I – Processo de comunicação
Há no mundo que vivemos, mais ou menos, sete mil línguas transportando o processo de comunicação nos quatro cantos da Terra. Essas línguas tornam-se transparentes por meio de 180 mil palavras, aproximadamente. Cada palavra carrega dentro de si uma quantidade ramificada de significados.
Trazendo esse universo para o mundo das artes, cada signo escrito transfere sentimentos, emoções, amores, paixões, otimismos, pessimismos, alegrias ou lágrimas, enfocando a arte cinematográfica, esses sentimentos ganham movimento. A primeira observação a se destacar é a fuga do cinema feito em Hollywood, pois estamos diante de um filme produzido pela Coréia do Sul, ostentando um título que desloca a nossa atenção em direção a problemas carregados de significações, que vem do outro lado do planeta.
A palavra parasita nasce na Grécia, significando “aquele que come ao lado do outro”. Por outro lado, na elasticidade significativa do vocábulo, pode simbolizar a pessoa que vive à custa de outra pessoa, compondo uma vida ociosa, inútil, próxima de uma sanguessuga.
II – Direção
“Parasita” foi escrito, dirigido pelo diretor sul-coreano Bong Joon-ho, partindo de um mangá de Hitoshi Iwaaki, conhecido por todos os leitores de mangás do universo representado em quadrinhos. Uma produção premiada em vários centros intelectuais do mundo e ganhador do Oscar de 2020.
III – O filme Parasita
Vamos conversar está semana sobre o filme Parasita.
A primeira cena apresenta o personagem Ki-woo procurando captar um sinal de WI-FI de alguém da vizinhança e o encontra somente no banheiro onde se observa meias penduradas em um varal, espaço que contradiz a finalidade objetiva do processo de secagem de roupa. Nessa cena começamos observar o ser parasita, aquele que se aproveita de outro para ter o que almeja.
IV – Mundo revelado – a casa de Ki-Taek
Ki-Taek mora num andar intermediário, muito comum no mundo coreano. Na verdade, é um tipo de porão, esverdeado, sujo, escondido, afastado do mundo urbano civilizado. A janelinha que liga a sua existência ao universo exterior, oferece-lhe a paisagem composta por uma lixeira, lugar escolhido por um morador de rua, para fazer xixi todas as tardes.
V – A família
A sua família, formada por quatro pessoas; ele chamado Ki-taek, a mulher-Chung-sook, um filho-Ki-woo e uma filha-Jéssica. Estão sempre sujos, usando roupas de vários dias, transitando entre cômodos apertados, envelhecidos. A descrição dos personagens é feita através da vida ridícula de cada um. Pouco se falam. A comida é controlada, o riso não existe, as dores impostas pelo ato de viver espelham-se no rosto dos personagens.
VI – O impossível acontece
Do outro lado da cidade onde os Ki-Taek moram há uma mansão da família dos Park. A família pertencente a classe social dos milionários, também é formada por quatro pessoas. O marido de nome-Mr. Park, a esposa-Mrs. Park, a adolescente-Da-song, o filho-Da-hye.
Sua filha enfrenta uma série de dificuldades no aprendizado da língua inglesa. O filho é hiperativo e gosta de brincar de índio, cujas lanças sua mãe comprou pela internet e que são semelhantes as usadas pelos índios americanos e que participou de um grupo de escoteiros onde um instrutor era apaixonado pela história indígena dos Estados Unidos, e paralelamente a essa paixão pelo processo histórico americano, gostava de pintar. O primo do filho de Ki-Taek, que dá aula de inglês para a filha dos Parks, mas vai estudar no exterior solicitando ao primo Ki-woo que o substitua em suas aulas. O filme documenta, e muito bem, o primeiro passo para que as classes sociais, tão opostas, iniciem um primeiro contato.
