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sábado 5 outubro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Paris, Texas: A travessia do Deserto

I – A família texana
Dentro das casas, desfiladas pelas ruas sem fim, os dramas, as brigas, as discussões, os desentendimentos familiares brotavam nos assentos dos sofás, na claridade dos lustres, nos lábios das pessoas que sonhavam com uma vida orientada pela paixão e amor.
Muitos país esperavam a noite chegar vestindo seu manto escuro, para partir em busca de um nada desfolhado; muitas mães despediram-se dos filhos, pensando em caminhos nas palmas de mãos abertas, apontando as facetas de um mundo incerto e impreciso.

II – O cinema
O cinema, com sua duplicidade artística, produziu inúmeros filmes, indagando as razões que estavam na raiz da sociedade e, ao mesmo tempo, tentou colaborar com o povo americano, apresentando histórias que levavam o público a um processo introspectivo. Assim nasceram “Kramer Versus Kramer”; “Gente Como a Gente”; “Num Lago Dourado”. As telas e os espaços de projeção tocaram no problema, mas não o solucionaram. Muitas lágrimas foram derramadas e desceram pelo rosto do público, porém, o drama permaneceu na América.

III – Wem Wendwe
As árvores estavam floridas; as praças ouviram os cantos dos pássaros; as crianças brincavam sem perceberem o momento presente e o futuro.
Em relação ao papel do cinema, vindo meio na contramão da textualização, surge o diretor e roteirista alemão chamado Wem Wendwe, assumindo o comando dos desígnios escritos nas folhas dos cadernos totalmente proféticos.

Com toda a sua transparência e atitude definidas, escreveu uma parábola com palavras paridas no dicionário atravessador de épocas e períodos. O seu jeito de contar, embora machuque demais, aprofundou-se no coração da estrutura americana e do mundo. A temperatura da emoção, vertente do sentir de Wem Wender, gerou o filme “Paris, Texas”.

IV – A produção
Fazendo uma espécie de contraponto, referência, admiração, a cidade-luz do longa metragem é um pequeno povoado no meio do solo texano, um espaço onde o pensamento Travis, crê ter sido concebido e, na estreiteza do seu eu, adquiriu um terreno, estampando o seu sonho idealizado na abstração americana, em relação à maneira de viver. Ele ao lado da mulher Jane e de seu filho, esperando pelo final de uma existência marcada pelas primaveras, verões, outonos e invernos.

V – O existencialismo
Travis saiu de sua casa enxergando uma enorme linha reta ligando o seu estado psicológico ao deserto de Majave. O que alavancou Travis ao seu autoexílio está relacionado aos questionamentos existencialistas, na procura desesperada do significado de sua essência neste universo, vivido na fervura de suas ações e decisões, e jamais explicadas pelas verdades universais. O personagem vagou pelo deserto por quatro anos, entrando por estradas sinestésicas que, em focos iluminados pelo sol, fundiram imagens, cheiros, gostos, visões, aprofundando a sua tragédia.

Às vezes, em seu respirar profundo, as paisagens vestem as roupas do belo, remetendo-o ao espetáculo dos faroestes de John Ford, contrastando com seu estado melancólico.

VI – Um novo cinema
A estrada diz mais sobre o personagem do que sobre si; a continuidade é sempre mais valorizada do que os pontos de chegada. O andar de Travis, nos seios daquela imensidão sem fim, aponta para uma nova técnica de fazer cinema, de erguer uma atual Hollywood, num espaço em que seus anti-heróis sem destino traçado ou projetado, cruzaram os Estados Unidos carregando a contracultura propagada pelo visor das câmeras nos anos 60 ou 70. O negócio é sentarmos sobre o banco da modernidade e presenciarmos o percurso completamente louco do andarilho misterioso carregado de traumas que vem de longe, vem nas asas da distante infância.

VII – O reencontro
Quando Walt, irmão de Travis, o reencontrou, seus olhos fotografaram um ser maltrapilho, em estado catatônico, a boca completamente emudecida. Em sua cabeça, como nuvem que vem e permanece, nasceu a vontade necessária de unir Travis ao seu filho que, no agora, está com sete anos. Na ausência de Travis, fora criado por Walt e sua esposa, como se fosse seu próprio filho. A dificuldade, à primeira vista, estaria na incomunicabilidade, no retorno acontecido, na ausência de consciência de Travis, além do seu permanente escapismo, uma tentativa de desviar a mente de tudo que é desagradável e depressivo.

No instante que Travis se olhou no espelho, sua mente ansiou pela fuga a um lugar inexistente nos mapas; o retorno ao passado distante queimou seus braços, e a vontade de gritar, urrar, lacrimejou seus olhos.
Ainda, centrado na primeira parte do filme, Travis deu sinais de um renascimento, A linguagem falou dos sentimentos do homem e do mundo, e, em seu caso, um universo infantil, fato que justifica que ele se sente no banco traseiro do carro, do riso sem a mínima finalidade, num restaurante.

VIII – Travis e seu filho
Quem assistiu ao filme, jamais esquecerá o momento em que Travis é apresentado ao filho Hunter. O estranhamento do menino ultrapassa qualquer sintonia com a realidade, é como se a terra, por cansaço, parasse de girar. Hunter vestia sua jaqueta preferida, uma imitação das roupas da Nasa, fator que traz Travis de volta do seu espaço sideral, uma ideia que habita um canto da sua mente.

