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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O velho e o novo

I – Meu nascimento
O meu nascimento não demorou mais do que um suspiro de relógio. Senti uma pulsão muito forte. Entrei num túnel exageradamente iluminado. Deslizei com uma rapidez incrível. Vi estrelas gerando-se, astros sendo feitos com muito amor, galáxias em formação. Cai no topo do Himalaia. Dali, sem exagero, dava para ver o mundo.

II – O mundo
O mundo se parece, à primeira vista, um cadinho em ebulição. Vi gente correndo, estudando, pensando, amando, lutando, trabalhando, fazendo mais gente. Na parte esquerda, do Pico do Himalaia, havia um desgastado calendário registrando o dia 31 de dezembro de 2020. Sentado numa cadeira feita de esmeralda, um velho bonito, barba branca, de olhos azuis, roupas de linho branco, vivia seus últimos instantes, neste mundo demasiadamente estranho. Um faisão feito de rubi e mais dezessete pedras preciosas, sobrevoou minha cabeça, movimentos lindos, arrojados e por fim, acomodou-se numa coluna de cristal.

III – Faisão dourado
O pássaro levantou a cabeça. Ajeitou a plumagem, limpou o bico na fruta de turmalina, encarou-me e começou a cantar a minha história. Você é o Ano Novo, a meia noite sucederá o Velho Ano que se vai. O planeta Terra resolveu comemorar a sua chegada lá pelos tempos de 64 antes de Cristo. Foi assim: existia e vivia um imperador romano chamado Júlio César. Era um guerreiro, conquistador, apaixonado pelos dias, noites, e, durante a madrugada, apaixonado por lindas mulheres. Ele estava cansado dos conflitos vividos nas guerras; os seus soldados “semblanteavam” esgotamento nervoso. O imperador, durante vários momentos, juntou os dias, as semanas, os meses; deste modo criou um novo calendário chamado Juliano. Reuniu o povo, os soldados, as crianças, as mulheres para festejar o novo ano que, a partir dali, nasceria em nome dos novos tempos. Fogueira, comida, dança, alegria.

IV – Jano
O primeiro mês do novo calendário chamar-se-ia janeiro, em homenagem ao deus Jano. Para os gregos representava duas portas de ouro, a porta de entrada e a porta da partida. Esse deus tinha duas faces, uma voltada para frente, para o futuro; rosto lindo, formado por decisões e inícios esperançosos. A outra face voltada para traz, rosto indefinido, configurava o passado, tudo meio desarranjado.

V – O homem e o papa
Na sequência da sua vida, vamos dar um passeio pela Cidade de Bolonha, no século XVI. Nessa cidade havia um estudante de direito chamado Ugo Bencompagni. Fora apaixonado pela jovem Madalena Fulchini. A história de amor dos dois mexeu com a imaginação do povo da Bolonha. Esse amor resultou no nascimento de um filho. A vida andou, disparou, correu pela lateral dos acontecimentos, transformando o advogado Ugo, no Papa Gregório XIII.
Com o auxílio do amigo e médico Luigi Giglio, Gregório criou o calendário Gregoriano, que marcou o nosso destino até os dias atuais. Por meio desse calendário, o seu nascimento na condição de Ano Novo, misturou a religião às festanças pagãs de Júlio Cesar. O seu nascimento passou a ser marcada por comida, bebida, fogos e promessas de mudanças de vida e destino.

VI – França
A França tem história, fez história, remexeu a gastronomia alterando o nome de sua festa para Reveillon, palavra que estava dormindo nos dicionários. A palavra, forte em sua significação, amarra-se aos desejos de renovação, esperança, transformações…

VII – Os símbolos
Antes que você assuma a virada do tempo, é importante saber que a humanidade desenvolveu uma série de amuletos da sorte, na tentativa de buscar proteção diante do Ano Novo, do desconhecido.

VIII – A Romã
A romã é uma fruta linda. Essa fruta, coberta de mistério, já estava no mundo há 2.000 antes de Cristo. Os homens, as mulheres, as crianças sempre a viram como símbolo da fertilidade, da esperança, da força interior.
O Profeta Moises libertou o povo judeu do cativeiro do Egito; andou por quarenta anos buscando o seu norte em direção a Canaã. Terra habitada por milhares de romanzeiras. O rei Salomão amava passear pelo jardim do seu palácio, mas a sua paixão verdadeira era o pomar repleto de romanzeiras. Três sementes de romã garantem inteligência, a criatividade, espiritualidade.

XIX – As lentilhas
O faisão bateu suas asas para retornar ao domínio do corpo. As penas de sua cabeça estavam eriçadas. Nesse instante, contou-me a história da lentilha e porque a usavam para festejar o meu nascimento. A lentilha, ao que tudo indica, surgiu no Egito, na Síria, espalhando-se a partir dessas regiões, para todo o mundo. Na bíblia, aparece em vários momentos, sendo marcante, no entanto, na fome estonteante de Esaú, filho de Isaac, irmão de Jacó, que troca a sua primogenitura por um prato de lentilhas.
No período da pedra polida, um menino achatou os grãos de lentilha, dando-lhe o formato de uma pequena moeda. Na Grécia antiga era alimento da nobreza, dos privilegiados, dos poderosos. Por esse motivo, do nascer de um novo ano, tornou-se comum colocar um prato de lentilha sobre a mesa da ceia. Acredita-se que a pequena lentilha representa o acesso aos bens materiais, ao poder, a filosofia, a inteligência, ao racionalismo.
A meia noite, o Ano Velho pegou a sua mala, despediu-se do mundo, da natureza, do dia e da noite; partiu levado por uma nuvem com formato de girassol. O Ano Novo, ainda menino, assumiu o novo tempo, assumiu as novas horas embaladas pelos seus segundos, e a vida renasceu linda, bela, feliz, do jeitinho que todas as vidas devem ser.
Feliz Ano Novo!

Receita
Salada de lentilha
Ingredientes:
2 xícaras de lentilha; 5 xícaras de água; 2 dentes de alho; 1 pimentão verde picado; 1 cebola roxa em rodelas finas; 1 cebola pequena descascadas com 2 cravos espetados; 1 e ½ cenoura picada; 1 tomate em cubos, suco de 1 limão, 1 colher de azeite, sal e pimenta.

Modo de fazer:
Em uma panela coloque a lentilha, a água, a cebola descascadas com os cravos espetados, deixe ferver e cozinhe em fogo alto por 5 minutos. Em seguida abaixe o fogo e cozinhe até ficar macia (aproximadamente 40 minutos). Em seguida escorra a lentilha e reserve.
Em outra panela refogue a cebola roxa, em seguida junte o pimentão, a cenoura e deixe por mais 5 minutos. Por último misture o refogado e a lentilha, tempere com azeite de oliva, sal, limão e a pimenta.

Por Adriana Padoan