I – O cinema brasileiro
O dia 08/06/1896 acordou com o voo das andorinhas. O Rio de Janeiro parecia normalizado; as pessoas trabalhavam nas fábricas, os barcos de pesca tentavam pular as ondas; os atuns namoravam nos buracos das pedras, nos segredos do mar profundo.
A noite cumprimentou a cidade do Rio de Janeiro, mergulhada em esperança. Na rua do Ouvidor, no Salão do Afonso, aconteceu a primeira exibição de cinema na história do país. O filme, com cheiro de novidade, apresentou momentos curtos da vida europeia. O carioca encantou-se, torceu a emoção na altura do olhar espantado; sonhou nas andanças do sono, com fatias da Europa servida em pratos de bolo.
Em 19/06/1898, os irmãos Paschoal e Segreto, na chegada do sol, no corpo de um mar azul e aberto, filmaram cenas do dia a dia na Baia de Guanabara. As parteiras que estavam na praia ampararam o nascimento do cinema nacional.
II – O filme Olga
Não podemos negar que estamos diante de uma grande produção do cinema nacional, em termos de orçamento, de qualidade técnica, de atendimento às necessidades do mercado cinematográfico. O filme pode ser classificado como um drama, contornando as vidas de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, dirigido por Jayme Monjardim, um profissional originário do universo das novelas televisivas.
III – Simplesmente Olga
Em 2004, ano escolhido para comemorar a luta contra a escravidão, a coprodutora Nexus e a Globo Filmes se uniram para produzir o filme Olga, como já dissemos, dirigido por Monjardim, um artista ligado ao mundo das novelas como: “Pantanal”; “Terra Nostra”; “O Clone”; “A Casa das Sete Mulheres”; “América”; “Páginas da Vida” e “Viver a Vida”.
Nós que trabalhamos com a leitura de filmes, sabemos que o cinema corre sobre um trilho ligado à arte de fixar e produzir imagens que nos oferecem a impressão de movimento; já a novela corre sobre o trilho da arte audiovisual, com regras estabelecidas e capítulos diferentes em que as histórias se unem, se amarram. O bom diretor de novelas não significa que suas qualidades se encaixem no trabalho cinematográfico e vice e versa.
A história do Brasil, na época determinada no filme, vive o contexto de sua situação e, ao mesmo tempo, o bailado alucinante que empurra o mundo para caminhos “nunca dantes navegados.
IV – Dados técnicos do filme
O roteiro do filme, escrito por Rita Buzzar, baseia-se na biografia de Olga, do escritor e jornalista Fernando Moraes; a personagem central é interpretada pela atriz Camila Morgado e Luiz Carlos Prestes pelo ator Caco Ciocler. A atriz Fernanda Montenegro representa magistralmente o papel de mãe de Prestes; Osmar Prado vive Getúlio Vargas, papel que desaparece na rapidez em que o personagem participa ativamente da história.
V – O início
Olga Benário nasceu em Munique, na Alemanha em 1908. A sua família, considerando a situação econômica do país, pertence a chamada classe média e burguesa. Seu pai, Leo Benário, advogado, um homem preocupado em atender aos pobres e oprimidos. A sua mãe, porém, era contrária a conduta do marido, chamando-o de “grande advogado das mazelas do mundo”, nesse confronto, a madame Eugenie engolira um pedaço da Alemanha nazista.
A militância política de Olga começara aos 16 anos, no exato instante que o mundo passava por uma lenta combustão. Ao anoitecer, na guarda de São Bartolomeu, saiu de casa, indo participar, com o namorado Otto Braun das manifestações dos trabalhadores em Berlim. O seu coração, a sua crença, combateram as tropas milicianas de extrema direita que conquistaram a República de Weimar. Houve tumulto, agressões físicas, apitos estridentes, e Otto foi preso na Moabit. Na aproximação da lua, nas torres da igreja central, Olga e um grupo de amigos invadiram a prisão e o libertaram. Ela foi denunciada como traidora da pátria. Um ser humano nocivo a pureza do sangue alemão. Na ausência de solução possível, Olga fugiu para Moscou, onde ingressou na Juventude Internacional Comunista. Sentindo a dureza que envolvia a vida, dentro do movimento, participou de cursos sobre política e realizou treinamento militar pesado.
