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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Onde morará Alice?

O ano era o de 1974, o movimento feminista, sua meta, proposta, questionamento, invadiram as escolas, as universidades das ruas das principais capitais do país. Os discursos prós e contras subiam e desciam no próprio calor dos conflitos e das injustiças. Havia amor, música, bandas e desfiles.

Em 1973, o filme O Exorcista, escrito por William Peter Blatty, dirigido por William Fredkin, cujo tema era a possessão maníaca em torno de uma garota de 12 anos, envolvendo a família, a religião, o sacerdócio traumatizado e traumatizante, a fragilidade da igreja católica no combate ao diabo.

As bilheterias explodiram em vendas, as filas dobravam esquinas, havia até venda ilegal de ingressos. O lucro, em todo o mundo girou na apresentação de um balancete registrando o faturamento de U$ 441.306.145, uma receita injustificável para época.

Houve um sítio arqueológico onde o padre Lankester Merrin, no Iraque, libera numa escavação a força de Pazuzu, um dos diabos gerados no interior de lendas horríveis.

Do outro lado do mundo, um jovem padre de nome Damien Karras, professor da Universidade de Georgetown tem problemas com sua fé, vive num mundo de dúvidas, ao sentir a doença da mãe.

A personagem Chris Macneil (Ellen Burstyn), está filmando em Georgetown, e aos poucos percebe mudanças dramáticas no comportamento da filha, Regan Macneil (Linda Blair). A partir desse ponto temos os hospitais, a psiquiatria, a psicologia, o padre em conflito, o exorcismo, a fé, a vida e a morte. Considerando, como ponto fundamental, os resultados econômicos, o filme recebeu o Oscar de melhor roteiro e melhor som.

Os estudios da Werner, aproveitando o sucesso do “O Exorcista”, circulando em torno da atriz Ellen Burstyn e sua interpretação, deu-lhe carta branca para apresentar ao estúdio o projeto de um novo filme, simples, revolucionário e formador de opiniões. Ellen encontrou o roteiro de “Alice não mora mais aqui”, escrito por Bob Rafelson. O roteiro apresentava características inovadoras, um ângulo atualíssimo na maneira de rever a sociedade americana a partir dos subúrbios, o drama vivido por uma mulher de 30 anos; a vida nesse filme pertence as pessoas comuns, vivendo a vida amparada pela dificuldade, violência e sobrevivencia. Os atores caminhavam na estrada machista americana; é o drama da mulher vivendo um casamento frustrado, tendo um filho pequeno, e pouquíssimas chances de reconstruir a vida e proporcionar formação a seu único filho.

I – A aceitação
Os estúdios da Werner resolveram arriscar no projeto. Ellen procurou Copolla para dirigir, mas o diretor estava compromissado com o Filme “Poderoso Chefão”, mas indicou-lhe o novato diretor Scossese. O roteirista rastreava o apogeu da Revolução feminista, era uma história que envolvia a maioria das famílias americanas, os personagens vivem dramas comuns e coletivos, uma mulher que entra numa espécie de luta social para assegurar a sobrevivência.

II – O casamento, a vida, a tristeza, o medo.
O filme estava sendo produzido e o movimento feminista agitava o país, de ponta a ponta. O casamento da personagem Alice não apresentava diferenças de milhares de casamentos pelas terras da América do Norte. O marido é um entregador de Coca-Cola, grosso, estúpido, violento. Ela cozinha, costura, cuida do filho e obedece ao marido. Ele a xinga, briga com o filho, critica a comida, pratica um sexo de carência. Ela não é a Alice do País das Maravilhas, em sua vida não há coelhos falantes, rainhas boas e más; há o cheiro de suar, a falta de higiene, os berros do homem que forma e invade os seus dias. A noite, no silêncio abalado pelos roncos do esposo, ela sonha com o divórcio, como condição de reinício de uma nova vida; a realizar um retorno a Monterrey, uma referência de sua infância e onde ela ganhava a vida como cantora.