VII – Primeira aula
Ki-woo fica fascinado com a casa, o tamanho da mansão, a beleza dos móveis, dos objetos de luxo. A Mrs. Park, entrevista o rapaz e diz a ele que não se interessa muito pelo diploma, mas sim pela indicação dada a ela pelo ex-professor. Ele começa a dar as aulas. Ao término da aula a Mrs. Park o leva até o portão e no caminho fala que precisa de uma professora de artes para o filho que gosta de pintar. Ele para, pensa e fala que sabe de uma pessoa que se formou em artes e que era boa com crianças. Ela pede para ele levá-la para uma entrevista. Assim, ele consegue empregar a sua irmã-Jéssica na família milionária, para dar aulas de arte para o filho menor dos Parks, fingindo não haver parentesco; uma simples indicação.
VIII – A infiltração
Sr. Park chega do trabalho em sua mansão na hora que Jéssica acaba de dar aula a seu filho e pede ao seu motorista para levá-la para casa. Ela pede para deixá-la numa estação do metro onde iria encontrar o namorado inexistente. Já pensando em colocar seu pai como motorista, tira a sua calcinha e deixa no carro para comprometer o atual motorista. O Sr. Park encontra a calcinha no carro e mostra a sua mulher e resolvem demitir o motorista.
Jéssica fala que conhece um senhor muito discreto que trabalhava como motorista há muitos anos e que iria falar com ele. O Ki-taek se apresenta para o Mr. Park que o leva embora do serviço. Mr. Park estava com um copo de café e o observa em cada pedaço do trajeto. Como o café não foi derrubado do copo ele passou no teste. Assim ela consegue que o pai também trabalhe para os Parks.
A filha do Mr. Park comenta com o seu professor que adora pêssego, mas que a fruta não pode entrar em sua casa pois a governanta era alérgica ao pelo do fruto. O Ki-woo comenta com a irmã e no dia seguinte a irmã leva o pêssego e joga o pelo na governanta e tramam que ela está com tuberculose e assim a governanta é demitida e a Jéssica consegue colocar sua mãe como a nova governanta.
Assim, uma família infiltra-se em outra família, apresentando, comparando, revelando o choque social existente no mundo coreano. Os segredos começam a caminhar pelos corredores da mansão, o desespero da busca pela ascensão social escorrega pelas paredes.
Nesse cruzamento das duas famílias, uma muito rica e outra muito pobre, a tristeza social surge com toda a sua transparência; o nível cultural choca-se a cada minuto, a profundidade dos conhecimentos estabelecidos pela vida transforma-se em lágrimas choradas por dentro.
O filme Parasita consegue misturar, bater num liquidificador social, todos os gêneros do cinema. A família Ki-taek é trapaceira, manipuladora, sem caráter, o espelho da desigualdade social, vivendo a ilusão afastada da realidade, sem perceber a engrenagem que nove a sociedade e as classes sociais.
As duas famílias escrevem o roteiro que descreve as relações entre mundos diferentes, porém reais: Kim está satisfeito com o salário pago à sua família; os Parks, por outro ângulo de visão, estão satisfeitos com os serviços prestados.
IX – Um dilúvio
A ruptura entre as classes sociais parece uma cena bíblica e, para isso, o filme mostra uma tempestade descendo dos céus. Para os Parks, dentro de sua casa, a chuva é uma benção, lavando e energizando a agonia da terra castigada pela seca.
Para os Kim e o ambiente ondem residem, a chuva é uma tragédia que destrói o cubículo onde moram, nos fundos de um porão. O filme em sua amplitude, revela os aspectos ruins de um país, a realidade oculta sob a vibração das cortinas.
As duas famílias Kim e Parks simbolizam dois modos de vida totalmente distintos: uns vivem abaixo do limiar da pobreza, um mundo sem poesia, sem música, sem encanto. A fome aparece todas as noites para destruir os sonhos, a esperança, a cultura, e o que resta da vida; no entanto, o mundo dos ricos, dos milionários tem como cenário uma enorme mansão decorada com móveis de uma época, os cômodos registram os sonhos, as viagens de férias, o trabalho dos empregados, os banquetes, as roupas que atravessaram os mares do mundo, para embelezar a postura dos moradores.