VI – A imagem de Luiz Carlos Prestes
Em Moscou Olga conheceu o brasileiro Luiz Carlos Prestes, um comunista famoso na terra brasileira. As suas ações na pátria perdida por Portugal, desencadearam centenas de ações, textos, discursos revolucionários. Prestes era um homem educado, culto, falava várias línguas, românticos nos primeiros passos de Drumond e Vinicius.
No gabinete da Juventude Comunista, Olga recebeu a missão de viajar para o Brasil a fim de garantir a segurança de Luiz Carlos Prestes que, viajaria ao Rio de Janeiro, liderar a luta antifascista e organizar uma revolução popular. Eles vieram disfarçados como um casal em viagem de lua de mel, na terra onde nasce o samba banhado com as lágrimas dos alambiques.
Durante a viagem ao Brasil, os dois se olharam, dançaram, jantaram, dormiram na mesma cabine e o amor aconteceu. O levante que estava nos planos de Prestes não funcionou e o partido foi derrotado. A vida do casal passa por uma mudança; novas ideias revolucionárias surgiram, mas se perderam no labirinto da política e os dois passaram a ser cassados pela Polícia Federal de Vargas.
VII – Do filme para a novela
A história do Brasil e do mundo foi explorada sem molhar as pontas dos dedos, sem afastar a espuma da superfície, causada pelo sabão. A preocupação maior do filme é a relação amorosa entre Prestes e Olga, cenas de beijos, sexo, confissões sussurradas, declarações de amor, os jantares, as festas, crises de choro, as fugas, a presença da cama afastando o processo político da história. O filme, aos poucos bebe os sucos das novelas, não questionando, nem apresentando, o significado da Intentona Comunista no Brasil, a tentativa revolucionária encabeçada pela Aliança Libertadora Nacional, contra o Governo Vargas; o significado da Coluna Prestes e a participação de mais de 1500 homens marchando vinte e cinco quilómetros pelo interior do país denunciando o aspecto miserável da população, apontando os desmandos políticos, a oposição às oligarquias, as propostas de reformas sociais e políticas, a exigência do voto secreto, reformas educacionais, a obrigatoriedade do ensino primário. Todos esses argumentos passaram em branco.
Por outro lado, que seria fundamental, a necessidade de apresentar os bombardeios em São Paulo, a chegada de Hitler ao poder, na Alemanha, os passeios neuróticos de Mussolini pelas estradas da Itália, a transformação do mundo caminhando em direção ao caos e à violência; essas trajetórias do contexto mundial e brasileiro, também ficaram fora do filme.
VIII – A tragédia tatuada no corpo das novelas
A perseguição de Getúlio contra Luiz Carlos Prestes e Olga termina em 1936, quando o casal é preso. Na prisão, um cenário degradante, Olga anuncia a sua gravidez. O governo Getulista identificado pela ditadura ilimitada, mesmo sabendo da situação de prisioneira, realiza a sua deportação. A judia, recebe como destino e castigo a sua viagem a Alemanha nazista; ação que fora autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça mesmo reconhecendo juridicamente que a prisioneira estava em seu sétimo mês de gestação.
Em setembro de 1936 o navio La Coroña, partiu do Rio de Janeiro, levando Olga Benário e Elise Ewert, ambas deportadas com destino a Hamburgo, na Alemanha de Hitler. O navio zarpava enquanto um menino fazia uma pipa no centro da favela mais próxima. Um pandeiro agitava a sua pele, uma cuíca gemia o cântico chorado da injustiça, um malandro esticava um pano no chão para dormir.
