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domingo 22 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Para adoçar a vida… Leite condensado!

I – Feto do leite condensado
O nome do francês era Nicolas Appert, um cientista vivendo no conturbado ano de 1820. As descobertas científicas andavam em passos acelerados, a arte agitava e rompia hemisférios desconhecidos, o desassossego de final de século apresentava novos caminhos. Neste ano totalmente singularizado, o francês Appert pesquisava os processos de esterilização e conservação de alimentos, procurando embalá-los em recipientes hermeticamente fechados. Enquanto o francês estudava, a menina de cabelos cor de fogo pulava amarelinha em seu quintal e o cientista observava o princípio das fórmulas do que viria a ser o leite condensado.

II – O nascimento do leite condensado
O estudioso e pesquisador norte-americano Gail Borden viajava por mares sempre navegados; o navio seguia arranhando as ondas e nadando ao lago dos golfinhos; as espumas das águas salgadas datavam os acontecimentos, tudo acontecia no ano de 1853. O inacreditável, porém, revelou-se nessa viagem; as vacas fornecedoras do leite diário adoeceram. O cientista Gail Borden deu inicio ao estudo de um processo de pasteurização do leite estocado no navio, procurando um meio de aumentar a durabilidade saudável do leitinho de cada dia. O estudioso acrescentou açúcar ao leite, considerando que o açúcar é um conservante natural.
Essa busca, essa procura revelou-lhe a beleza do leite condensado, um leite em estado de cremosidade, coisa bonita de se ver. No exato momento da descoberta, a vaca Montana apaixonou-se pelo boi Rondano, ambos da Suécia, e curtindo o amor revelado foram produzir leite condensado; viveram felizes para sempre.

III – Guerra da Secessão
Era primavera nos Estados Unidos da América do Norte. O norte americano andava de mãos dadas com o desenvolvimento da manufatura; fábricas dançavam e apontavam novos tempos; nas pequenas propriedades predominava o trabalho assalariado e livre. No sul americano, blindado pela passagem do tempo, a sociedade embalava as grandes fazendas, principalmente as produtoras de algodão, estruturada pela monocultura e dependendo basicamente do trabalho escravo. O jazz nasceu nos campos nevados pelo algodão; o blues, uma dor infinita no coração, na emoção, na destruição da liberdade, nasceu no cabo da enxada e no suor escorrido pelo corpo e pela vergonha da violência produzida neste século.
O país, em seu todo, mantinha dois sistemas de produção, ambos conflitantes social e economicamente. Nesse meio conturbado, a insatisfação sulista tornava-se áspera, desesperada e feroz. O norte, na outra ponta da corda esticada, tentava abolir a escravidão, levando a nação a viver novos tempos. A tampa do caldeirão, em alta combustão, lançou na terra e no ar a guerra da secessão, ou seja, da separação.
Os soldados nortistas e sulistas, dentro das trincheiras, vivendo o frio e o medo, alimentavam-se, entre outros produtos de latas de leite condensado, distribuindo aos soldados 1.300 calorias de energia. A guerra foi sangrenta, mas o leite condensado saiu da sua simples vida para entrar na lenda gastronômica os Estados Unidos.

IV – Primeira fábrica
No ano de 1857, inúmeros pedreiros com seus serventes, levantaram paredes e colunas entre a terra e o ar, e tijolo por tijolo, construíram a primeira fábrica de leite condensado na Suíça, a empresa Anglo Swss Condensed. Dessa empresa, em passos bem largos, o leite condensado conquistou a Europa, despertando paixões em milhões de pessoas.

V – No Brasil
O tempo sentiu a presença da lua, o desejo banhou-se nos raios de sol, a esperança e visão penetrante no futuro levaram a Nestle a fundir-se com outra marca Suíça, lançando a produção de leite condensado no Brasil. Na época, o leite condensado mais conhecido, usado, consumido na Suíça era Latiere, que significava “vendedora de leite”. A Nestle, sempre atenta ao mercado, criou a famosa latinha ilustrada com a imagem de uma moça, camponesa, com trajes do século XIX.

VI – Leite condensado e a política
O ano de 1945 trouxe ao mundo o final da Segunda Guerra Mundial, trouxe também o desejo profundo de se estabelecer longos períodos de paz, reconstrução, recriação, esperança, amor e fraternidade. No Brasil, o Brigadeiro Eduardo Gomes lançou o seu nome para concorrer à eleição presidencial. Junto com ele veio um novo discurso, novas propostas, rompendo com o medo e a violência; o lema fixava-se no projeto de reconstrução nacional.
Inúmeras mulheres, partidárias do Brigadeiro criaram uma receita de doce usando o leite condensado e o chocolate, doce que seria vendido para arrecadar fundos para a campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes.
Dessa forma espontânea nasceu a receita de um doce que mexe com o brasileiro, principalmente com as crianças e as meninas namoradeiras, desapontadas diante da vida amorosa. Quem nesse país tropical nunca saboreou um brigadeiro em festa de aniversário? O leite condensado é sublime, apaixonante, dono de uma versatilidade que só ele tem. Agora, pegando carona com a sublimação condensada, vamos a receita, por nós escolhida, entre centenas de outras.

Torta de limão siciliano e frutas vermelhas

Ingredientes:

Massa:
4 xícaras(chá) de sucrilhos, 1 colher(sopa) de fubá, 2 colheres(sopa) de manteiga, 1 clara, óleo para untar
Recheio:
1 lata de leite condensado, 1 lata de creme de leite(300 gr), 1 xícara(chá) de suco de limão siciliano, raspas da casca de um limão siciliano, 1 envelope de gelatina em pó sem sabor.
Cobertura:
½ xícara(chá) de água, 2 colheres(sopa) de açúcar, 3 xícaras(chá) de frutas vermelhas(amora, morango e framboesa)

Modo de preparo:
No liquidificador coloque os sucrilhos e triture aos poucos. Transfira para uma tigela, adicione o fubá, a manteiga, a clara e misture até ficar homogêneo. Forre o fundo de uma forma de aro removível média untada com a massa e leve ao forno médio, pré-aquecido, por 6 minutos ou até firmar. Retire do forno e deixe esfriar.
Para o recheio, no liquidificador, bata o leite condensado, o creme de leite, o suco do limão, as raspas e a gelatina preparada conforme as instruções da embalagem até ficar homogêneo. Despeje sobre a massa e leve a geladeira por 3 hs.
Para cobertura, em uma panela, em fogo baixo, coloque a água, o açúcar e as frutas vermelhas. Cozinhe por 3 minutos após levantar fervura. Desligue o fogo e deixe esfriar. Desenforme a torta, coloque a cobertura e sirva.

Por Adriana Padoan