A música clássica acompanha a suavidade da natureza que caminha pela casa. O riso está na sala, nos quartos, na cozinha, nos segredos guardados nos balanços das cortinas de seda.
A família Parks resolve ir acampar para comemorar o aniversário de seu filho Da-hye e os patrões saem para viagem. Os empregados descobrem um subsolo luxuoso repleto de bebidas finas, de alimentos enlatados em terras distantes, doces sofisticados, bronzeado pelo sol dos desertos. Eles perdem os limites da existência e do tempo, do prazer e da realidade, avançando sobre a comida e a bebida, os doces, passando a colorir a vida com a embriagues, como descontrole pessoal.
A campainha toca e a Chang-sook vai atender e é a antiga governanta que queria entrar na casa pois esquecera uma coisa no porão. Ela entra e a família Kim descobre, um bunker, abaixo do porão onde estava morando o marido da antiga governanta. Aí começa o conflito entre as duas famílias de classe social miserável.
O telefone toca e é a família do Sr. Park falando que estavam retornando por causa da chuva. Esconderam a antiga governanta com o marido no bunker e o Ki-taek ficou com eles. Ki-woo e Jéssica se esconderam. Chung-sook prepara um jantar para a Mrs Park. O filho dos Parks resolve montar uma oca no quintal e os pais resolvem dormir na sala. Quando começam a dormir profundamente Chung-sook avisa o filho, a filha e o marido que podem sair do esconderijo. Eles vão embora.
A chuva não dá trégua e quando Ki-taek e os filhos chegam em sua casa ela está alagada. Pegam o podem e vão para um abrigo.
O dia amanhece lindo e é o dia do aniversário de Da-hye. Sua mãe resolve fazer uma festa para ele às 13 hs. Chama Ki-taek para levá-la as compras. Ela sente o cheiro ruim do motorista, o qual seu marido também já sentira e comentara com ela. Convidam várias pessoas e também Ki-woo e Jéssica.
A festa ocorria bem. Até que o marido da antiga governanta consegue sair do Bunker e acerta Ki-woo na cabeça com uma pedra. Jéssica leva o bolo para o jardim onde estava tendo a festa. O marido da antiga governanta pega uma faca e esfaqueia Jéssica. A atual governanta esfaqueia o marido da antiga governanta e Ki-taek esfaqueia o Mr. Park e a festa acaba. Ki-taek se esconde no bunker. Ki-woo é levado ao hospital e depois de um tempo se recupera.
Da família miserável resta Ki-taek que está preso no bunker, a esposa e o filho. Da família dos Parks a esposa, e os filhos que vão embora daquela casa.
O filme Parasita coloca a mão nos conflitos de classes e na desigualdade social; coloca os pés na disparidade representada pela riqueza, através do pensamento navegante, revela a realidade causada pelo desemprego, a pobreza das moradias dos oprimidos, e a tentativa de esconder a sua verdade social nos subsolos abandonados pelas sombras coreanas, que se escondem do brilho das estrelas.
RECEITA
JJAPAGURI
Ingredientes: 200 g de lombo de porco; 2 colheres de sopa de molho de ostra; Sal; Pimenta; 2 colheres de sopa de óleo vegetal; 1 lamen instantâneo coreano sabor chajang (molho de soja preta); 1 udon instantâneo coreano sabor frutos do mar; 600 ml de água; Cebolinha picada a gosto.
Modo de preparo: Em uma tábua de corte, pique a carne em cubos de 2cm. Em uma tigela média, adicione a carne e tempere com o molho de ostra, o sal e a pimenta. Em uma panela média, em fogo alto, adicione o óleo e sele os cubos de carne, por cerca de 1 minuto cada lado. Reserve. Na mesma panela, adicione a água e deixe ferver. Adicione o macarrão instantâneo e mexa até amolecer, por cerca de 30 segundos. Em seguida adicione o lámen e mexa até amolecer. Deixe cozinhar por 3 minutos. Adicione os cubos de carne e os temperos secos. Mexa até ficar homogêneo. Finalize com a cebolinha e sirva.
por Adriana Padoan