Uma tarde, num transito meio alucinatório, o marido não observa um sinal vermelho e bate o caminhão, morrendo ao som das garrafas de Coca; não são sinos, mas representam a realidade da vida.

III – O leilão
Depois de enterro, junto com a comunidade onde mora, ela leiloa os pertences que mobiliavam a sua pobre casa. Cada peça vendida é uma possibilidade de ganhar a liberdade.

IV – Ela, a estrada, e os hotéis baratos.
Ao termino do leilão, entra no carro com o filho, deslizando pelo asfalto de estradas sem destino e sem fim. Ela está dentro do carro, o carro corre pelo mundo, não existe economia e dinheiro para refazer a vida. O sonho, a sua meta é chegar a Monterey. A distância parece uma cama elástica, um pula-pula. Para em uma cidade, deixa o filho em um motel barato, e implora por uma vaga de cantora num bar da cidade. À medida que o processo de fuga acontece, Scossese vai, aos poucos, nos mostrando o processo de relacionamento entre mãe e filho: brincadeiras, brigas, discussões, choros, momentos de agonia.

V – O novo dia
O dia amanhece sem novidades na linha do horizonte. Ela canta no bar, o filho permanece trancado no quarto de um motel barato e ela, em sua falta de perspectiva de vida, acaba sendo paquerada por um rapagão chamado Ben, um psicopata casado que agride a esposa e ameaça a vida de Alice. Ela foge com o filho, às pressas, deixando mais uma vez a esperança por trás de suas costas e de uma forma sublime, Scossese mostra a ingenuidade que dá vida ao movimento feminista americano.

A sua chegada a cidade mais próxima procura despertar novas crenças, novas aberturas para a liberdade e a possibilidade de chegar à sonhada Monterey. Tentando conseguir um emprego, apresenta-se aos proprietários de inúmeros tipos de comércio, consegue emprego de garçonete em uma lanchonete; o filho continua em um quarto de um motel. Na lanchonete conhece a colega de trabalho Flô, numa bela interpretação de Diane Ladd e, mais uma vez, envolve-se com David, dono de um sítio nas imediações. Ele vive a encarnação do homem do interior, uma mistura de cantor, poeta, sensível, mas que agride o seu filho pelo seu péssimo comportamento. A ruptura acontece e, mais uma vez, ela mergulha, no espanto, na solidão e, milagrosamente, entra na cidade de Monterey, retornando dessa forma ao seu universo infantil, sem dores, sem mágoa e com muita esperança. Ela abraça o filho, um abraço que indica a possibilidade de reencontrar a felicidade; e o menino, assustado, só lhe pede que o deixe respirar, a coisa mais básica da vida.

A direção de Scossese inicia o filme retornando ao “Mágico de Oz”, onde uma menina, uma proposta de mulher, canta uma canção que determina a temática do filme de 1939. Antes de entrar em casa, ela encontra o espantalho, nem gente, nem homem, procurando um cérebro; um homem de lata desesperado por um coração, para sentir as dores e o entendimento do mundo; um leão encolhido em si mesmo, procurando pela coragem, são fragmentos que formatam o universo de Alice e a luta pela emancipação da mulher. Por outro lado, a coloração do filme aproxima-se de um vermelho sangue, como no início do cinema colorido, sempre presente nos filmes de David O. Selznich, do tipo… “E o Vento Levou (1939) e Duelo ao Sol (1946). Esse retrocesso para apresentar e rememorar um pedaço a história do cinema levando-nos a questionar “onde morará Alice”, no futuro da América?”

Receita

GUACAMOLE
Ingredientes: 1 chumaço pequeno de coentro com grossura de 2 dedos; Meia cebola; 2 tomates – opcional; 1 abacate sem caroço; 1 colher de chá de sal

Modo de Preparo: Pique o coentro, o tomate e a cebola. Esprema o abacate em uma tigela juntamente com o sal. Misture todos os ingredientes e está pronto.

Dica: Se quiser, pode adicionar uma colher de sopa de suco de limão ao guacamole para a mistura não escurecer.

Por Adriana Padoan