O navio chegou na Alemanha em outubro de 1936 ao som das botas de soldados brutalizados. A Gestapo, polícia nazista, a recebeu e a encaminhou à prisão de Barnimstrabe, em Berlim, onde Olga deu à luz a menina Anita Leocádia Prestes.
O mundo se uniu, as nações pediram por Anita, as bandeiras se agitaram pensando em Anita, e as forças internacionais conseguiram que os nazistas entregassem a criança à mãe de Luiz Carlos Prestes.
Olga passou por várias prisões, inúmeros campos de concentração e, em abril de 1942, no Campo de Bernburg, aos 34 anos, morreu na câmera de gás.
IX – Seu último olhar sobre a esperança em forma de carta
Em sua última carta ainda reclama da situação do mundo onde viveu: “Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade…É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos…Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes?…De ti aprendi; querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo…Agora vou dormir para ser mais forte…
Beijo-os pela última vez”.
Meus leitores, o filme Olga merece ser assistido. É triste, é elevado. No entanto, nesta vastidão de mundo, reencontrar-nos-emos com Olga, onde a injustiça lacrimejar de um bago de uva; onde o amor esconder-se em torno da lua; onde a paz não receber a luz do sol; onde o sorriso se transforme numa pedra de gelo.
Até a próxima.
RECEITA
ABÓBORA MORANGA COM CARNE SECA, BANANA COM BACON E COUVE
Ingredientes: 2 Abóbora Moranga; 800 g de carne seca;1 cebola média picada; 4 colheres de sopa de óleo; 2 colheres de sopa de vinagre; ½ pimentão verde picado; 1 colher de sopa de salsinha; 2 colheres de sopa de cebolinha, 1 maço de couve; 2 dentes de alho; sal e pimenta a gosto; 4 bananas da terra; 8 fatias de bacon
Modo de Preparo:
1. Cortar a carne seca em cubos de 5 cm e lavar bem, colocar de molho em água fria e levar à geladeira por 1 noite. Escorrer bem a água.
2. Colocar os cubos de carne em uma panela de pressão, cobrir com água fria, tampar e cozinhar em fogo baixo por 40 minutos. Deixar esfriar totalmente sem abrir a panela. Retirar a carne da panela e eliminar o liquido de cozimento, desfiar finamente a carne dispensando as partes gordurosas.
3. Cortar a parte superior das abóboras e com uma colher retirar as sementes, pincelar a parte externa com óleo e temperar internamente com um pouco de sal e pimenta do reino, colocar as abóboras em uma assadeira, cobrir com papel alumínio e levar ao forno por cerca de 1 hora ou até que a polpa das abóboras esteja macia. Retirar do forno e reservar.
4. Descasque as bananas da terra e corte-as ao meio no sentido do comprimento, enrole cada metade com uma fatia de bacon, coloque em uma assadeira e leve ao forno para que o bacon fique crocante.
5. Com uma colher, retire toda a polpa de uma das abóboras , coloque em uma frigideira 2 colheres (sopa) de óleo e 1 colher (sopa) de cebola picada, refogue e acrescente a polpa da abóbora, refogue amassando com um garfo para obter um purê, tempere com sal e pimenta do reino e salpique com um pouco de salsinha picada e cebolinha, leve ao forno baixo somente para manter aquecido, e sirva o purê à parte.
6. Coloque em uma panela 4 colheres (sopa) de óleo e acrescente a carne desfiada, refogue bem até que a carne fique bem sequinha, acrescente o pimentão picado bem fino e a cebola picada restante, refogue por 10 minutos, regue com o vinagre misture bem e deixe evaporar, acerte o sal e coloque o coentro e cebolinhas restantes, coloque a carne dentro da abóbora reservada e sirva com a couve refogada em alho e óleo, com as bananas ao bacon e com purê de abóbora reservado.
Por Adriana Padoan