A partir desse momento, Travis sente o desejo de retomar a relação com o filho, tentando se fantasiar de pai: ele tropeça, de brincadeira, ri de histórias que conta de sua aventura no deserto.

IX – O encontro com a Jane
A sua cunhada, sem maldade pensada, conta a Travis que a mãe de Hunter deposita, todos os meses, dinheiro para o filho, mantendo segredo absoluto de sua intenção.

Era uma manhã de sol exposto e as pessoas movimentavam-se com muita confiança. Travis saiu com Hunter, sem comunicar a ninguém o seu propósito. Na verdade, o estado psicológico de Travis precisava mergulhar mais fundo em seu passado, exigência que os levam à agência Bancária onde Jane, sua esposa, fazia os depósitos a Hunter. Pela primeira vez, mesmo de relance, conseguimos ver a mulher que está presente nos delírios de Travis. Jane trabalhava numa casa de bonecas; ela era uma das bonecas, uma cabin girl. No primeiro contato de Travis; uma cena profunda e triste, Travis se oculta como se fosse um cliente qualquer, por trás de um vidro decorado. A sua revelação se move quando narra o seu passado.

X – A entrada do ciúme e da violência
É nessa cena do diálogo de Travis com Jane, que descobrimos que a história de amor, entre os dois, deu espaço para a entrada do ciúme e da violência. A sua partida da Paris das luzes e do seu romance com sabor de felicidade, indo para a hostilidade do deserto do Texas, cobre-nos de detalhes e explanações. O nosso andarilho se exilou, por querência própria, para conter a monstruosidade que existia em seu psiquê. Ele, em plena consciência, não caminhara pelos desesperos do deserto, afastando-se da vida e da morte. Ele era a morte em estado bruto.

O desejo de Trevis, a emanação que voa em seu redor, não pretendia reunir a família, mas sim, devolver o filho à sua mãe. A grandiosidade do roteiro, da dureza, está no fato do protagonista retirar o filho da casa que o criou, o lugar que o menino estava familiarizado. A sua atitude não abandona o caráter de homem violento e irracional. A partir desses acontecimentos a cor vermelha toma o fabulário do filme. Essa coloração define o personagem, na medida em que Travis se transforma, em sua jornada no deserto, transformando também as pessoas que vivem ao seu lado. Psicologicamente, ele nunca conseguiria se reparar desse ser que vive em seu interior eternamente. Daí, de acordo com a capacidade do diretor, as cores branca, azul e vermelha se cruzam, cores das bandeiras da França e do Texas.

Os personagens ocupam duas pontas que pertencem ao mundo, o amor de Paris e a brutalidade de um homem que nasceu no Texas, ou seja, o amor e a violência são realidades presentes em todos os lugares do mundo. No entanto, Travis sabe que não pode assumir a felicidade, aceita aquilo que consegue e, por isso, ficamos observando que em seu lugar, neste mundo, fica um enorme vazio: não há ninguém, não há esperança social, não há paz, não existe flor nascendo, não se ouve canto de pássaros, somente o medo tenta nascer nas areias do deserto.

RECEITA
TORTA DE NOZES-PECÃ (PECAN PIE)

Ingredientes:
Massa: 1 e ¼ de xícara (chá) de farinha de trigo (180 g); 1 colher (sopa) de açúcar; ½ colher (chá) de sal; 3 colheres (sopa) de gordura vegetal gelada (45 g); 50 g de manteiga sem sal gelada cortada em cubos; 2 colheres (sopa) de água gelada; 1 colher (sopa) de vodca gelada.

Recheio: 6 colheres (sopa) de manteiga sem sal; 1 xícara (chá) de açúcar mascavo (140 g); ½ colher (chá) de sal; 3 ovos; ¾ de xícara (chá) de xarope de milho; 1 colher (sopa) de essência de baunilha; 2 xícaras (chá) de nozes-pecã tostadas e picadas (220 g).

Modo de Preparo:
MASSA: No processador, triture a farinha com o açúcar e o sal até ficar bem misturado. Adicione a gordura vegetal e a manteiga e pulse por 10 segundos. Transfira para uma tigela, junte a água gelada e a vodca e misture com uma espátula. Faça uma bola com a massa, envolva em filme plástico e leve à geladeira por 1 hora. Abra a massa com o rolo entre 2 plásticos e forre todo o interior de um refratário redondo ou fôrma de fundo removível caso queira desenformar (21 cm de diâmetro x 4 cm de altura), tirando a sobra na borda. Com a sobra da borda você pode decorar a torta, se quiser. Leve ao freezer por 30 minutos. Cubra a massa com papel-alumínio, adicione bolinhas de cerâmica (ou feijões) para não estufar a massa enquanto assa. Leve ao forno médio preaquecido (180 ºC) por 30 minutos. Descarte o papel e as bolinhas e preencha a massa com o recheio (você pode decorar com mais nozes-pecã). Leve de volta ao forno, agora a 160 ºC, por mais uns 50 minutos ou até firmar (faça o teste do palito). Sirva quente com sorvete ou em temperatura ambiente.

Recheio: Derreta a manteiga em banho-maria e, fora do fogo, junte o açúcar mascavo e o sal, misturando bem. Adicione os ovos batidos levemente, o xarope de milho e a baunilha e mexa. Volte a tigela para o banho-maria e incorpore as nozes. Mexa até ficar morna quase quente ou atingir 65 °C (você coloca o dedo e não queima). Depois que esfriar rechear a massa.

por Adriana Padoan