar, matando milhares e milhares de civis. O pânico, desespero, o medo acompanhou os soldados da maior potência do mundo.

O fenômeno básico que transformou a Guerra do Vietnã, na mais violenta guerra jamais realizada no mundo, se encontra nos meios de comunicação, pois foi a primeira guerra com transmissão direta pela TV, revistas, rádio, jornais e, no giro artístico que a arte se presentifica no mundo, o cinema perseguiu os acontecimentos ocorridos sobre as perdas da violência.

Assim, a imprensa mundial colocou as imagens da guerra na sala de jantar dos americanos. A tela de TV apresentava a execução de vietcongues, crianças correndo em fuga das bombas napalm, a droga, principalmente o ópio, circulando nas mãos do exército americano. A menina Kim Phuc apontava caminhos possíveis. As estradas pareciam convegir para um único ponto específico, para Woodstock, uma fazenda onde se reuniu um público de 400.000, e a guerra do Vietnã misturou-se ao lodo sendo enterrado pelas guitarras, pelo rock, pela revolta contra uma guerra sem nenhuma finalidade.

VII – O filme Platoon
Em 1986, depois de lutar nos bastidores da arte, expor a sua ideia aos grandes produtores de Hollywood, alguém ouviu a voz de Oliver Stone. Ele lutara na guerra do Vietnã, vira as pontes de madeira ordinária, sustentar centenas de corpos, de vidas roubadas pela guerra. Em uma noite singular em que o sono não bateu em seu leito, ele escreveu o roteiro do filme Platoon, a obra definitiva sobre o conflito. Durante 54 dias, usando 30 dias para treinamento militar dos artistas, Stone se preparou para dirigir as suas experiências através de imagens em movimento.

VIII – O enredo
Um jovem chamado Chris, pertencente a uma família de classe média alta, abandona a faculdade e se apresenta como voluntário para lutar na Guerra do Vietnã. Ele confiava nos homens que dirigiam o seu país; entendia que o conflito nadava num mar de finalidade existencial; o seu corpo possuía o calor do nacionalismo fundamentado na fé, na lealdade, contornavam o mapa de sua nação.

A sua chegada no batalhão transborda a sua emoção. Homens, poeira, gritos, movimentos, aviões, helicópteros, ativos e feridos, armas, enfermarias de emergências.

A preocupação de Stone é mostrar, num primeiro plano, como a guerra transforma e animaliza o homem, ao mesmo tempo Chris assume a função de narrador a partir das cartas que escreve para a família. Dessa forma, usando uma técnica literária, a violência do conflito é mostrada pela ótica de um personagem puro, ingênuo, inocente e nacionalista.

A transformação do personagem acontece na passagem dos segundos, do dia a dia; cada dia vivido, em termos psicológicos, é como se fosse o último.

Os seus olhos apresentam a imagem dos soldados submetidos a ações centradas na psiquê, no desgaste físico, na tortura que impede que o sono faça parte de seu corpo, a maioria dos soldados combate o invisível, o enfurecimento é balanceado pelas drogas, a coragem sai pelos lábios marcados pela fumaceira da maconha.

A história de Stone apresenta de forma bem nítida a existência de duas guerras. Uma delas é contra os vietcongues, guerrilheiros que não se aproximam dos americanos, são homens que se fundem com o mato, são sombras que não combatem, mas matam quando os americanos são tomados pelo medo e tensão. A segunda, mais mortal, é o conflito interno na estrutura do pelotão. O maior conflito é a dualidade entre os dois sargentos. O sargento Barnes, nome que se associa a celeiro, lugar que se estoca coisas, inclusive o ódio; é bruto, rude, sente prazer em matar, ele não faz diferença entre a população civil e os vietcongues. O sargento Elias, é o retrato da população americana, um militar que luta, mas deseja a paz, o soldado que percebe que a guerra é inútil, como o profeta Elias da Bíblia.

O enredo veste a roupa de um documentário. Barnes interroga o chefe de uma aldeia, atira em sua esposa, causa briga entre soldados, destrói os alimentos da população, permite o estupro de duas garotas. Incendeia a aldeia com napalm. Elias e Chris impedem o estupro.

À noite há um grande ataque do exército Vietnamita. Grande parte dos soldados é morta. Barnes encontra Elias sozinho e dispara contra ele. Elias consegue sobreviver, mas está ferido. Chris também é ferido, muitos soldados são levados de helicóptero, Elias abre os braços, recebendo uma rajada de tiro dos inimigos.

Na manhã seguinte, entre tantos mortos, Chris consegue se levantar. Encontra Barners rastejando, ele pede um médico, Chris mata-o.

Na chegada de outro helicóptero, Chris é levado numa maca improvisada e embarca. Como foi ferido duas vezes, retornará à sua casa.

Em 1975, dia frio e nebuloso, Saigon capital do sul foi invadida rebatizada como Ho Chi Minh. O silêncio passeou por todos os lugares, inclusive no mar. Em 1976, data que entrou nas folhas dos calendários, houve eleições e o país foi reunificado com o nome de República Socialista do Vietnã, tendo Hanóe como capital.

A realidade que permanece escrita em algum lugar: “uma potência militar, econômica, também pode ser derrotada”. Os Estados Unidos perderam 60 mil homens. Os veteranos que retornaram, muitos deles são alcóolatras, drogados, viciados em entorpecentes, violentos, criminosos. Todos cabem de alguma forma, em Platoon.

RECEITA
FISH AMOK CAMBOJANO

Ingredientes: 700g de filé de peixe branco (carne firme); 4 colheres de chá de óleo de coco; 800ml de leite de coco integral; Sal e pimenta do reino a gosto; 1 xícara de chá de ervas frescas de hortelã e coentro picados.
Pasta Kroeung Amarela: Você pode comprar a pasta pronta em grandes empórios ou fazer: 80g de capim cidreira picados, apenas as folhas mais tenras; 4 dentes de alho; 2 cebolas médias picadas; 2 colheres de chá de suco de limão; 1 colher de chá de raspas de limão; Meia colher de chá de gengibre fatiado bem fino; 2 colheres de chá de açafrão; 1 colher de sopa de molho de peixe; Meia colher de chá de açúcar de coco; Opcional: flocos de pimenta chilli ou frescas

Como fazer: Bata no liquidificador os ingredientes da pasta até ficar uma pasta homogênea. Corte o peixe em cubos grandes (2cm x 2cm) e salpique com sal e pimenta. Em uma panela média, aqueça o óleo de coco, adicione a pasta e cozinhe em fogo médio por 30 segundos, mexendo para não grudar. Acrescente o leite de coco, abaixe o fogo e deixe ferver por 10 minutos. Coloque os cubos de peixe, tampe a panela e deixe 4 minutos até cozinhar completamente. Salpique o fundo da travessa de servir com as ervas picadas (reserve um pouco para guarnecer) e acrescente o peixe com cuidado. Enfeite com o restante das ervas. Acompanhe o peixe com arroz branco e legumes grelhados ou cozidos no vapor ao alho e óleo, como brócolis, aipo ou acelga. Se você tiver tempo, pode usar folhas de bananeira para acomodar cada porção de peixe individualmente, como fazem tradicionalmente no Camboja.

Por Adriana Padoan